Caso Vitória: Ministério Público denuncia Maicol pelo assassinato da adolescente
Polícia Civil vai apurar em novo inquérito se acusado teve ajuda na ocultação do corpo; material genético de outro homem foi encontrado em carro usado no crime

Emanuelle Menezes
Alvaro Nocera
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) denunciou, nesta terça-feira (29), Maicol Antonio Sales dos Santos pela morte da adolescente Vitória Regina de Sousa. Ele foi denunciado por quatro crimes: sequestro qualificado, feminicídio, ocultação de cadáver e fraude processual feita três vezes.
+ Maicol descobriu que foi filmado e pesquisou "como limpar cena de crime"
A promotoria também pediu que a prisão temporária do suspeito seja convertida em preventiva, quando não há prazo para sair da cadeia. A prisão temporária de Maicol vence no próximo dia 3 de maio e, agora, um juiz deve avaliar se ele continua detido.
Para o MP, Maicol agiu sozinho na morte da adolescente. Vitória desapareceu na madrugada do dia 27 de fevereiro e foi encontrada morta uma semana depois, em um matagal de Cajamar, na Grande São Paulo. Ainda assim, a promotoria pediu que a Polícia Civil abra um novo inquérito para apurar se ele teve ajuda na ocultação do corpo da jovem.
Isso porque a perícia da Polícia Técnico-Científica encontrou um terceiro material genético dentro do carro de Maicol. O resíduo, que é de um homem ainda não identificado, foi achado na porta dianteira do veículo.
O Ministério Público destacou que caso os investigadores encontrem outros indícios que mostrem que houve participação de uma terceira pessoa no caso, será feita a comparação do material genético achado no carro com o do novo suspeito. O resíduo, porém, pode ser de alguém que andou no veículo antes do crime ou, até mesmo, uma mutação genética ocorrida a partir do material de Maicol e Vitória.
Relembre o caso
1. Como Vitória desapareceu?
Vitória trabalhava como operadora de caixa em um restaurante de shopping, no centro de Cajamar, na Grande São Paulo. Como voltava tarde da noite, costumava ser buscada pelo pai no ponto de ônibus. No dia 26 de fevereiro, o carro da família estava quebrado e ela teve que fazer o trajeto sozinha.
O trajeto de uma hora exigia que ela pegasse dois ônibus. Enquanto aguardava o primeiro, ela demonstrou medo em mensagens enviadas a uma amiga: "Tem uns meninos aqui do meu lado, tô com medo".
Vitória estava no bairro de Polvilho e seguiria para a região de Ponunduva. O ônibus chegou, e a jovem avisou que os suspeitos embarcaram com ela: "Os dois pegaram, o outro acabou de vir pra trás".
Imagens de uma câmera de segurança mostram Vitória no ponto de ônibus e os rapazes ao redor. Ela entra no veículo. Pouco depois, tenta tranquilizar a amiga: "Amiga, tá de boa, nenhum desceu no mesmo ponto que eu, então tá de boaça".

Segundo o motorista do coletivo, Vitória desceu sozinha no ponto de sempre, em uma estrada de terra no bairro Ponunduva, região de chácaras onde mora com a família.
A jovem também contou para a amiga, em áudios, que um carro passou devagar e os ocupantes a chamaram de "vida", o que a deixou assustada. Logo depois, parou de responder.
2. Corpo foi reconhecido?
Após uma semana de buscas, o corpo de Vitória foi encontrado em uma região de mata de Cajamar. De acordo com o delegado Aldo Galiano Junior, da Seccional de Franco da Rocha, a família da jovem não teve dúvidas ao fazer o reconhecimento do corpo.
A adolescente tinha uma tatuagem de borboleta na perna, que foi reconhecida pelos parentes, e usava um piercing no nariz.

+ Pai relata últimas conversas com Vitória antes do crime
3. Qual a causa da morte?
Vitória foi encontrada degolada, com o cabelo raspado e vestindo apenas um sutiã, segundo o delegado. A adolescente tinha três ferimentos causados por faca: um no tórax, um no pescoço e um no rosto. De acordo com o laudo do Instituto Médico Legal (IML), obtido com exclusividade pelo SBT, a jovem morreu por causa de um choque hipovolêmico, ou seja, uma grande hemorragia.
O ferimento que causou a hemorragia em Vitória foi um corte profundo no pescoço, que não foi feito no matagal onde o corpo foi encontrado, porque não havia sinais de um grande sangramento no local.
As mãos da adolescente estavam embaladas com plástico filme, usado para guardar alimentos. Os investigadores acreditam que os assassinos não queriam deixar vestígios de material genético nas unhas de Vitória, numa reação de defesa da jovem.

4. Quais são as provas contra Maicol?
A perícia no celular de Maicol Santos apontou que há indícios de planejamento do assassinato de Vitória. O homem fez uma pesquisa na internet sobre "como limpar cena de crime" e, após o desaparecimento, enviou mensagens sobre seu carro ter sido "filmado".

+ Caso Vitória: perguntas e respostas sobre o assassinato da adolescente em Cajamar, Grande São Paulo
Na casa dele, onde supostamente a jovem ficou em cativeiro, peritos encontraram vestígios de sangue em um banheiro. No porta-malas do carro de Maicol, um Corolla prata, também foram encontrados vestígios de sangue. O veículo foi visto circulando na região em que o corpo da adolescente foi encontrado. Ferramentas do padrasto de Maicol também foram encontradas perto do local onde o corpo da adolescente foi achado.

Maicol chegou a confessar o crime em um vídeo gravado pela Polícia Civil, mas depois a defesa do homem negou e disse que ele foi coagido a confirmar que era o responsável pela morte de Vitória.
No vídeo, gravado pelos policiais na delegacia, Maicol declarou que matou a adolescente porque temia que ela contasse à esposa sobre o relacionamento que os dois teriam tido. Até o momento, a polícia não encontrou indícios de uma relação amorosa entre os dois.