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Saúde

Cegueira causada por intoxicação de metanol é permanente? Especialistas explicam efeitos da contaminação

Substância presente em bebidas clandestinas já provocou mortes e deixou vítimas sem visão

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Casos recentes em São Paulo expõem os riscos do consumo de bebidas adulteradas com metanol | Foto: Reprodução/Freepik
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Ao menos três pessoas morreram por suspeita de intoxicação por metanol na Grande São Paulo. O Centro de Vigilância Sanitária (CVS) investiga, também, outros 10 casos de intoxicação relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas supostamente adulteradas.

Uma das possíveis vítimas da presença de metanol em bebidas adulteradas está internado há mais de um mês no Hospital do Campo Limpo, na zona Sul de São Paulo. Wesley, de 31 anos, teria sido intoxicado após consumir whisky. Inicialmente, ele apresentou sintomas leves, confundidos com ressaca, mas depois passou mal, vomitou e perdeu a consciência, entrando em coma. Durante o tratamento, ele sofreu um AVC, que comprometeu sua visão.

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Em entrevista ao Alô, Você, do SBT, nesta segunda-feira (29), a irmã de Wesley disse que agora ele consegue falar e se locomover, mas segue sem conseguir enxergar.

Especialistas em saúde ouvidos pelo SBT News explicam que a substância pode causar cegueira irreversível ou de longo prazo, o quadro é conhecido como neuropatia óptica induzida por metanol.

“O metanol, quando ingerido, é transformado pelo fígado em uma substância chamada ácido fórmico. Essa substância é extremamente tóxica e ataca o sistema nervoso, geralmente começando pelo nervo óptico”, esclarece o oftalmologista Halim Féres Neto, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e diretor da clínica Prisma Visão.

Esse nervo é responsável por conduzir as imagens dos olhos ao cérebro, contudo, o ácido fórmico é capaz de provocar a morte celular dessa estrutura, interrompendo esse processo. Halim Féres explica que “infelizmente, o nervo óptico não se regenera após sofrer esse tipo de lesão. Se o atendimento médico for muito rápido, existe chance de reduzir o dano e até salvar parte da visão, mas a recuperação completa é rara”.

Uma dose pequena de bebida adulterada pode ser suficiente para causar danos graves e levar até a morte, segundo Lilian Curvelo, gastroenterologista e hepatologista. Doses a partir de 10 mL de metanol já podem provocar sintomas visuais e até a cegueira. “Quantidades em torno de 30 mL podem ser potencialmente letais para um adulto”, ela diz.

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Outros sintomas causados pelo metanol

Os sinais visuais costumam aparecer entre as primeiras 12 e 48 horas após a ingestão da substância, mas podem surgir antes. As manifestações iniciais mais comuns são:

  • Visão borrada;
  • Sensação de estar vendo uma “neve” ou pontos pretos;
  • Dificuldade para enxergar cores;
  • Dor atrás dos olhos ou sensibilidade à luz.

Muitas vezes esses sintomas visuais vêm acompanhados por náuseas, vômitos, dor abdominal, tontura, dor de cabeça intensa e confusão mental. Em casos graves, podem ocorrer convulsões, coma e risco de morte.

Por que o metanol pode levar à morte?

O metanol, também chamado de álcool metílico, é usado em solventes, combustíveis e produtos químicos. Após a ingestão, ele é transformado pelo fígado em formaldeído e ácido fórmico, substâncias altamente tóxicas que impedem as células de produzir energia e envenenam o organismo.

A hepatologista Lilian Curvelo explica que, sem energia suficiente, o cérebro pode deixar de funcionar e levar a pessoa ao coma. O coração e os rins também ficam sobrecarregados e correm o risco de falência.

É possível identificar o metanol na bebida?

A bebida adulterada é praticamente impossível de identificar, já que o metanol é incolor e tem cheiro e sabor semelhantes ao etanol usado na produção de bebidas alcoólicas.

“Isso significa que a população não consegue diferenciar uma bebida adulterada apenas pelos sentidos. Por isso é fundamental consumir bebidas apenas de procedência confiável e legalizada”, afirma Lilian.

Os especialistas alertam que o consumo de metanol representa um risco grave à saúde e recomendam evitar bebidas de procedência duvidosa: sem rótulo, sem registro ou vendidas de forma clandestina.

Em casos de suspeita de ingestão, a orientação é buscar atendimento médico imediato para aumentar as chances de recuperação.

A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo informou que o Centro de Vigilância Sanitária (CVS) acompanha e apoia os municípios na fiscalização de bares, distribuidoras e outros estabelecimentos envolvidos na venda de bebidas contaminadas. A orientação é que as empresas redobrem a atenção com a procedência das bebidas oferecidas.

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