Organização dos Estados Americanos condena tentativa de golpe na Bolívia
Instituição reforça repúdio internacional a movimento frustrado liderado por general para tomar o poder no país
A OEA (Organização dos Estados Americanos) aprovou nesta quinta-feira (27) uma resolução que condena a tentativa de golpe na Bolívia.
+ Entenda: Qual cenário levou a tentativa de tomada de poder no país?
O que aconteceu?
A imagem do general golpista preso foi a confirmação de que o golpe havia falhado. Horas antes, o general Juan José Zúñiga ficou cara a cara com o presidente do país, Luis Arce, e se recusou a obedecer às ordens para sair do palácio presidencial.
Ele invadiu a sede do governo boliviano depois de forçar a entrada com um tanque. Estava acompanhado de algumas dezenas de militares que embarcaram na aventura de um general irritado por ter perdido o posto de comandante do Exército.
A reação da comunidade internacional foi rápida. A condenação veio desde vizinhos governados pela esquerda, como Chile e Brasil até nações com presidentes conservadores, como Argentina e Uruguai.
Zúñiga percebeu que não teria como sustentar a tentativa de golpe e resolveu sair do palácio. As tropas golpistas que estavam na Praça Murillo, no centro de La Paz, fugiram hostilizadas pelos manifestantes favoráveis à democracia que se concentraram no local.
O que acontece agora?
O Ministério do Interior afirmou que Zúñiga será indiciado por tentativa de golpe e destruição de bens públicos.
A página do golpe militar parece ter sido virada, mas o presidente boliviano não terá vida fácil nos próximos tempos. Com baixos índices de popularidade, Luis Arce sofre oposição até de uma ala do seu partido, o Movimento ao Socialismo. O ex-presidente Evo Morales rompeu com seu antigo pupilo numa disputa de poder para a eleição de 2025. Com isso, parte dos movimentos sociais também abandonaram o governo.
Para que Morales pudesse ser candidato a um terceiro mandato, a Constituição do país precisaria ser modificada. Arce é contra.
"Essa foi a tempestade perfeita que fez com que o general Zúñiga tivesse ido à TV dois dias atrás dizer: 'nós, enquanto Exército, enquanto braço armado da pátria, temos autoridade pra fazer tudo'. O que é uma leitura completamente equivocada do papel das Forças Armadas dentro da democracia de um país", afirmou Arthur Murta, professor de Relações Internacionais da PUC/SP.
O movimento pela manutenção democrática que tomou as ruas não representa apoio automático ao presidente, que enfrenta ainda o descontentamento pelo mau desempenho econômico do país. É apenas uma trégua até as próximas eleições, em 2025.