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Brasil queimou 11 milhões de hectares de janeiro até agosto de 2024: "Aumento explosivo", diz Ipam

Número representa crescimento de 85% em relação à média dos último cinco anos e de 116% frente a 2023

Brasil queimou 11 milhões de hectares de janeiro até agosto de 2024: "Aumento explosivo", diz Ipam
Detalhe de uma árvore queimada em incêndio florestal que atingiu Pantanal em 2023 | Divulgação/Joédson Alves/Agência Brasil
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Brasil queimou 11 milhões de hectares de janeiro até agosto de 2024, segundo nota técnica divulgada nesta sexta-feira (27) pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Esses números evidenciam "um aumento explosivo" de incêndios no país: de 85% em relação à média dos cinco anos anteriores e um crescimento de 116% frente a 2023.

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Nos primeiros oito meses de 2024, todas as categorias fundiárias observadas registraram um aumento significativo na área queimada. Aqui, é preciso observar cruzamentos distintos:

  • Imóveis Rurais Grandes (IRG) e Terras Indígenas (TI) são os que mais queimaram em números absolutos. Respectivamente (em comparação ao período do ano anterior): 163%, ou acréscimo de 1,8 milhão de hectares, e 80,6%, que representam 1,4 milhão de hectares a mais;
  • Já as Florestas Públicas Não Destinadas (FPND) lideram no ranking em termos percentuais. Isto é, na proporção da área afetada frente a extensão total da categoria. Foram cerca de 555 mil hectares: ou um crescimento de 176%.
"Os dados indicam as categorias fundiárias mais impactadas pelo avanço do fogo no Brasil nos primeiros oito meses de 2024, evidenciando a urgência de ações direcionadas à prevenção, e ao uso controlado do fogo de forma a reduzir os acidentes, combater o seu uso criminoso e mitigar os impactos sobre os biomas brasileiros e a população", descreve a nota do Ipam.

Veja tabela:

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Imóveis Rurais

Para o intervalo analisado em 2024, em particular, os IRG foram os que mais dobraram a área queimada em comparação a 2023, refletindo um aumento significativo no uso do fogo em grandes propriedades. O instituto analisa que uma possível justificativa seria a prática agrícola de uso do fogo.

"Tanto pela expansão de áreas ocupadas por essas atividades, quanto pela forma de manejo produtivo das mesmas [...] pode estar relacionado ao uso extensivo do fogo para limpeza de pastagens e práticas agrícolas", explica.

Nesse sentido, especialistas concordam com a culpabilização do setor agropecuário. Separando dados por biomas, por exemplo, vemos que enquanto na Amazônia os focos são voltados para unidades de conservação de maneira criminosa a fim de promover a grilagem e a devastação, no Cerrado, com 4,1 milhões de hectares queimados no período analisado em 2024, 40% são em áreas de IRG.

O uso extensivo do fogo em grandes propriedades, relacionado ao manejo agropecuário, pressiona os ecossistemas já fragilizados pela atividade humana, dependendo da forma e do período em que acontece. A "savana brasileira", abrigada nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Tocantins, Bahia, Maranhão, Piauí e no Distrito Federal, passa atualmente por uma seca histórica que já chega a mais de 5 meses de estiagem em alguns pontos.

Distribuição da área queimada nas principais categorias fundiárias do Brasil entre janeiro e agosto de 2019 a 2024 | Reprodução Ipam
Distribuição da área queimada nas principais categorias fundiárias do Brasil entre janeiro e agosto de 2019 a 2024 | Reprodução Ipam

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Outro exemplo é a Caatinga, com 51 mil hectares queimados no intervalo. A área se distribui de forma equilibrada entre IRGs (21%), IRMs (21%) e IRPs (18%), com Assentamentos Rurais correspondendo a 8% das áreas queimadas. "Esse padrão sugere um uso variado do fogo em propriedades rurais de diferentes portes, refletindo tanto práticas agrícolas quanto o manejo de pequenas propriedades familiares", explica nota técnica.

O bioma está presente nos estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e na região norte de Minas Gerais.

Amazônia

Agora, quando aponta-se para área afetada em TIs e FPNDs, destaca-se especificamente o bioma da Amazônia (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Maranhão e Tocantins).

Com um total de 5,4 milhões hectares queimados de janeiro a agosto de 2024, 51% desses foram em regiões com apelo conservativo ambiental: 40% nas categorias fundiárias citadas acima e 11% em UCs. IRGs foram alvo de destruição em 14% desses hectares.

Essa distribuição indica uma forte pressão sobre áreas públicas protegidas formalmente, bem como sobre aquelas ainda em processo de destinação, como as FPNDs – terras sem título que não pertencem a nenhuma categoria de posse especificada por lei, tornando-as alvo fácil para grileiros e exploração ilegal de recursos naturais.

"Esse cenário é provavelmente causado pela expansão ilegal de atividades agropecuárias e madeireiras, grilagem de terras, avanço do garimpo", pondera o estudo.

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Outros biomas

O Pantanal registrou 1,2 milhão de hectares consumidos nos primeiros oito meses do ano, sendo a maior parte em Imóveis Rurais Grandes (74%) dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Outros destaques:

  • Unidades de Conservação: 14% da área queimada;
  • Imóveis Rurais Pequenos: 4%.
"O uso predominante do fogo em grandes propriedades no Pantanal está associado ao manejo de pastagens e à pecuária extensiva também prioritariamente em pastagens nativas, frequentemente afetando áreas de conservação", afirma o Ipam.

Já a Mata Atlântica, com 615 mil hectares queimados, apresentou uma grande área queimada em Imóveis Rurais Grandes (33%) e Médios (22%) e Pequenos (20%). Mas também:

  • Unidades de Conservação: 15%.

Isso demonstra uma distribuição da área atingida mais diversificada, "evidenciando pressões sobre propriedades rurais e áreas de conservação em um bioma já fortemente fragmentado". O bioma se estende por 17 estados litorâneos brasileiros, tendo maior concentração entre Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina – onde é predominante.

O aumento significativo da ocorrência de fogo na Mata Atlântica foge do padrão histórico, no comparativo entre um ano e outro (veja mais abaixo), "já que o uso do fogo para colheita da cana-de-açúcar no Centro-Sul e como prática sistêmica na agropecuária não é mais comum". Foi o segundo maior aumento de área queimada entre os biomas para o intervalo analisado em 2024: alta de 570% em relação aos mesmos meses do ano anterior.

Por fim, o Pampa (localizado apenas no Rio Grande do Sul) registrou 2.701 hectares incendiados, com a maior parte da área concentrada em Imóveis Rurais Grandes (35%) e Pequenos (34%), seguidos por:

  • Imóveis Rurais Médios: 18%;
  • Unidades de Conservação: 2%.
"A distribuição equilibrada entre grandes e pequenas propriedades indica o uso do fogo em diferentes escalas de produção rural, muitas vezes para renovação de pastagens e atividades agropecuárias".

O aumento significativo de incêndios no pantanal, 5,5 mil % entre períodos (janeiro a agosto), frente ao ano de 2023, deve-se, também, "à seca extrema que afeta o bioma" e agrava a intensidade e o alastramento dos incêndios "mal manuseados". 79% da área queimada de janeiro a agosto de 2024 (1,2 milhão de hectares) ocorreram em propriedades rurais.

"Para melhorar o manejo do fogo no Pantanal, é essencial implementar práticas de manejo integrado que considerem as condições ambientais específicas do bioma, especialmente em anos de seca extrema. Recomenda-se a criação de planos de queima prescrita em períodos estratégicos, sob condições controladas, para reduzir a biomassa combustível e, assim, diminuir o risco de incêndios descontrolados em Imóveis Rurais Grandes, que representam a maior parte da área queimada."
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