Com apoio de Alckmin e Tebet, Haddad ganha tempo para provar coesão da equipe econômica; análise
Pior semana do governo Lula 3 terminou com respiro após declaração de ministro da Fazenda sobre revisão de gastos
A semana foi tensa, mas termina com respiro no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sobretudo na equipe econômica, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falar em revisão de gastos do Executivo. O editor-executivo do SBT News em Brasília, Afonso Benites, faz análise do assunto no programa Brasil Agora desta sexta-feira (14).
O jornalista avalia que, apoiado por Geraldo Alckmin e Simone Tebet, Haddad ganha tempo para mostrar trabalho e tentar viabilizar novas medidas.
Sob pressão do mercado, com dólar em alta e depois retrocedendo, e do Congresso Nacional, após o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), devolver parte da "MP do fim do mundo", especulou-se até mudança na Fazenda. Mas, por ora, Lula mantém Haddad.
"Até sugeriram a troca dele por Aloizio Mercadante, presidente do BNDES. Só que essa troca não foi feita e não será feita tão cedo por conta da reação do mercado. Mercado está feliz com Haddad? Não, não está 100% feliz. Mas vamos lembrar. Ano passado, Haddad era principal articulador político do governo e foi ele quem conseguiu aprovar questões econômicas importantes", aponta Benites.
Mas é fato que houve desgaste nas últimas semanas. O apresentador Murilo Fagundes comentou que a devolução de uma medida provisória (MP), no caso, a MP do Pis/Cofins, "não é fichinha". Significa que "não tem mais espaço pra diálogo" em alguns pontos e um "baque" para Haddad. "Ele teve primeiro ano de sucesso no Congresso, com aprovação da reforma tributária. Segundo ano, inferno astral", completa.
Benites analisa que, em semana tensa para o governo, quem ganhou força novamente foi o ministro da Casa Civil, Rui Costa. "Sempre que se fala que alguém está balançando, Costa está por trás, negocia com um, negocia com outro", diz.
Haddad, então, buscou apoio da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e vice-presidente, Geraldo Alckmin, "para tentar demonstrar certa coesão da equipe econômica para o mercado". "E a reação, até o momento, foi positiva. Teve elogio de Lula e alguns empresários gostaram", conta Benites.
O jornalista também analisa diferença de postura de Lula em relação aos dois primeiros governos, quando protagonizava articulação e conversava mais com partidos. "Agora, no atual governo, quando tem reuniões, são com os líderes do governo, não necessariamente com partidos da base aliada", completa.
E por que isso ocorre? De olho nas eleições municipais, legendas com boa representação no Congresso temem associar imagem de parlamentares à de Lula e preferem deixar esses diálogos para depois do pleito.
"Muitos na frente evangélica, na bancada da Bíblia não querem estar ao lado de Lula antes das eleições. Não querem imagem vinculada ao PT, sobretudo em cidades do interior que não são lulistas, como no Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Então, essas reuniões aconteceriam futuramente. De qualquer forma, Lula poderia agregar conversando pelo menos com liderenças das legendas", explica Benites.