Delação de Ronie Lessa: assassino de Marielle diz que delegado Rivaldo era “suporte de operação”
Conforme ex-PM, delegado que chefiava a Polícia Civil tirava o foco da investigação para evitar prisões de envolvidos
Nove dias após o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista dela Anderson Gomes, o delegado Rivaldo Barbosa, então chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, deu declarações contrárias à entrada da Polícia Federal no caso.
No depoimento de Ronnie Lessa, o ex-policial militar que é assassino confesso do crime, disse que tinha a sensação de que o delegado Rivaldo era o “suporte da operação”. A conclusão de Lessa teria sido tomada após uma reunião que ele teve com os irmãos Chiquinho Brazão (deputado federal) e Domingos Brazão (conselheiro do Tribunal de Contas do Rio), indiciados pela PF como mandantes do crime.
Diz um trecho do relatório da PF: “Ronnie Lessa expõe as impressões que teve após a reação dos mandantes frente ao diálogo: ‘a impressão que ele passa é que o Rivaldo é quase parte integrante do plano inicial’”.
As informações constam da delação premiada de Lessa, que teve seu sigilo levantado nesta sexta-feira (7) por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Virando o canhão para outro lado”
Conforme os documentos, Lessa afirmou que uma das funções de Rivaldo Barbosa era mudar os rumos da investigação e que teria recebido dinheiro de Chiquinho e Domingos Brazão para isso.
“Eles [irmãos Brazão] tranquilizaram a gente o tempo todo, falaram o tempo todo que o Rivaldo estava vendo, que o Rivaldo já está redirecionando e virando o canhão pra outro lado, que ele teria de qualquer forma que resolver isso, essa questão, que já tinha recebido pra isso no ano passado, no ano anterior, ele foi bem claro com isso”, disse Lessa aos investigadores
Ronnie Lessa ainda afirmou para a Polícia Federal que, antes de participar de um conluio com Rivaldo Barbosa, o delegado o perseguia. Citou um caso em que disse ter sido extorquido pela equipe de Rivaldo no ano de 2013. Segundo seu relato, a equipe que o policial dirigia na delegacia de homicídios cobrou R$ 20 mil para não colocar a mãe de uma filha de Lessa como investigada em um caso de porte ilegal de arma de fogo.
Marielle e Anderson foram assassinados em 14 de março de 2018, no Rio. O caso só foi solucionado depois que a Polícia Federal passou a investigá-lo. A motivação teria sido porque Marielle tentava dificultar na Câmara Municipal a regularização de loteamentos até então irregulares no Rio de Janeiro. As apurações da polícia concluíram que a atuação da então vereadora ia ao encontro dos interesses dos irmãos Brazão, que teriam interesse em grilagens dessas áreas juntamente com milicianos.
Atualmente, Lessa, os irmãos Brazão e o delegado Rivaldo estão presos por suspeita de participação no caso. Outro que está detido é Élcio de Queiroz, que foi o motorista do veículo usado na emboscada à vereadora. Rivaldo e os irmãos Brazão negam envolvimento no caso.