Quem mandou matar Marielle e qual a motivação do crime? Veja os novos detalhes revelados pela PF
Inquérito do caso foi concluído seis anos após o assassinato da vereadora; suspeitos foram presos
A Polícia Federal (PF) concluiu a investigação sobre o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em 2018. Em relatório entregue à Justiça neste domingo (24), os investigadores apontaram quem foram os mandantes, os executores e a motivação do crime. Três novas prisões foram feitas.
O crime ocorreu no dia 14 de março. Na data, Marielle, de 38 anos, voltava de um evento na Lapa quando o carro em que estava foi atingido por vários disparos. Dos tiros, quatro atingiram a vereadora, sendo três na cabeça e um no pescoço, e três o motorista. Fernanda Chaves, assessora de Marielle, também estava no veículo, mas sobreviveu.
A arma usada no assassinato foi uma pistola 9 milímetros, segundo a polícia. Desde o início, os investigadores apontaram que o crime foi premeditado, uma vez que, pela direção dos disparos contra o carro, os assassinos sabiam onde Marielle estava sentada, mesmo com os vidros do veículo cobertos com película escura.
A suspeita foi confirmada logo depois. Em 2019, a polícia chegou ao executor da morte de Marielle: o ex-policial militar Ronnie Lessa. Ele foi preso pela participação nos assassinatos e condenado, em 2021, a quatro anos e meio de prisão pela ocultação das armas que teriam sido usadas no crime. Este ano, Lessa revelou os mandantes.
Afinal, quem mandou matar Marielle Franco?
De acordo com as investigações da PF, a morte de Marielle foi encomendada pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão. Ambos foram presos na manhã de domingo (24), juntamente com o delegado Rivaldo Barbosa, acusado de ajudar a planejar o crime e atrapalhar as investigações. Os três nomes constam na delação de Ronnie Lessa.
Quem executou o crime?
O crime foi cometido por Lessa, autor dos 13 disparos que mataram Marielle e Anderson. O ex-polícia militar Élcio de Queiroz também foi preso, apontado como motorista do veículo clonado que perseguiu o carro de Marielle. A dupla foi presa no dia 12 de março de 2019.
Além deles, Maxwell Simões Corrêa, o "Suel", também foi preso acusado de participação no assassinato. Ele foi acusado por atrapalhar as investigações por ajudar a sumir com a arma do crime. Neste ano, Edilson Barbosa dos Santos, o "Orelha", foi detido apontado como dono de um ferro-velho que colaborou com o desmanche do carro usado no crime.
Em delação, Lessa informou que os irmãos Brazão ofereceram um loteamento e o comando de grupos paramilitares como forma de pagamento para o assassinato.
Por que Marielle foi morta?
As motivações para o assassinato de Marielle, segundo as investigações da PF, são diversas. No inquérito final do caso, ao qual o SBT News teve acesso, os investigadores apontam desde divergências políticas entre os irmãos Brazão e Marielle até a atuação da vereadora contra grilagem de terras em áreas de milícia na Zona Oeste do Rio.
Na delação, Lessa afirmou que um projeto de lei aprovado em 2017 na Câmara Municipal do Rio para regularizar ocupações clandestinas foi o possível "estopim". Marielle votou contra a proposta, o que, conforme depoimento de testemunhas, deixou Chiquinho Frazão furioso. O projeto chegou a ser promulgado, mas foi anulado pela Justiça logo depois.
"Percebe-se que tais leis eram de extrema importância para o vereador, uma vez que produziria efeitos justamente nas áreas do seu interesse eleitoral, impactando de maneira positiva sua imagem perante milhares de eleitores que buscavam regularizar seus imóveis. Por outro lado, elas também favoreceriam grupos criminosos que exploram a invasão de terras e a construção civil em suas respectivas áreas de influência", diz o relatório.
Como o crime foi planejado?
Ao que tudo indica, o assassinato de Marille foi planejado ao longo de seis meses. Conforme o relatório da PF, a primeira reunião para discutir o tema ocorreu em setembro de 2017, nas proximidades de um hotel na Barra da Tijuca (RJ). Lessa foi contatado na época e, meses depois, se reuniu com Domingos Brazão, que apresentou a recompensa para o crime. Ele também pediu que a execução fosse feita fora do trajeto para a Câmara.
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Lessa passou, então, a monitorar Marielle, enquanto o grupo levantava os itens necessários para o assassinato – arma e carro. Em 2018, um informante do ex-PM compartilhou que a vereadora estaria presente em um evento no dia 14 de março – oportunidade para o crime. Com isso, o atirador acionou Queiroz e ambos partiram para a emboscada.
O plano foi encoberto pelo delegado Rivaldo Barbosa, de modo a garantir a impunidade dos executores e dos mandantes do crime. O agente havia assumido o Departamento de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro na época, pouco antes de tomar posse, um dia antes do crime, como chefe da corporação. Ele foi responsável por atrapalhar as investigações.
"Conclusão de investigação representa um triunfo do Estado brasileiro"
Após as novas prisões, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que a conclusão das investigações é um triunfo do Estado brasileiro contra a criminalidade organizada. "Esta etapa mais importante das investigações foi vencida, após mais de cinco anos de investigações infrutíferas. Isso mostra que o crime organizado não terá sucesso aqui, porque temos um polícia forte e efetiva", disse.
Na última semana, Lewandowski havia comunicado que a colaboração premiada de Lessa, que tramitava em segredo de Justiça, havia sido homologada. À ocasião, o ministro adiantou que a participação do ex-PM funcionou como um meio de obtenção de provas, com elementos para a solução do assassinato da vereadora Marielle Franco.