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Política

Lula fecha metade do mandato com oscilação em popularidade e possível reforma ministerial

Com Bolsonaro ainda presente nos discursos dos petistas, presidente tenta se descolar da polarização persistente

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Foto: Ricardo Stuckert/PR
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A primeira metade do terceiro governo Lula foi marcada por oscilação na popularidade do presidente, a manutenção de uma polarização com o bolsonarismo e está diante de uma reforma ministerial.

A partir de entrevistas e de números de pesquisas, o SBT News traçou uma avaliação do período de Luiz Inácio Lula da Silva no comando do país, depois de quatro anos de Jair Bolsonaro, um adversário recorrente ainda nos discursos de integrantes da Esplanada e do PT.

“O PT publicou nos últimos dias uma nota sobre uma avaliação do governo Lula. O texto faz referências o tempo todo a Bolsonaro, sem mostrar as realizações do próprio governo Lula”, afirmou o cientista político Tiago Valenciano, em entrevista ao programa Poder Expresso, do SBT News.

“Fica claro que o PT quer continuar na disputa nós contra eles, a luta contra Bolsonaro, que está inelegível. Se o próprio partido esquece de apresentar aspectos positivos do governo, quem fará?”

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A polarização, por sua vez, não está presente apenas no discurso petista mas nos próprios números das pesquisas de opinião. Levantamento da Quaest ao longo dos anos 2023/2024 mostra uma divisão persistente e igualitária entre quem aprova e desaprova Lula, principalmente nos últimos 12 meses. Em fevereiro de 2024, o presidente tinha 51% de aprovação. Terminou o ano com 52%, dentro da margem de erro de 1 ponto percentual.

O melhor momento de Lula neste ano foi em julho. No final daquele mês, o presidente fez um pronunciamento na televisão em que falava em crescimento na economia, retomada de programas sociais e de crescimento dos empregos com carteira assinada. Em outubro, entretanto, o índice de aprovação voltou ao patamar de 51% e um aumento da desaprovação de 43% para 45%, fechando o ano em 47% de rejeição.

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A avaliação foi melhor no primeiro ano, justamente quando a sombra de Bolsonaro ainda estava presente na Esplanada, principalmente depois dos atos violentos em 8 de janeiro contra os prédios do Congresso, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto. Lula iniciou o mandato com mais de 55% de aprovação, chegando a um pico de 60% em agosto de 2023, percentual não mais alcançado ao longo dos últimos 16 meses.

Um dos pontos destacados como positivos por Valenciano é a política externa de Lula, principalmente com os resultados colhidos no G20, que ocorreu no Rio no mês de novembro. O Brasil conseguiu aprovar uma agenda de taxação dos super-ricos, aliança global contra a fome e a pobreza e regras para desenvolvimento sustentável (clima). “O governo fechou o ano com uma agenda positiva na geopolítica internacional.

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Lula visitou 13 países neste ano, contra 24 em 2023. Com o acidente sofrido no banheiro do Palácio da Alvorada, em outubro, Lula deixou de cumprir agendas na Rússia, no Azerbaijão e no Peru. Para 2025, a previsão é de pelo menos sete viagens internacionais. Considerando que 2026 será um ano eleitoral, quando o foco estará na política nacional, Lula pode não chegar mais ao número de viagens feitas em 2023.

“De fato, a preocupação com a geopolítica internacional e com toda essa repercussão que o Brasil tem no globo, com a cúpula do G20 vindo para o país, com as conversas com diversas nações, a diplomacia internacional melhorou bastante. Esse foi um dos eixos. Foi um dos focos que Lula se debruçou, até porque ele já vinha fazendo isso quando assumiu os dois primeiros mandatos na Presidência da República”, ressalta Tiago Valenciano.

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Apesar de resultados positivos na economia, como redução do desemprego e aumento de trabalhadores com carteira assinada, parte da população permanece insatisfeita com a renda e o poder de compra.

“O brasileiro está de olho no bolso, no salário. E de alguma forma o governo não está mostrando respostas. As pesquisas, independentemente do instituto, deixam isso claro”, afirma o cientista político.

Pesquisa Quaest de dezembro, a mesma que mostra a aprovação geral de 52%, aponta que 61% dos entrevistados acredita que o patamar financeiro atual está abaixo do esperado. Há uma escala a partir das faixas de renda. A aprovação é maior, 63%, entre quem ganha até dois salários mínimos, que vai caindo para 48% para quem recebe de dois a cinco salários, e para 39% para os que recebem além desse valor.

Eleições municipais

O PT mostrou fragilidade nas eleições municipais deste ano, uma indicação da fragilidade da legenda em relação a nomes para além de Lula. O partido só levou uma capital, Fortaleza, e mais 251 prefeituras, o que aponta um vácuo de lideranças na legenda.

Algo que ficou ainda mais evidente com o anúncio da primeira cirurgia na cabeça que o presidente se submeteu depois do acidente no banheiro da Esplanada, em 10 de janeiro. Horas depois, petistas começaram a temer uma substituição imediata de Lula: o nome mais óbvio era o do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

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A dificuldade de forjar nomes para além do de Lula é tamanha, que há um desespero em relação a um substituto já para 2026. A questão é que o desempenho de Haddad, por ser ministro da Fazendo, está ligado à economia. Mas, para interlocutores petistas ouvidos pela reportagem, o cenário é positivo para os próximos dois anos com crescimento econômico, o que deixaria Haddad bem posicionado.

O que pesaria contra o ministro é o fracasso na reeleição à prefeitura de São Paulo, em 2016, e a derrota para Bolsonaro em 2018, entretanto, sempre acompanharam as críticas sobre a resistência de Haddad com a política.

Reforma ministerial

Um próximo desafio para Lula é uma provável reforma ministerial para acomodar aliados. As trocas podem envolver até

O primeiro personagem a ser trocado é o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta. A probabilidade é que ele seja trocado pelo marqueteiro Sidônio Palmeira.

Outras pastas como da Saúde, da Defesa, das Minas e Energia, da Agricultura, além da de Desenvolvimento, Indústria e Comércio podem sofrer trocas.

Uma conta que já está sendo feita na nova composição da Esplanada dos Ministérios, é a necessidade de acomodar o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que deixa o cargo no final de janeiro de 2025. Outro cotado, para uma vaga também é o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Os ministérios que eles ocupariam não estão definidos.

Na balança para comodar Lira, o presidente calcula a atuação dele na Câmara, onde ele atuou como um apoiador e algoz do governo em momentos distintos.

No último mês de janeiro, o governo conseguiu aprovar a reforma tributária e parte importante do pacote de redução de gastos, por mais que tivesse que ceder em alguns pontos. A guerra, entretanto, ainda está aberta com a questão das emendas, uma queda de braço entre Arthur Lira e o ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino.

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Influência de Dino e Segurança Pública

A cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca Dino como uma das personalidades políticas do ano, em razão do embate que travou com o Congresso.

“Em seu primeiro ano como ministro do STF, Flávio Dino esteve nos holofotes do cenário político mais de uma vez ao assumir protagonismo na relação do Congresso com o Judiciário e o Executivo. Ele capitaneou a exigência por mudanças significativas no encaminhamento das emendas parlamentares. Mesmo sendo depois chancelado pelos seus colegas de Corte, foi Dino quem deu o primeiro passo para uma modificação necessária na destinação desses recursos, o que ele sabia que não aconteceria sem uma grande batalha com a Câmara e o Senado”, pontuou ela, em entrevista ao Poder Expresso.

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Por fim, o governo, por mais que tentasse, ainda não conseguiu imprimir uma marca na questão da segurança pública. A PEC da Segurança, em tramitação no Congresso, apresenta resistência dos governadores da oposição, algo já apresentado nos últimos dias em relação ao decreto presidencial que tenta regular a força das polícias. Por mais que envolva agentes federais, as novas regras vinculam repasses de verbas à adoção das medidas pelos estados, que gerou a grita dos gestores estaduais.

Governadores de diversos estados, como Goiás, Minas Gerais, Distrito Federal e Rio de Janeiro, criticaram publicamente o decreto, que classificaram como um “presente para os criminosos”.

O embate também sinaliza para a dificuldade do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, em dialogar com os estados governados pela oposição. A própria resposta dele após as críticas, ao defender a restrição da força policial e dizer que o decreto foi um “texto de consenso”, demonstra a relação frágil e tensionada com os governadores que não integram a base petista.

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