PF vai apurar se Mauro Cid vazou vídeo editado sobre reunião golpista liderada por Bolsonaro
Polícia Federal esclareceu que "material veiculado foi disponibilizado em link de acesso aberto ao público"; STF liberou imagens na íntegra nesta sexta (9)
Uma conta do Google Drive com dados do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), liberou acesso público a um vídeo editado sem trechos em que o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), diz que é preciso fazer algo antes da eleição de 2022 para impedir que o ex-presidente deixe o poder.
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A PF vai apurar por que motivo essa conta, aberta com dados de Cid, liberou acesso a imagens editadas da reunião ministerial de 5 de julho de 2022, quando Bolsonaro cobrou que membros do alto escalão da gestão passada divulgassem informações falsas com ataques às urnas eletrônicas.
A conta no Google Drive foi criada em 6 de julho de 2022 e aparece com o e-mail de Cid que está nos inquéritos em que ele é alvo de investigação.
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Outros trechos estão no inquérito da PF que baseou a operação dessa quinta que atingiu o ex-presidente e os seus principais aliados.
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro fez acordo de delação premiada com a PF no ano passado. No entanto, os investigadores apontaram que ele não entregou tudo que tem sobre a ação golpista de Bolsonaro.
A PF deve apurar se ele liberou acesso ou alguém com a senha fez isso para atrapalhar a investigação e propagar a ideia de que Bolsonaro foi vítima de perseguição.
Conforme fontes a par da investigação, se ficar comprovado que foi Cid quem tornou público o acesso ao vídeo, o militar poderá perder algumas das concessões feitas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que revogou a prisão do tenente-coronel.
Após a divulgação dos trechos editados, o Supremo liberou a íntegra do vídeo.
O SBT News procurou a defesa de Cid, que disse não ter "nada a declarar por ora".
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A reunião golpista
O encontro de Bolsonaro com membros do governo teve participação de: Anderson Torres (então ministro da Justiça), Heleno, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (então ministro da Defesa), Mário Fernandes (então chefe-substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República) e Walter Souza Braga Netto (ex-ministro chefe da Casa Civil e futuro candidato a vice-presidente da República).
Filmada a pedido do então presidente, a reunião é uma das principais provas que a PF obteve sobre o planejamento de um golpe de Estado por Bolsonaro e seu núcleo militar.
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Operação investiga tentativa de golpe de Estado
Deflagrada nessa quinta (8), a Operação Tempus Veritatis cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão em investigação sobre tentativa de golpe de Estado no Brasil, em 2022, para manter o ex-presidente Bolsonaro no poder.
A força-tarefa mirou Bolsonaro, que teve passaporte apreendido, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, militares de alta patente e ex-assessores do núcleo duro bolsonarista.
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Também foram alvos ex-ministros como Braga Netto, Heleno, Torres, Nogueira, ex-comandante do Exército, e Almir Garnier, ex-comandante da Marinha.
Três militares foram presos na ação da PF: o coronel da reserva do Exército Marcelo Câmara, ex-ajudante de ordens do ex-presidente, o major Rafael Martins de Oliveira, das Forças Especiais do Exército, e o coronel do Exército Bernardo Romão Correa Neto.
Além deles, também houve mandado de prisão preventiva contra Filipe Martins, ex-assessor de Assuntos Internacionais da Presidência no governo passado.
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Bolsonaro nega plano de golpe
A defesa do ex-presidente negou a existência de um golpe de estado e criticou a operação da PF. Em comunicado divulgado ontem, horas após a ação, advogados afirmaram que os mandados foram recebidos com "indignação e inconformismo".
"O ex-presidente jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam. A despeito disso, desde março vem sendo alvo de repetidos procedimentos, que insistem em uma narrativa divorciada de quaisquer elementos que amparassem as graves suspeitas que repetidamente lhe vem sendo impingidas", disse trecho do posicionamento.
*Texto atualizado às 12h30