Ex-ministros de Bolsonaro negam golpismo em reunião em que Bolsonaro pressionou por ataque às urnas
Ouvidos como testemunhas de defesa na ação do golpe, ex-ministros negam intenção antidemocrática do ex-presidente em reunião de 5 de julho de 2022

Paola Cuenca
Três ex-ministros do governo de Jair Bolsonaro (PL) negaram nesta quinta-feira (29), em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), ter percebido intenções golpistas ou de quebra da ordem democrática em reunião ministerial realizada em 5 de julho de 2022. Vídeo do encontro encontrado em computador do ex-ajudante de ordens Mauro Cid mostra o ex-presidente acusando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de manipular o processo de votação e falando em necessidade de "agir antes das eleições".
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Bruno Bianco, ex-advogado-geral da União (AGU), relatou não ter visto indício de ruptura da democracia. "Estávamos em período pré-eleitoral, havia uma disputa acirrada e posições acirradas. Havia um debate [na reunião] sobre quais seriam as posturas no período eleitoral e pré-eleitoral, mas eu não vi indício de ruptura", disse.
Relembre reunião entre Bolsonaro e ex-ministros
Ainda no início da reunião, que durou cerca de uma hora e meia, Bolsonaro cobrou ministros a reproduzirem discursos de ataque ao processo eleitoral.
"Daqui pra frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar, vai falar pra mim por que não quer falar. Se está achando que eu vou ter 70% dos votos, e vou ganhar como ganhei em 2018, está no lugar errado. Aqui não tem ninguém com QI mediano aqui dentro. Porque os caras estão preparando tudo, pô, para o Lula ganhar no primeiro turno, na fraude."
Em dado momento do encontro, o então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, afirmou que "se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições, se tiver que virar a mesa, é antes das eleições".
Falas "não chamaram a atenção", diz ex-ministro
No depoimento desta quinta, o ex-ministro Adolfo Sachsida, de Minas e Energia, afirmou que as falas da reunião não "chamaram a atenção". "Houve uma fala sobre as urnas eletrônicas, o que pra mim não foi novidade, já que desde 2017 várias pessoas questionam a segurança das urnas. Não me chamou a atenção", sustentou.
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Wagner Rosário, ex-controlador-geral da União (CGU), seguiu a linhas dos ex-colegas de Esplanada e negou haver debate com teor golpista.
"Foram abordados vários temas na reunião, mas o principal – pelo menos na parte em que participei mais ativamente – foi uma discussão sobre o processo eleitoral e o papel das instituições naquele contexto. Falamos sobre como os órgãos públicos deveriam atuar durante o período eleitoral. Tinham algumas instituições que tinham participação como entidade fiscalizadora no âmbito do processo eleitoral e ali foram discutidas situações de problemas que poderiam haver nestes sistemas e como estas pessoas poderiam atuar", relatou Rosário.
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À época da reunião, as Forças Armadas atuavam como uma das entidades fiscalizadoras do processo eleitoral. Na reunião de julho de 2022, Bolsonaro chegou a dizer que a inclusão dos militares na Comissão de Transparência Eleitoral era um erro do TSE. "Se esqueceu que eu sou chefe supremo das Forças Armadas?", questionou aos ministros no encontro.
Para o ex-CGU, o debate se restringiu à análise de possíveis "fragilidades no sistema de votação eletrônica". "Tecnologia pode ter problema. Era uma preocupação em ter um resultado da eleição que fosse fidedigno", concluiu.