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"Temos que garantir que o sofrimento acabe”, diz irmão de israelense sequestrado pelo Hamas

Ilay é irmão mais velho de Evyatar David, que apareceu em vídeo do Hamas cavando a própria cova; Grupo palestino concordou em liberar os reféns israelenses

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Ilay e o irmão Evyatar, sequestrado há dois anos pelo grupo Hamas
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O município de Kfar Sala, em Israel, está localizado a cerca de 78 km da Cidade de Gaza, na Faixa de Gaza. Uma distância de pouco mais de uma hora, mas que, para a família de Evyatar David, representa quase dois anos de agonia. O músico, hoje com 24 anos, foi um dos israelenses sequestrados pelo grupo extremista Hamas no dia 7 de outubro de 2023.

A libertação dele pode acontecer nos próximos dias. Nesta sexta-feira (3), o Hamas concordou em libertar os reféns palestinos ao aceitar em partes o acordo de paz do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

+ Hamas diz que pode libertar reféns em troca de acordo de paz com Israel

Evyatar tinha 22 anos quando foi levado como refém. Ele participava do festival de música eletrônica Universo Paralello, no sul de Israel, quando foi surpreendido pelo ataque armado. Ao lado do amigo Guy Gilboa-Dalal, tentou fugir, mas foi capturado pelos militantes do grupo e levado para a Faixa de Gaza.

A família de Evyatar o identificou por meio de um vídeo divulgado pelo Hamas nas redes sociais, dias após o sequestro.

Em entrevista ao SBT News antes do anúncio da possível libertação, Ilay David, irmão mais velho de Evyatar, contou que viu o irmão algemado em uma cela escura, com hematomas. Ele estava ao lado de Guy e olhava diretamente para a câmera. A entrevista foi feita antes do grupo palestino anunciar o acordo.

“Vimos os dois algemados, aterrorizados, com hematomas. Estava muito claro que os terroristas queriam que víssemos Evyatar, Guy e todos os outros. Então, tivemos o triste privilégio de saber o que aconteceu em 7 de outubro. Sabemos que os amigos de Evyatar foram assassinados naquele dia. Mas ele e Guy não sabem disso. E isso nos levou a uma jornada, uma jornada muito longa e dolorosa para defender sua libertação”, conta Ilay.

Desde então, o israelense atendeu comissões, lançou campanhas, participou de protestos e contatou líderes internacionais, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para tentar resgatar o irmão. Os atos, também feitos por outras milhares de pessoas, chegaram a pressionar o governo israelense, que acordou com o Hamas trocas de reféns israelenses por prisioneiros palestinos. Ao todo, foram resgatados 202 dos 251 sequestrados, mas nenhum com o nome de Evyatar Davi.

Os irmãos Evyatar, Yaela e Ilay em registro feito antes de 7 de outubro de 2023
Os irmãos Evyatar, Yaela e Ilay em registro feito antes de 7 de outubro de 2023

Ilay voltou a ter notícias do irmão em fevereiro deste ano, quando Omer Wenkert, israelense que também foi sequestrado, foi libertado pelo Hamas. À família, contou que ficou preso com Evyatar e Guy em uma cela em um túnel subterrâneo em Gaza, onde recebiam pequenas refeições consistidas em pão, queijo e tâmaras.

Em agosto, o Hamas divulgou um novo vídeo de Evyatar David. Nas imagens, gravadas em 27 de julho, ele aparece magro, vestindo apenas uma bermuda, e afirma estar cavando a própria cova. À reportagem, Ilay disse que quase não reconheceu o irmão. “Evyatar em estado de choque. Ele parecia um esqueleto humano, pele e ossos.”

Cessar-fogo

Nesta sexta-feira (3), o Hamas concordou em libertar os 46 reféns que continuam em Gaza. A ação faz parte de um acordo de cessar-fogo permanente divulgado por Donald Trump e Benjamin Netanyahu na segunda-feira (29).

O grupo ainda quer negociar outros detalhes da proposta, que também engloba a libertação dos reféns ainda mantidos pelo Hamas, vivos e mortos, em troca de 250 palestinos condenados e 1.700 detidos em Israel. O texto também inclui a desmilitarização de Gaza e a entrada de ajuda humanitária na região, incluindo reabilitação de infraestrutura, além de um governo internacional temporário até que uma nova administração seja firmada no enclave palestino.

Para Ilay, não há mais tempo a perder.

“Temos que garantir que o sofrimento acabe. Que os reféns voltem para casa e que a reconstrução de Gaza possa começar. Não temos mais tempo. Simplesmente não temos mais tempo porque os reféns estão morrendo. Temos que garantir que eles sobrevivam a isso. Eventualmente haverá um cessar-fogo. Um acordo precisa vir”, desabafa.

Além dele, outros milhares de israelenses pressionam o governo por um acordo. Muitos fazem parte do movimento “Bring Them Home Now” (“Traga-os para casa agora”, na tradução livre para o português), criado após o ataque de 7 de outubro. Em setembro, por exemplo, o grupo acampou por uma semana em frente à casa de Netanyahu, em resposta à intensificação da operação militar em Gaza e à preocupação com o destino dos reféns.

Isolamento de Israel

A pressão por um cessar-fogo também vem aumentando internacionalmente. O então impasse nas negociações, paralelamente com o avanço da ofensiva israelense no enclave palestino, está fazendo Israel perder o apoio de países aliados, provocando um isolamento internacional de Tel Aviv.

A falta de suporte foi evidenciada na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, em setembro. Ao subir no palco para discursar, Netanyahu foi alvo de vaias, como gesto de repúdio. Muitas delegações também deixaram o local antes do prêmio iniciar o discurso, incluindo a do Brasil.

Paralelamente, a Comissão Europeia disse estudar novas sanções contra Israel, podendo suspender parcialmente o acordo de livre comércio com o país.

+ Comissão Europeia propõe sanções contra Israel após nova ofensiva em Gaza

Ao justificarem as ações, os países afirmaram que Israel tem direito de se defender do Hamas devido ao ataque de 7 de outubro de 2023, mas que a resposta da ofensiva militar em Gaza é desproporcional. Isso porque o conflito já deixou quase 66 mil palestinos mortos, segundos dados do Ministério da Saúde local, o que foi visto pela Comissão Independente da ONU como ato de genocídio contra palestinos.

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