‘Oriente Médio está a um passo de uma guerra regional’, diz cientista político
Especialista Hussein Kalout concedeu entrevista ao Poder Expresso. Israel tem tido conflitos, nas últimas semanas, com o Hamas, o Hezbollah e o Irã
O Oriente Médio está a um passo de uma guerra regional. Essa foi a avaliação do cientista político Hussein Kalout, doutor em Relações Internacionais e ex-secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência, em entrevista nesta quarta-feira (2) ao programa Poder Expresso, do SBT News.
Israel tem tido embates, nas últimas semanas, com o grupo extremista libanês Hezbollah e, mais recentemente, com o Irã. Há um ano, o país também iniciou uma guerra com a organização terrorista Hamas, marcando diversos conflitos em território palestino.
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“É um cenário perigoso e extremamente volátil. O Oriente Médio está a um passo da conflagração de uma guerra regional. Tudo vai depender muito do que Israel fará após o contra-ataque do Irã visto na terça. Se a resposta israelense for calibrada, não teremos essa guerra, mas sim um embate militar no sul do Líbano e no norte de Israel. Se a resposta for além do limite do aceitável, a tendência é que os iranianos voltem a revidar e escalem a situação. Só que nesse caso já não se sabe em que medida será possível voltar ao marco da estabilidade. E caso haja uma guerra, estamos falando de um conflito de médio a longo prazo”, pontuou Kalout.
Na terça (1º), o Irã disparou quase 200 mísseis em direção a Tel Aviv e Israel prometeu uma “resposta dolorosa” aos ataques.
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A ofensiva iraniana foi um revide aos bombardeios promovidos pelo governo de Benjamin Netanyahu em Beirute (capital do Líbano), no dia 27 de setembro, que terminou com a morte do comandante das Guardas Revolucionárias do Irã, Abbas Nilforoshan, e do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah.
O governo iraniano, após o lançamento dos mísseis, também citou o assassinato do chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, em julho, na capital Teerã. Israel não assume a autoria do crime, mas é considerado internacionalmente como responsável pela morte.
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“O ataque não veio do nada, é uma resposta às agressões militares israelenses em território iraniano. Eles deixaram claro que iriam retaliar, só não haviam dito quando e de que forma isso aconteceria”, ressaltou Kalout.
Israel e a ONU
Nesta quarta (2), o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, publicou nas redes sociais que declarou como “persona non grata” o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, e que proibiu a entrada dele no país.
“Hoje, declarei o secretário-geral da ONU, António Guterres, persona non grata em Israel e o proibi de entrar no país. Qualquer um que não possa condenar inequivocamente o ataque hediondo do Irã a Israel, como quase todos os países do mundo fizeram, não merece pisar em solo israelense”, disse ele, após críticas do chefe das Nações Unidas à conduta do governo Netanyahu em meio aos conflitos.
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Para Kalout, Israel trabalha com a antidiplomacia, diante de uma estratégica política “extremista, radical e ultranacionalista”. Ele defende que ser persona non grata para o governo Netanyahu engrandece a gestão de Guterres à frente da ONU.
“O governo atual de Israel é extremista, radical e ultranacionalista, além de ser considerado o menos democrático e inclusivo de toda a história do país. Não dá para compará-lo com comandos anteriores, porque a antidiplomacia é o que caracteriza a postura de Netanyahu. Diversas nações, como Brasil, Espanha e Noruega, romperam relações com Israel, em função dos crimes de guerra em Gaza. Isso releva como Israel está isolado internacionalmente. O país não respeita nenhuma resolução das Nações Unidas, daí vêm as críticas de Guterres. E, para ele, ser declarado persona non grata deve refletir como simbolismo de honra. Isso engrandece Guterres, não o diminui. Até porque ele sequer me parece ávido para ir a Israel encontrar com integrantes do governo Netanyahu”, opinou o ex-secretário da Presidência.
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Kalout ainda afirmou que Israel foi defendido internacionalmente quando foi vítima dos ataques do Hamas, em outubro de 2023, mas, diante da resposta desmedida, se isolou diplomaticamente por opção própria.
“Netanyahu fez uma escolha de se isolar, isso não foi imposto. No início, quando houve ataques terroristas do Hamas contra a população civil de Israel, levando à morte de 1.200 civis e ao sequestro de vários outros – um crime bárbaro –, houve solidariedade da comunidade internacional. Todo mundo entendia como legítimo Israel exercer seu direito de defesa. Mas isso não significa transformar Gaza em um cemitério, muito menos o Líbano”, disse ele.