Ex-chefe de gabinete defende participação técnica de Torres em live de ataques às urnas
Em depoimento ao STF, brigadeiro Antonio Ramirez Lorenzo afirmou que havia preocupação em "expor" o então Ministro da Justiça em embate liderado por Bolsonaro

Paola Cuenca
O ex-chefe de gabinete e ex-número 2 de Anderson Torres, brigadeiro Antonio Ramirez Lorenzo, relatou nesta quarta (28) em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a participação do então ministro da Justiça na live de ataques às urnas promovida por Jair Bolsonaro (PL), em julho de 2021, foi um "momento emblemático". "A pauta era polêmica e a exposição do ministro nos preocupava bastante", afirmou.
Segundo Lorenzo, dias antes da transmissão ao vivo, ele recebeu um telefonema da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) informando que a live semanal de Bolsonaro aconteceria na sede do Ministério da Justiça, com a participação do Torres, e o tema seriam as urnas eletrônicas.
"Imaginamos um cenário com três ações a serem tomadas: retirar a live do Ministério da Justiça, porque ela era sempre feita no [Palácio da] Alvorada ou outro lugar – não me lembrava de live feita em outro lugar e numa pauta tão polêmica – e outra [ação] seria diminuir a exposição dele e também buscar algum conteúdo essencialmente técnico que pudesse ser dito sem maior comprometimento. Como eu disse, era um tema muito sensível", expôs o militar.
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A transmissão de 21 de julho de 2021 marca, para a Procuradoria-Geral da República (PGR), o início da trama golpista. Na ocasião, o ex-presidente Bolsonaro fez ataques ao sistema eleitoral do país e tentou levantar dúvidas sobre a segurança e lisura das urnas eletrônicas.
No depoimento, o ex-chefe de gabinete disse não ter "vislumbrado" a possibilidade de Torres não participar da live, mas que a equipe conseguiu evitar que a transmissão fosse feita da sede da pasta da Justiça. Lorenzo afirmou ter sido o responsável por marcar os trechos do relatório, feito pela Polícia Federal (PF) sobre as urnas, que foram lidos por Torres na ocasião.
"Em conversas, no próprio ministério, foi dito que a Polícia Federal participava de reuniões e encontros com o Tribunal Superior Eleitoral na época de eleições e que a PF formulava relatórios sobre as eleições em si. Eu juntei os relatórios, os li e busquei algo que o ministro pudesse ler e ele se prendesse a assuntos técnicos. Eu marquei alguns trechos com caneta lumicolor e falei: 'Nossa sugestão é, quando você for participar e for chamado a falar, o senhor se atenha a estes trechos. Assim, o senhor se exime de dar sua opinião'. Também conseguimos evitar que ele estivesse sentado e aparecendo na live todo o tempo", contou o brigadeiro.