Polícia mata uma pessoa a cada 9 horas e meia em São Paulo; aumento é de 78%
Das mortes em decorrência de intervenção policial, a Polícia Militar foi responsável por 91,2% dos casos
No primeiro bimestre deste ano, em média, a violência policial matou uma pessoa a cada nove horas e meia no Estado de São Paulo, governado por Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Foram registrados 148 mortes em decorrência de intervenção policial, o que representa um aumento de 78,3% comparado ao mesmo período do ano passado, que contabilizou 81 casos de mortes pelas forças policiais, segundo levantamento do SBT News com dados do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (Gaesp) do Ministério Público de São Paulo (MP-SP).
Este começo de ano foi o que as polícias mais mataram em quatro anos. Em 2020, durante o governo João Doria, foram registrados 187 mortes.
Veja:
No ano de 2021, em relação a 2020, houve uma primeira queda na letalidade policial.
Em seguida, em 2022, as mortes caíram devido ao aumento de câmeras corporais instaladas nos uniformes dos policiais, pertencente ao programa Olho Vivo. O atual governador, Tarcísio, é crítico da medida.
Segundo um relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da Unicef, da ONU, entre 2021 e 2022, nos 62 batalhões da Polícia Militar que aderiram às câmeras, houve uma redução de mortes causadas pelos militares de 76%. Nos demais batalhões sem o equipamento, a queda foi de apenas 33%.
Além disso, o número de PMs vítimas de homicídio, no horário de trabalho, diminuiu de 18, em 2020, para 4, em 2021, e passou para 6, em 2022. São os menores números registrados em toda a série histórica.
Quem puxa o gatilho
Enquanto a Polícia Civil foi responsável por sete dos casos e a Guarda Civil Metropolitana (GCM) por seis, a Polícia Militar causou 135 mortes, o equivalente a 91,2% do total. O aumento é de 95,6% em comparação com 69 ocorrências em janeiro e fevereiro de 2023.
Por um lado, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) argumenta que as mortes ocorreram em confronto com a polícia, incluindo a do líder de uma facção criminosa.
Por outro, um relatório da Ouvidoria de Polícia de São Paulo e de organizações da sociedade civil denunciou casos de execução sumária pela PM. Há pelo menos cinco possíveis mortes sumárias, nos dias 7 a 9 fevereiro, ocorridas na Baixada Santista.
+ Ouvidoria da PM vai voltar à Baixada Santista para investigar série de mortes
Escolha pela letalidade
No dia 21 de fevereiro, o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, trocou 34 dos 63 coronéis da PM paulista.
O movimento ocorreu em meio a 3ª fase da Operação Verão, na Baixada Santista, onde 41 pessoas foram mortas por policiais militares em serviço.
Oficiais ouvidos pelo SBT News apontam que críticas do subcomandante da PM exonerado, José Alexander de Albuquerque Freixo, à letalidade policial na Operação Verão foram um dos motivos para a saída dele do cargo.
Entre os militares trocados, estão oficiais com perfil mais técnico, que não concordam com o aumento da violência nas ações policiais e defendem o uso de câmeras corporais em serviço.
A tendência agora, segundo as fontes do SBT News, é a PM paulista matar ainda mais.
O que diz a SSP
Em nota enviada ao SBT News, a SSP afirma:
"A SSP não comenta pesquisas cuja metodologia desconhece, e ressalta que os dados oficiais sobre as mortes decorrentes de intervenção policial serão publicados de acordo com o cronograma previsto.
Em janeiro, foram registradas 46 ocorrências desta natureza no Estado, o que representa 0,2% do total de 16.811 presos/apreendidos no período.
As forças de segurança do Estado são instituições legalistas que atuam no estrito cumprimento do seu dever constitucional. As Corregedorias das instituições estão à disposição para formalizar e apurar toda e qualquer denúncia contra os agentes públicos, incluindo a citada pela reportagem.
Os casos de mortes em decorrência de intervenção policial são consequência direta da reação violenta de criminosos à ação da polícia. A opção pelo confronto é sempre do suspeito, que coloca em risco a vida do policial e da população. Todas as ocorrências são rigorosamente investigadas pelas polícias Civil e Militar, com acompanhamento do Ministério Público e Poder Judiciário.
A pasta investe permanentemente na capacitação dos policiais, aquisição de equipamentos de menor potencial ofensivo, e em políticas públicas para reduzir a letalidade policial. Os cursos ao efetivo são constantemente aprimorados e comissões direcionadas à análise dos procedimentos revisam e aprimoram os treinamentos, bem como as estruturas investigativas."