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Lula subiu tom contra ataques de Israel para marcar posições dentro e fora do Brasil, diz pesquisador

Presidente comparou ataques israelenses na Faixa de Gaza ao Holocausto, gerando crise diplomática entre os dois países

Lula subiu tom contra ataques de Israel para marcar posições dentro e fora do Brasil, diz pesquisador
Lula durante conversa com imprensa na Etiópia | Ricardo Stuckert/PR
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez uma comparação entre os ataques israelenses na Faixa de Gaza às ações de Hitler contra judeus no Holocausto e abriu uma crise diplomática com Israel no domingo (18). Desde então, lideranças israelenses e da comunidade judaica teceram críticas ao petista que, inclusive, foi declarado "persona non grata" pelo governo de Israel.

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"O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus" – Lula.

O SBT News conversou com José Antonio Lima, pesquisador do Grupo de Trabalho Oriente Médio e Mundo Muçulmano da Universidade de São Paulo (USP) e editor da newsletter Tarkiz, sobre as relações internacionais do Oriente Médio, para entender melhor o conflito e as implicações da declaração do presidente brasileiro. O confronto começou em um ataque do Hamas que vitimou 1,4 mil israelenses e se arrasta há quatro meses, ocasionando a morte de mais de 29 mil palestinos.

Para o pesquisador, a escalada do discurso de Lula não está relacionada a uma "explosão de indignação". O petista, que já havia criticado a morte de mulheres e crianças palestinas e clamado por paz em diversas oportunidades, parece ter usado a viagem à Etiópia para marcar posições – no campo externo e também com sua própria militância.

Lima acredita que o presidente brasileiro aproveitou o momento, durante participação na cúpula da União Africana, para se firmar como uma liderança do Sul Global – expressão usada para se referir aos países ao redor do mundo que estão em desenvolvimento.

"A solidariedade aos palestinos tem sido um elemento central no chamado Sul Global, justamente porque a questão entre Israel e Palestina acaba por revelar a imensa e notória hipocrisia dos países ocidentais, portanto do Norte Global, diante dos problemas do mundo", afirma.

A fala de Lula tem ainda, segundo o pesquisador, o objetivo de se reconectar com sua base eleitoral mais à esquerda. Com um governo de coalizão, em que a presença de partidos diversos no campo político gera críticas entre os seus, essa seria uma tentativa de aliar o discurso – pelo menos nas relações exteriores – novamente com sua militância.

+ É genocídio? O que diz a lei internacional sobre o que acontece em Gaza

Comparação com o Holocausto

Para Lima, a comparação dos ataques israelenses à Gaza com o Holocausto teve uma grande repercussão por ser "lacradora". Ele acredita que a linguagem das redes sociais, de rebater e subir o tom contra quem está do outro lado, invadiu a diplomacia e o jornalismo.

"Lula poderia situar o que está acontecendo agora numa linha de eventos que têm alguma similaridade, em sua natureza, com o Holocausto, citando por exemplo o genocídio na Bósnia, o genocídio em Ruanda, genocídios que aconteceram inclusive antes do Holocausto, como o dos Hereros, na Namíbia. Mas essa construção retórica teria pouco impacto no tempo atual", diz ele.

O problema é que a declaração pode ser interpretada como uma banalização da morte de cerca de seis milhões de judeus de 1941 a 1945. "Ela é interpretada como altamente problemática porque é entendida como uma tentativa de minimizar o que aconteceu na 2ª Guerra Mundial, o que, na visão de muitas lideranças israelenses e também da comunidade judaica, é algo intolerável", diz.

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O que está acontecendo na Faixa de Gaza?

Crianças e mulheres palestinas são as principais vítimas do conflito | Crescente Vermelho Palestino
Crianças e mulheres palestinas são as principais vítimas do conflito | Crescente Vermelho Palestino

O pesquisador defende que há registro suficiente para afirmar que o governo israelense comete crimes de guerra na região. Além disso, a ideia de enviar palestinos para outro território, como defendeu o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, ao promover um plano de construção de uma ilha artificial no Mar Mediterrâneo para exilar os palestinos, é um projeto de limpeza étnica.

"A meu ver, o governo israelense utilizou o massacre realizado pelo Hamas em 7 de outubro para colocar em prática um projeto que tem como objetivo reduzir de forma drástica a população dentro da Faixa de Gaza. Tirar uma boa parte dos 2,3 milhões de palestinos que moram na Faixa de Gaza desta região para a Jordânia, para o Egito, para uma ilha artificial, para o Congo, para qualquer lugar", afirma.

No dia 26 de janeiro, a Corte Internacional de Justiça decidiu continuar com o processo apresentado pela África do Sul, que acusou Israel de cometer genocídio contra os palestinos. Na última sexta-feira (16), o mais importante órgão judicial da ONU determinou que o Estado de Israel continua obrigado a cumprir integralmente os termos da Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, garantindo a segurança e a proteção dos palestinos na Faixa de Gaza.

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