Saúde diz monitorar intoxicações por metanol e estabelece protocolo de ação
SP registra três mortes por suspeita de consumo de bebidas alcoólicas adulteradas; cinco pessoas estão hospitalizadas

Camila Stucaluc
O Ministério da Saúde disse estar monitorando as intoxicações por metanol relacionadas ao consumo de bebida alcoólica adulterada em São Paulo. Até a tarde de segunda-feira (29), três mortes foram confirmadas por laboratórios de toxicologia, sendo uma na capital paulista e duas em São Bernardo do Campo.
Além dos óbitos, cinco pessoas permanecem hospitalizadas pelo mesmo motivo. Uma delas é a designer de interiores Radharani Domingos, de 43 anos, que consumiu três caipirinhas em um bar na zona sul da capital e começou a passar mal. Ela chegou a ter convulsões e permanece sem enxergar.
Segundo o ministério, os casos apresentam um padrão inédito. Isso porque, até então, as ocorrências de intoxicação por metanol estavam, majoritariamente, associadas a pessoas em vulnerabilidade que ingeriram álcool em postos de gasolina adulterados com a substância. Agora, os pacientes foram intoxicados por bebidas oferecidas em “cenas sinais de consumo”, como bares.
“A partir do início do mês de setembro, em um curto intervalo de tempo, os pacientes intoxicados apresentaram histórico de ingestão recente de bebidas alcoólicas destiladas em cenas sociais de consumo alcoólico, incluindo bares, e com diferentes tipos de bebida, como gin, whisky, vodka, entre outros. Diante do caráter inédito da situação, há a possibilidade de existirem casos ainda não notificados”, disse.
Em meio ao cenário, a pasta pediu que todas as unidades de saúde, em especial a rede de urgência e emergência, sigam o protocolo de notificação para casos suspeitos de intoxicação exógena. Enquanto isso, o Ministério da Segurança emitirá alertas aos Procons de todo o país, com orientações voltadas a fornecedores, e o Ministério da Agricultura adotará medidas para avaliar eventuais ações de fiscalização.
Apreensão de bebidas
O bar onde Radharani consumiu as caipirinhas foi alvo da Polícia Civil na segunda-feira (29). No estabelecimento, os agentes apreenderam cerca de 100 garrafas de bebidas destiladas com suspeita de adulteração. Todo o material será levado para análise para identificar se há a presença de metanol.
Rodolpho Ramazzini, diretor de comunicação da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF), disse que o metanol usado nas bebidas pode ser o mesmo importado pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) para adulterar combustíveis. "O crime organizado entrou no setor de bebidas, como já havia entrado também no setor de combustíveis e no setor de cigarros”, apontou.
Intoxicação por metanol
A intoxicação por metanol é uma emergência médica de extrema gravidade. A substância, quando ingerida, é metabolizada no organismo em produtos tóxicos (como formaldeído e ácido fórmico), que podem levar ao óbito. Os principais sintomas são: visão turva ou perda de visão (podendo chegar à cegueira) e mal-estar generalizado (náuseas, vômitos, dores abdominais, sudorese).
Em caso de identificação dos sintomas, o Ministério da Saúde recomenda buscar imediatamente os serviços de emergência médica e contatar pelo menos uma das seguintes instituições:
- Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001;
- CIATox da sua cidade para orientação especializada (Contatos disponíveis em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/animais-peconhentos/ciatox );
- Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733 – de qualquer lugar do país.
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“É importante identificar e orientar possíveis contatos que tenham consumido a mesma bebida, recomendando que procurem imediatamente um serviço de saúde para avaliação e tratamento adequado. A demora no atendimento e identificação da intoxicação aumenta a probabilidade do desfecho mais grave, com o óbito do paciente”, reforçou a pasta.