Família envenenada no Piauí: Polícia analisa exumar corpos de outros parentes mortos
Maria dos Aflitos, mãe e avó de 7 vítimas que morreram contaminadas, e o companheiro, Francisco de Assis, estão presos pelo crime
Emanuelle Menezes
com informações da TV Cidade Verde
A Polícia Civil do Piauí analisa a possibilidade de solicitar a exumação dos corpos de duas pessoas que moravam na casa em que uma família inteira foi envenenada com terbufós, em Parnaíba, litoral do estado.
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As exumações seriam dos corpos do antigo marido de Maria dos Aflitos, uma das suspeitas do crime, e do pai das crianças mortas. Os dois morreram por "causas não identificadas" e, segundo a Polícia, podem ter sido vítimas da trama armada pela mulher e seu atual companheiro, Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos.
"Maria dos Aflitos teve um relacionamento passado, o marido veio a óbito, e vamos estar com uma linha de investigação para saber o que aconteceu, se foi uma morte natural ou não. Estamos fazendo levantamentos de boletins, histórico do passado, ouvindo a vizinhança. Também houve um genro da Maria dos Aflitos, marido da filha dela (Francisca) que veio a falecer. Temos que fazer essa análise, porque todos moravam juntos na mesma casa, na época", contou o delegado regional de Parnaíba, Williams Pinheiro.
Ainda segundo o delegado, a dúvida é se o veneno terbufós pode ser encontrado nos ossos, já que os dois homens morreram há mais de um ano. A perícia feita nos corpos dos envenenados com o baião de dois examinou o conteúdo que havia no estômago e no intestino das vítimas para constatar a contaminação.
Dois filhos e três netos de Maria dos Aflitos morreram após consumirem um baião de dois contaminado no dia 1º de janeiro. As vítimas fatais são:
- Manoel Leandro da Silva, de 18 anos (filho de Maria dos Aflitos e enteado de Francisco);
- Francisca Maria da Silva, de 32 anos (filha de Maria dos Aflitos e enteada de Francisco);
- Igno Davi Silva, de 1 ano e 8 meses (neto de Maria dos Aflitos, filho de Francisca Maria);
- Maria Lauane Fontenele, de 3 anos (neta de Maria dos Aflitos, filha de Francisca Maria);
- Maria Gabriele Fontenele, de 4 anos (neta de Maria dos Aflitos, filha de Francisca Maria);
- Maria Jocilene da Silva, de 41 anos (vizinha de Maria dos Aflitos que, supostamente, tinha um relacionamento amoroso com ela).
A última vítima a morrer, Maria Jocilene da Silva, era vizinha da família e chegou a comeu o arroz envenenado com terbufós, mas recebeu alta um dia depois. Após 20 dias, no entanto, ela morreu. A investigação apontou que a mulher passou mal após tomar café da manhã na casa de Maria dos Aflitos.
A matriarca da família, presa na última sexta-feira (31), confessou que colocou veneno no café que foi servido a ela. Francisco de Assis, atual companheiro dela, foi segue detido desde o último dia 8. De acordo com as investigações, ele é o principal suspeito dos assassinatos.
Além das seis vítimas envenenadas no Ano Novo, outras duas crianças da mesma família morreram em agosto de 2024. Ulisses, de 8 anos, e João Miguel, de 7 – ambos filhos de Francisca Maria –, também foram contaminados. Francisco é investigado também por essas mortes.
O que motivou o crime?
Segundo as investigações, Francisco de Assis queria eliminar os outros membros da família para viver sozinho com Maria dos Aflitos. De acordo com a apuração, os dois tinham um vínculo muito forte e o homem convenceu Maria dos Aflitos de que a dificuldade financeira que eles passavam era oriunda da quantidade de pessoas que viviam na casa.
Segundo a polícia, Maria dos Aflitos tem 10 filhos e pelo menos oito ainda moravam na casa – incluindo Francisca Maria e seus cinco filhos, netos da matriarca.
Baião de dois envenenado
Nove pessoas da mesma família foram internadas após comerem o baião de dois envenenado, no dia 1º de janeiro. Segundo a Polícia Civil, o baião de dois consumido havia sido contaminado com pesticida. O laudo do Departamento de Polícia Científica do Piauí confirmou a presença de terbufós na comida e no estômago das vítimas.
Seis dos intoxicados morreram. Outros três receberam alta – incluindo Francisco Pereira. Ele chegou a ser internado alegando ter ingerido a comida envenenada junto com as outras oito pessoas, mas foi liberado no mesmo dia. A polícia suspeita que ele tenha mentido. Maria dos Aflitos não comeu o baião de dois.
De acordo com os investigadores, o padrasto tinha uma relação tumultuada com Francisca Maria e com os outros moradores da casa onde o crime aconteceu. O homem, segundo o delegado Abimael Silva, tinha "nojo" e "raiva" da enteada e acreditava que ela era uma "criatura de mente vazia".
Outro envenenamento
A tragédia envolvendo o mesmo núcleo familiar começou ainda em 2024, quando Francisca Maria perdeu outros dois filhos envenenados. Ulisses, de 8 anos, e João Miguel, de 7, morreram após comerem cajus, supostamente contaminados com chumbinho e entregues por uma vizinha. Lucélia Maria da Conceição, de 53 anos, foi presa como principal suspeita, apesar de alegar inocência.
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No entanto, as novas mortes na família, no início deste ano, levaram à reabertura do caso. O laudo da Polícia Científica do Piauí, realizado só cinco meses depois, mostrou que os cajus não estavam contaminados, e o padrasto da mãe das crianças passou a ser investigado como responsável pelas mortes. Ele é o principal suspeito dos dois crimes
A vizinha, que ficou presa injustamente desde agosto, foi solta no último dia 13.