Ex-número 2 de Torres se diz arrependido de posts com críticas ao governo e a ministro do TSE
Em depoimento ao STF, brigadeiro Antonio Ramirez Lorenzo foi confrontado por Moraes e disse que publicações foram feitas "no calor do momento"

Paola Cuenca
Em tomada de depoimento realizada nesta quarta (28), o ex-chefe de gabinete e ex-secretário-executivo de Anderson Torres no Ministério da Justiça, brigadeiro Antonio Ramirez Lorenzo, se disse arrependido de ter publicado opiniões pessoais nas redes sociais. Ele foi confrontado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a respeito de postagens feitas com críticas a ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e integrantes do governo de transição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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Na audiência, em resposta a questionamentos feitos pelos advogados de Torres, o militar havia admitido que, após a vitória de Lula, havia insatisfação com o resultado eleitoral na pasta da Justiça, mas negou que isto tenha dificultado a passagem de poder.
"São três meses que muita gente já quer pular do barco, outro já quer se posicionar pro próximo governo. Ficou aquele clima de velório, mas demos 48 horas pro luto da eleição. Ele [Torres] sentou comigo e falou 'vamos preparar uma transição de governo'. Tenho certeza que o ministro Flávio Dino, quando participou das reuniões, viu que o ministério estava bem cuidado", assegurou.
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"Calor da emoção", diz testemunha sobre posts antigos
Porém, a testemunha foi confrontada pelo relator. Moraes leu antigos tweets publicados pelo ex-secretário com críticas ao novo governo. Um deles, datado de 13 de dezembro de 2022, reprovava a postura do então indicado ao Ministério da Justiça Flávio Dino sobre os ataques ocorridos um dia antes na capital federal.
Na data de diplomação de Lula, pessoas que estavam acampadas em frente ao Quartel-General do Exército (QGEx) em Brasília, revoltadas com a prisão do indígena Serere Xavante, atearam fogo em carros e ônibus e tentaram invadir a sede da Polícia Federal em Brasília.
"Assim funciona a esquerda… não é governo, não tem poder nem autoridade alguma sobre a matéria, mas convoca coletiva, faz estardalhaço e, como sempre, sem resultado prático algum… Brasil rumo a um buraco vergonhoso… Lula vergonha nacional", escreveu Lorenzo em tweet apagado dias depois.
Moraes questionou se o ex-secretário considerava o comentário um exemplo de transição técnica. "Considero uma opinião pessoal que, num momento de mais calor, veio carregada na tinta. Mal ou bem a gestão ainda estava conosco e estes atos de vandalismo que aconteceram no DF dizem respeito à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. O que nos deixou incomodados é que, primeiro, não era pauta do Ministério da Justiça. A desordem era no DF. O futuro ministro não tinha ingerência sobre aquele assunto em particular. Não cabia a ele chamar uma coletiva sobre algo que não dizia respeito", respondeu a testemunha.
Diante da resposta, o relator ainda questionou Lorenzo se a tentativa de invasão da sede da Polícia Federal (PF) – órgão subordinado ao Ministério da Justiça – não era assunto da pasta. A testemunha tentou fazer menção às depredações ocorridas no entorno e Moraes encerrou a fala de Lorenzo.
O ministro também questionou se havia indisposição no ministério em relação às urnas eletrônicas ou ao TSE, o que foi negado pelo militar. Na sequência, Moraes indagou: "Então, o senhor entenderia que foi no calor da emoção e não uma indisposição ao TSE que o senhor comparou o então presidente, ministro Luís Roberto Barroso, a um adolescente metido a influencer?".
A testemunha, então, se disse arrependida do que escreveu. "É, ministro. Novamente a emoção das redes sociais. Isso não tem nada a ver com urnas. Eu realmente considero extremamente relevante é que, assim como eu acabo emitindo opinião na rede social, outros ministros também fizeram com recomendações de livros e músicas de ataque ao governo. Me arrependo, porque era uma opinião pessoal que deveria guardar pra mim e não expôr nas redes sociais", lamentou.