Cinquenta aves silvestres morrem após aplicação de adesivo repelente em condomínio no DF; polícia investiga
Moradores contrataram empresa de dedetização com a ideia de afastar pombos; Polícia Civil apura suspeita de maus-tratos contra animais

Vanessa Vitória
Cerca de 50 aves silvestres morreram no Distrito Federal após ficarem presas em produto adesivo repelente espalhado em telhado e muros de um condomínio. Moradores contrataram empresa de dedetização com ideia de afastar pombos do local.
A Delegacia de Repressão aos Crimes Contra os Animais (DRCA), da Polícia Civil (PCDF), investiga suspeita de maus-tratos após denúncia de uma advogada da causa animal, que entregou imagens e vídeos a autoridades.
+ Mulher de 50 anos é presa por maus-tratos contra animais no DF
O caso ocorreu no último sábado (27), em Vicente Pires. De acordo com o síndico Aparecido Silva, um casal de moradores estava incomodado com a presença constante de pombos no quintal da residência.
"Eles decidiram chamar uma empresa de dedetização, que informou que usaria um produto repelente para afastar os animais. Eles têm nota [fiscal] e tudo, a empresa teria dito que o material era seguro e autorizado", afirmou.
+ Polícia Civil de SP realiza operação contra hotel clandestino de animais na zona leste

Porém, de acordo com uma vizinha que preferiu não se identificar, minutos após aplicação de uma espécie de cola no telhado e no muro que fazem divisa com a casa dos pais dela, começaram a aparecer rolinhas e sabiás grudados, muitos já mortos.
"Primeiro, eu vi no quintal uma rolinha toda colada, eu peguei ela e tentei limpar, mas o material não saía com nada. Tentei usar farinha de trigo. As penas iam saindo só de esbarrar na ave", explicou a testemunha.
+ Ex-secretária de Bem-Estar Animal de Canoas é investigada por "matança" de cães resgatados
Ela comunicou o caso ao síndico do condomínio e os dois usaram uma escada para alcançar os pássaros grudados em uma altura de aproximadamente oito metros. "A maioria já estava morta. Conseguimos retirar uma média de 13 aves vivas, mas em condições precárias, algumas até com o bico colado", contou Aparecido.
A empresa responsável pela aplicação disse que o material utilizado é repelente e tem a finalidade apenas de afastar pombos. Segundo a nota enviada ao SBT News, o produto seria regularizado e não teria como objetivo maltratar as aves. O proprietário afirmou também que, quando soube do ocorrido, uma equipe retornou ao local no dia seguinte e removeu tudo.
+ Polícia Civil do DF encontra pelo menos 10 cachorros mortos em abrigo clandestino
Leia nota da empresa:
"A Ativa Conservação e Serviços LTDA., por meio desta, esclarece que em todas as suas atividades de prestação de serviços utiliza exclusivamente material repelente, cuja finalidade é apenas o afastamento de pombos.
Todos os produtos empregados pela empresa são atendidos e regularizados junto aos órgãos competentes, possuem caráter atóxico e são aplicados sempre em conformidade com as instruções de uso fornecidas pelo próprio fabricante.
Diante disso, a empresa não reconhece as alegações feitas. Ressaltamos que o produto em questão é regularizado apenas para afastar aves, jamais sendo destinado ou utilizado para qualquer prática de maus-tratos."
Investigação
De acordo com o delegado Jônatas Silva, chefe da DRCA, o caso configuraria crime mesmo se pombos, e não animais silvestres, tivessem grudado no adesivo repelente.
"A DRCA instaurou um inquérito para apurar a responsabilidade dos envolvidos e verificar a ocorrência de crimes de maus-tratos contra animais. A Polícia Civil reforça que a utilização de métodos cruéis que causem sofrimento ou morte dos bichos é crime e pode resultar em pena de detenção e multa", afirmou o delegado.
+ São Paulo sanciona lei que proíbe acorrentamento de cães e gatos no estado
Atendimento veterinário
As aves que sobreviveram foram resgatadas e encaminhadas ao Hospital e Centro de Reabilitação da Fauna Silvestre do Distrito Federal (HFAUS), onde estão em atendimento e vão passar por reabilitação antes de serem devolvidas à natureza.
Silva reforçou que quem enfrenta problemas com pombos deve procurar órgãos ambientais. "Entra em contato com o Instituto Brasília Ambiental [Ibram], com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis [Ibama], mas não chama empresa de dedetização em caso de aves", orientou.