PF busca elos entre miliciano Adriano da Nóbrega e plano de execução de Marielle Franco
Considerado membro do Escritório do Crime, ex-Bope que empregou mãe e ex-mulher no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia do Rio foi morto em 2020
Laerte Silva de Lima, o infiltrado no Psol do Rio de Janeiro que teria abastecido a família Brazão com dados sobre a vereadora Marielle Franco e outras lideranças do partido, é um dos elos entre os acusados pelo assassinato da vereadora e o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano. Esse nome ressurgiu com a conclusão do inquérito da Polícia Federal (PF) que resultou na deflagração da operação Murder Inc., no último domingo (24).
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Capitão Adriano morreu em 9 de fevereiro de 2020, pela Polícia Militar da Bahia, durante caçada contra ele. Inquérito apontou que a morte não foi uma execução. O nome do miliciano voltou ao noticiário com o fim do inquérito sobre a execução da vereadora Marielle e do motorista Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018.
No domingo (24), a PF prendeu Domingos Brazão, ex-deputado do Rio e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do RJ.
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Ex-membro do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e envolvido em crimes de assassinatos e contravenção, entre outros delitos, Capitão Adriano ficou conhecido nacionalmente em 2018 por ter empregado a mãe e a ex-mulher no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), quando ele era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
O relatório final da PF aponta elos de Capitão Adriano e de pelo menos menos cinco milicianos do seu grupo, que atuava na comunidade de Rio das Pedras, com os assassinos e mandantes da morte de Marielle Franco e os negócios de grilagem de terras na capital fluminense comandados por milícias.
O infiltrado Laerte Lima foi preso na operação Intocáveis, do Ministério Público do Rio, que tinha como alvo a milícia que comandava Rio das Pedras. Assim como ele e Capitão Adriano, outros nomes conhecidos aparecem nas relações dos criminosos. Entre eles, Marcus Vinicius dos Reis Santos, o Fininho, e Ronald Paulo Alves Pereira, o Major Ronald.
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"Laerte foi preso no âmbito da já indigitada Operação Intocáveis juntamente" com Fininho e Major Ronald, destaca a PF. "Entre outros suspeitos de integrarem o grupo militar responsável pela exploração de serviços e afins na localidade de Rio das Pedras".
Os três foram condenados pelo Tribunal de Justiça do Rio. "A organização criminosa integrada pelos acusados é uma das mais poderosas, ainda em atividade, em vastas regiões da Zona Oeste da Capital, subvertendo a ordem pública", registra a sentença.
"A Informação de Polícia Judiciária n.º 16/2023 (...) traz, com robustez, a teia intrincada de vínculos entre esses agentes, inclusive, com Chiquinho Brazão, Capitão Adriano, Mad etc., sendo certo que o personagem central dessa teia é Fininho."
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Novas apurações
A morte do miliciano Capitão Adriano e de outras pessoas consideradas importantes nas apurações foi destacada como uma das dificuldades enfrentadas decorrente do longo tempo do crime. Cita a "impossibilidade de se obter elementos de convicção" pelo "severo golpe que a intempestividade impôs à persecução".
São listados: "o homicídio de Edmilson Macalé em 6 de novembro de 2021; a morte do ex-Capitão Adriano da Nóbrega pela PM-BA em 9 de fevereiro de 2020; o desassoreamento do córrego mencionado pelo réu-colaborador em Rio das Pedras em 2022; a capina do barranco do motel também por ele citado, em 2019, entre vários outros".
Edmilson da Silva de Oliveira, o Macalé, foi morto em 6 de novembro de 2021. Ex-PM, ele era ligado às milícias e foi segurança da família Brazão. Macalé teria sido a ponte entre os irmãos Brazão e Ronnie Lessa, executor do assassinato de Marielle e Anderson.