Polícia Militar de Derrite e Tarcísio matou 702 pessoas neste ano; número é o maior desde 2020 em SP
Aumento, em comparação com o mesmo período do ano passado, é de mais de 72%; o equivalente a duas mortes por dia
Emanuelle Menezes
Derick Toda
São Paulo teve o ano com mais mortes em decorrência de intervenção policial desde 2020. Policiais militares do estado mataram 702 pessoas entre 1º de janeiro e 30 de novembro de 2024 – um aumento de 72% em comparação com o registrado no mesmo período do ano passado, 406. Isso significa que, a cada 11 horas, a PM paulista matou uma pessoa neste ano.
Segundo um levantamento do SBT News, feito com dados do Grupo de Atuação Especial de Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial (GAESP) do Ministério Público de São Paulo (MPSP), a violência policial em 2024 registrou recorde em quatro anos, apesar de ainda restarem 27 dias para o fim de dezembro.
Nos 12 meses de 2020, foram 796 mortos em decorrência de intervenção policial. Em 2021, houve uma queda e o número de óbitos causados por PMs chegou a 558. 2022 registrou o menor número de mortos desde o início da série histórica do GAESP: foram 396. No ano seguinte, foram 460. Este ano, até esta quarta-feira (4), já são 712 mortos.
Dos óbitos registrados em 2024, 608 foram praticados por policiais em serviço, enquanto 104 mortes foram causadas por agentes de folga.
Nesta semana, casos de violência policial repercutiram nas redes sociais, entre autoridades e entidades de direitos humanos. Mas, desde o início do ano, a truculência de PMs – como a vista na Operação Verão, na Baixada Santista – tem gerado vítimas, fatais ou não. Relembre casos abaixo:
Homem jogado de ponte
Um policial militar foi flagrado jogando um homem de uma ponte, na zona sul de São Paulo. Nas imagens, é possível observar os agentes realizando uma abordagem. Primeiro, dois policiais se aproximam, enquanto outro levanta uma motocicleta caída no chão. Logo depois, um quarto policial aparece segurando o homem, que seria o motociclista abordado, pela camiseta. Em seguida, o homem é jogado no rio pelo agente.
O policial faz parte da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas).13 agentes foram afastados por envolvimento na ação.
Morto com tiros pelas costas em supermercado
Um PM atirou 11 vezes e matou, pelas costas, Gabriel da Silva Soares, de 26 anos, que havia furtado pacotes de sabão em pó de um mercado na zona sul da capital paulista no começo do mês. Em depoimento, Vinicius de Lima Brito alegou que atirou contra Gabriel em legítima defesa, e que o jovem estaria armado, versão desmentida por imagens de câmeras de segurança divulgadas nesta segunda-feira (2).
Nos vídeos, é possível ver que Gabriel furtou pacotes de sabão do mercado, saiu correndo e escorregou na fuga na porta do estabelecimento. O policial, que estava no caixa, percebeu e atirou em seguida, atingindo o jovem quando ele estava de costas.
Ao menos oito tiros atingiram o rapaz, que morreu no local. Gabriel é sobrinho do rapper Eduardo Taddeo.
Motociclista rendido é agredido por PMs
Policiais militares da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) agrediram um motociclista rendido e uma mulher, no domingo (1º), na zona norte de São Paulo. O caso teria acontecido no cruzamento das ruas Gregório Pomar e Fortunato Devoto, no Jardim Damasceno.
Nas imagens, é possível ver que o homem – que leva uma mulher na garupa – é perseguido por seis PMs. Um dos policiais bate propositalmente na moto em que estão os dois e acaba caindo. Ele levanta rapidamente e passa a agredir o homem com socos.
O motociclista cai no chão e passa a receber chutes e golpes de cassetete de outros agentes. A mulher, que inicialmente é contida por um PM, também acaba golpeada.
Estudante de medicina morto com tiro à queima-roupa
Um estudante de medicina morreu com um tiro à queima-roupa durante uma abordagem da Polícia Militar, em um hotel na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo.
Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, estaria alterado, agressivo e teria resistido à ação dos policiais Yuri Martins de Almeida e Guilherme Augusto Macedo, segundo o boletim de ocorrência.
Uma câmera de segurança gravou o estudante entrando correndo na escadaria do hotel, sendo seguido pelos militares. Um dos policiais puxou o estudante pelo braço e com a outra mão apontou a arma para o jovem. O segundo militar tentou chutar Marco, que se defendeu e o derrubou. Neste momento, ele sofreu o disparo de arma de fogo pelo outro PM, de acordo com as imagens.
Menino de 4 anos e o pai foram mortos em Santos
Ryan da Silva Andrade, de 4 anos, morreu durante um suposto confronto entre policiais militares e criminosos no Morro São Bento, em Santos. O tiro, segundo a própria corporação, teria partido da arma de um policial.
De acordo com moradores, a criança estava brincando na frente da casa onde morava quando foi atingida na barriga. Ryan foi levado para a Santa Casa de Santos, mas não resistiu aos ferimentos e faleceu.
O pai de Ryan, Leonel Andrade Santos, de 36 anos, morreu meses antes, durante um suposto confronto com a Polícia Militar na "Operação Verão". A vítima, que utilizava muletas devido a uma lesão no joelho, foi baleada junto com Jefferson Ramos Miranda, de 37 anos.
Operação Verão e Escudo
A região da Baixada Santista foi alvo da Operação Verão e da segunda fase da Operação Escudo da polícia de São Paulo, no início de 2024. A operação foi lançada como reação à morte do policial militar da Rota Samuel Wesley Cosmo por criminosos da região. Ao final da ação, foram contabilizadas 56 mortes, muitas delas com suspeita de execução sumária.
Ministério dos Direitos Humanos repudiou
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) informou nesta quarta-feira (4) que vai acionar a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo para que o caso do homem jogado de uma ponte por um policial seja investigado com rapidez. A pasta também repudiou o caso:
"O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) repudia qualquer ação de agentes do Estado que extrapolem suas atuações enquanto servidores públicos a serviço de todos os cidadãos e cidadãs brasileiras. O abuso de poder de policiais militares de São Paulo (SP), na madrugada dessa segunda-feira (2), permitiu que o Brasil acompanhasse a estarrecedora imagem de um agente do 24° Batalhão da PM, da cidade de Diadema, na Grande SP, arremessar um cidadão de uma ponte.", diz em nota.