Mulher de delegado preso no caso Marielle era ‘laranja’ em lavagem de dinheiro, diz PF
Segundo a investigação, Erika Andrade de Almeida Araújo, esposa do ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa, movimentou pelo menos R$ 4,9 milhões de reais em recursos de origem suspeita
A advogada e empresária Erika Andrade de Almeida Araújo, esposa do ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, tornou-se um importante personagem na investigação dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes. O marido de Érika, o delegado Rivaldo Barbosa, foi preso neste domingo (24), apontado pela Polícia Federal como um dos mandantes do duplo homicídio. Segundo a PF, a esposa dele atuou como "testa de ferro" na lavagem de dinheiro proveniente da milícia que Marielle teria incomodado.
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De acordo com a Polícia Federal, Rivaldo criou empresas de fachada e as colocou em nome da esposa para receber dinheiro por serviços não prestados. Parte dos recursos recebidos nessas empresas saiu dos cofres da Light, concessionária de energia elétrica no Rio de Janeiro. Os serviços supostamente vendidos eram de “consultoria empresarial”, uma forma bastante recorrente de justificar a transferência de grandes somas de dinheiro a empresas com estrutura pequena. O relatório do inquérito releva movimentações de cerca de R$ 4,9 milhões nesse esquema.
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A investigação mostrou que, inicialmente, uma das empresas tinha como sede o próprio endereço residencial do casal. Posteriormente, a sede foi transferida para uma sala comercial comprada por Rivaldo e Érika.
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“Destaca-se que a Mais I Consultoria Empresarial não registrou nenhum funcionário durante o período em que se encontrou ativa”, destacou a Polícia Federal. A investigação encontrou também “ocorrência altíssima de operações financeiras em espécie: saques e depósitos com origem não identificada”.
“É latente que Érika não possui expertise em tais serviços. Nesse sentido, além de ratificar que Rivaldo era o gestor das empresas, surgem indícios de que ele se utilizava da estrutura da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro para fins particulares”, apontou a PF. De acordo com a investigação, Rivaldo retirava informações do banco de dados da corporação e as utilizava nos trâmites burocráticos das empresas para dar uma aparência legal aos serviços não prestados.
“Provavelmente Érika e Rivaldo tenham optado por concentrar a movimentações financeiras das empresas nas contas de Érika a fim de não chamar atenção dos órgãos de controle, tendo em vista as funções de destaque ocupadas por Rivaldo ao logo da carreira pública”, ressaltou a Polícia Federal. “Contextualizando os fatos, têm-se que Rivaldo e sua esposa se lançaram às atividades empresariais justamente no período em que Rivaldo foi nomeado para chefiar a Delegacia de Homicídios da capital”, acrescentaram os investigadores.
Rivaldo ficou à frente da Delegacia de Homicídios até o momento em que assumiu o posto máximo da Polícia Civil. Ele tomou posse como chefe da corporação no dia 13 de março de 2018, um dia antes da execução da vereadora.
“Recorda-se que é justamente quando está na Delegacia de Homicídios ou à frente da Polícia Civil do Rio de Janeiro que foram encontrados relatos, depoimentos e denúncias envolvendo episódios de corrupção e outras atividades ilícitas praticadas por Rivaldo, dentre elas aquela formalizada por Ronnie Lessa em sede de colaboração premiada”, assinalou a Polícia Federal.