Mauro Vieira: Falas de Lula sobre guerra em Gaza estão em contexto de "profunda indignação"
Ministro das Relações Exteriores do Brasil disse que reação de Israel ao ataque do Hamas tem sido "desproporcional" e penaliza o povo palestino
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, disse nesta quinta-feira (14) que as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a guerra entre Israel o grupo radical Hamas se inserem num contexto de "profunda indignação" e lamentou comportamentos da chancelaria israelense, que declarou Lula persona non grata no país.
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O ministro participou de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado.
No último dia 18 de fevereiro, em evento na África, Lula comparou os ataques israelenses em Gaza com as ações de Adolf Hitler contra judeus no Holocausto. A fala gerou uma crise diplomática entre o Brasil e Israel. Esse foi um dos motivos do chanceler ter sido chamado para falar na CRE.
Em exposição inicial, Mauro Vieira ressaltou que, até o momento, são mais de 32 mil mortos e 73 mil feridos na Faixa de Gaza durante a guerra, 70% dos quais mulheres e crianças. Ele ressaltou, além disso, que há mais de 7 mil desaparecidos.
Do lado israelense, ele pontuou que foram 1.112 mortos no ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, e 251 soldados morreram desde a invasão de Gaza pelo exército de Israel.
"A questão é quantas vidas mais serão perdidas até que todos atuem para impedir o morticínio em curso. É nesse contexto de profunda indignação que se inserem declarações do presidente Lula. São palavras que expressam a sinceridade de quem busca preservar e valorizar um valor supremo que é a vida humana", acrescentou.
Segundo o ministro, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou, quando perguntado sobre "as declarações do presidente", que compreende que "foram motivadas pelo desejo de ver acabar o sofrimento das pessoas, com o que ele concordou". Em reunião com Lula em 21 fevereiro, um dos temas discutidos foi o comentário de Lula no dia 18. De acordo com Matthew Miller, porta-voz de Blinken, o secretário deixou claro discordar do brasileiro.
Chancelaria de Israel
Mauro Vieira lamentou, na audiência pública, "que a chancelaria de Israel tenha se dirigido de forma desrespeitosa a um chefe de Estado de um país amigo, o presidente Lula". Ele se referia a manifestações do chanceler israelense, Israel Katz, após a declaração de Lula. Um dia depois das declarações, Katz afirmou que Lula era uma "personalidade indesejada em Israel" até que pedisse desculpas e se retratasse de suas palavras.
Lula, ressaltou Mauro Vieira, "foi o primeiro chefe de Estado do Brasil a visitar Israel, em março de 2010, em visita oficial".
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"Reputo igualmente lamentável o tratamento indecoroso e descabido dado ao embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, que atendeu de boa fé uma convocação da chancelaria israalense. São páginas que desabonam a prática diplomática internacional", acrescentou o chanceler brasileiro. O governo de Israel fez uma reunião com o Meyer no Museu do Holocausto, em Jerusalém – normalmente o encontro aconteceria no Ministério das Relações Exteriores.
Conforme Mauro Vieira, o embaixador de Israel em Brasília, Daniel Zonshine, e o governo do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, "foram informados de que o Brasil reagirá com diplomacia sempre, mas com toda a firmeza, a qualquer ataque que receber, agora e sempre".
O chanceler disse estar seguro de que as relações do Brasil com Israel e a amizade do país sul-americano com o povo israelense "sobreviverão ao comportamento do atual governo de Israel".
Repúdio ao Hamas e à ofensiva israelense
De acordo com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, é preciso condenar e repudiar "a atrocidade do ataque terrorista sofrido por Israel" em 7 de outubro de 2023.
"Sim, Israel tem o direito de defender sua população, mas isso tem que ser feito dentro de regras do direito internacional".
Segundo o chanceler, a cada dia que passa, porém, "resta claro que a reação de Israel ao ataque sofrido tem sido extremamente desproporcional e não tem como alvo somente aqueles responsáveis pelo ataque, mas todo o povo palestino".