Por que Israel e Hamas ainda não chegaram a um acordo de cessar-fogo? Entenda
Guerra se aproxima de um ano e já deixou mais de 40 mil mortos na Faixa de Gaza; comunidade internacional pressiona por negociações
A guerra entre Israel e o grupo Hamas está próxima de completar um ano sem qualquer sinal de um acordo por cessar-fogo. Durante esses 11 meses, houve apenas uma pausa no conflito que já deixou mais de 40 mil mortos na Faixa de Gaza, a maioria mulheres e crianças.
Na ocasião, o cessar-fogo temporário durou sete dias e resultou na troca de 100 reféns israelenses por 240 palestinos que eram mantidos sem acusações em prisões de Israel. As conversas desde então estagnaram, com acordos costurados pelos mediadores Catar, Estados Unidos e Egito ficando sobre a mesa. Uma proposta de cessar-fogo aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU também não foi cumprida, apesar das decisões do principal órgão da ONU ser vinculante para os membros da organização, caso de Israel.
+ ONU e Brasil condenam ataque israelense a escola em Gaza; EUA pedem esclarecimentos
Saiba quais são os principais pontos de discórdia entre Israel e Hamas:
Cessar-fogo temporário x cessar-fogo definitivo
O Hamas colocou um cessar-fogo definitivo e a retirada completa de Israel da Faixa de Gaza, que é território palestino, como condição para libertar os reféns. Contudo, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, já deu mais de uma declaração rejeitando qualquer cessar-fogo permanente "até que os objetivos de guerra de Tel Aviv sejam alcançados".
+ Quem é Yahya Sinwar, líder do Hamas em Gaza e responsável por planejar maior ataque a Israel
Segundo o primeiro-ministro, uma retirada completa das forças israelenses de Gaza deixaria o Hamas no controle do território e capaz de se rearmar. O Hamas, por sua vez, teme que um cessar-fogo temporário, ideia defendida por Tel Aviv, signifique que Israel irá retomar a guerra uma vez que seus reféns mais vulneráveis — mulheres, idosos e feridos — sejam devolvidos. Caso isso aconteça, o grupo teria menos poder de persuasão e chegaria enfraquecido a mesa de negociação.
Corredor de Filadélfia e Netzarim
Nas últimas negociações por cessar-fogo, Israel adicionou mais uma exigência: ter o controle do corredor de Filadélfia e do recém-criado corredor Netzarim.
O corredor Filadélfia é uma zona tampão desmilitarizada de 14 km de comprimento e 100 metros de largura que se estende ao longo de toda a fronteira entre o Egito e Gaza. O corredor inclui a passagem de Rafah, o único ponto de trânsito entre o Egito e Gaza, e foi tomado por Tel Aviv em maio.
Já o corredor de Netzarim é um trecho de 6 km de terra que divide o norte e o sul de Gaza e que foi estabelecido pelos militares israelenses durante a guerra atual e se estenda da fronteira israelense com a Cidade de Gaza até o Mar Mediterrâneo. A linha recebeu o nome de um antigo assentamento israelense ilegal que existia na região até a retirada em 2005.
+ EUA acusa líder do Hamas e outros militantes de conexão com massacre de 7 de outubro em Israel
A rota tem sido usada como base militar das forças israelenses e para muitos especialistas é uma maneira de Israel manter controle da região sem ocupar inteiramente o território.
O gabinete de Netanyahu diz que as exigências "levam em consideração as necessidades de segurança de Israel" e visam impedir que o "Hamas reabasteça seu arsenal por meio de uma rede de túneis de contrabando na área (do corredor de Filadélfia)". O Hamas, por sua vez, rejeita qualquer possibilidade das regiões permanecerem sob administração militar de Tel Aviv e diz que a nova exigência só é uma forma de Netanyahu emperrar as negociações por cessar-fogo.
Morte de Ismail Haniyeh
A morte do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em um ataque atribuído a Israel no Irã também atrasou as negociações por cessar-fogo. O palestino era o principal interlocutor do grupo com o Catar e Irã e participava das mesas de negociação.
Autoridades iranianas acusaram Israel de matar Haniyeh com o propósito de prolongar o conflito. O país não se posicionou sobre o assunto.
Desconfiança e cenário político incerto em Israel
Existem outras questões que podem desmantelar os esforços de cessar-fogo, começando com a total falta de confiança entre Israel e o Hamas, que já lutaram cinco guerras.
Depois, há as intensas e contrastantes pressões sobre Netanyahu, que podem explicar seus sinais contraditórios sobre a proposta.
+ Sob pressão, Netanyahu pede perdão por morte de reféns
Milhares de israelenses, incluindo famílias dos reféns, protestaram nos últimos meses para exigir que o governo trouxesse os cativos para casa, mesmo que isso significasse um acordo de cessar-fogo com o Hamas. Desde o último domingo (1°), quando os corpos de seis reféns foram recuperados, diversos israelenses foram às ruas pressionar o governo.
+ Hamas ameaça matar reféns caso exército israelense se aproxime de esconderijos
Mas os parceiros da extrema direita na coalizão cada vez mais estreita de Netanyahu rejeitaram o plano elaborado pelos EUA, Catar e Egito e ameaçaram derrubar seu governo se ele acabar com a guerra "sem destruir" o grupo.
Os principais ministros do governo de Netanyahu, de maioria ultranacionalista, defendem a reocupação de Gaza e encorajam a “emigração voluntária” dos palestinos do território e reconstruir assentamentos judaicos lá. A ideia vai de encontro com a ideia defendida pela comunidade internacional de uma solução de dois estados: Palestina e Israel.