Médicos dizem que Lula "está superestável" e deve receber alta na próxima semana
Presidente passou por procedimento para bloquear o fluxo sanguíneo em uma artéria e prevenir novo sangramento no cérebro
Emanuelle Menezes
A equipe médica que cuida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em entrevista à imprensa na manhã desta quinta-feira (12), que ele está "superestável" após passar por um novo procedimento no cérebro. De acordo com Roberto Kalil Filho, médico pessoal do petista, a previsão é de que "na próxima semana o presidente esteja no Alvorada (residência oficial da Presidência)".
"O procedimento foi feito com sucesso e o presidente está acordado na UTI, comendo, está superestável. Não atrasou a programação dos próximos dias. Ele deverá ter alta no começo da semana", afirmou Kalil.
Lula passou por uma embolização da artéria meníngea média, para bloquear o fluxo sanguíneo entre artérias no cérebro e prevenir um novo sangramento – como o que levou o presidente a ser operado na terça-feira (10). Kalil reforçou que o procedimento feito hoje é minimamente invasivo, foi feito sob sedação e era um complemento à cirurgia.
"Em nenhum momento ele teve nenhuma lesão cerebral", destacou Kalil.
Segundo o neurocirurgião Marcos Stavale, que operou Lula na terça, a embolização bloqueou a circulação de sangue no local em que o presidente teve o hematoma. O risco de novos sangramentos, segundo o médico, "é estatisticamente desprezível". O neurologista Rogério Tuma disse que a probabilidade do hematoma se refazer "é de menos de 5%".
"(Lula) Está neurologicamente perfeito. Está ótimo, conversando", disse Stavale.
O radiologista vascular José Guilherme Caldas, responsável pelo procedimento desta quinta, explicou que a embolização da artéria meníngea média foi feita com um cateter (tubo flexível) que tem menos de 1 milímetro de diâmetro. Foi injetado no local do hematoma do presidente, entre o crânio e o cérebro, uma espécie de gelatina – com partículas que entopem o vaso e impedem a chegada de sangue.
Ana Helena Germoglio, chefe da equipe médica da presidência da República, disse que, antes da cirurgia realizada na terça, Lula chegou a ter febre em um quadro diagnosticado como viral, mas que os exames já estão normais.
"Ele teve episódio de febre. Não conseguimos identificar o vírus, mas os exames já se normalizaram. Pode ter sido uma concomitância de fatores que podem ter levado ao quadro inflamatório", afirmou.
Lula segue sendo monitorado continuamente e deve ter alta da UTI a partir de amanhã (13). "O presidente vai permanecer no mesmo espaço físico, o que vai mudar serão os cuidados de monitorização contínua", disse Germoglio.
Assim que o procedimento desta quinta terminou, Roberto Kalil já havia dado uma declaração, em frente ao Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, afirmando que a embolização tinha sido um sucesso. Segundo ele, o próprio presidente pediu que a imprensa saiba "passo a passo do que está acontecendo".
Primeira cirurgia
Lula deu entrada no Hospital Sírio-Libanês de Brasília na segunda-feira (9), alegando mal-estar e dores de cabeça. No local, ele passou por uma ressonância magnética, que detectou uma hemorragia intracraniana de um hematoma decorrente do acidente domiciliar ocorrido em outubro – em que precisou levar cinco pontos na cabeça.
O presidente, então, foi transferido para a unidade do hospital em São Paulo, onde passou pelo procedimento cirúrgico – conhecido como trepanação. No caso de Lula, as perfurações no crânio foram feitas em duas lâminas da meninge, seguidas da colocação de um dreno, por onde sai o sangue acumulado após a hemorragia.
A embolização, realizada nesta quinta, já era prevista desde a primeira intervenção cirúrgica, segundo Kalil. De acordo com o médico pessoal de Lula, o procedimento é um desdobramento rotineiro para casos como o do petista.
"Já estava sendo discutido, como complemento à cirurgia inicial, essa embolização, porque quando você drena o hematoma, existe uma possibilidade de, no futuro, as pequenas artérias causarem um sangramento. Este novo procedimento é para minimizar o risco disso acontecer. E [o procedimento] é de baixo risco", disse.
Queda no banheiro
Lula cortava as unhas, sentado em um banco, quando escorregou e bateu a cabeça, no banheiro do Palácio da Alvorada, em Brasília, no dia 19 de outubro. Ele precisou levar cinco pontos na região occipital – localizada na parte de trás da cabeça – e teve um sangramento no cérebro.
O presidente foi orientado a evitar viagens aéreas de longa distância e só foi liberado após três semanas.