Um a cada cinco discursos de Lula aborda guerra na Ucrânia ou conflito em Gaza
No total, presidente fez 437 discursos e pronunciamentos desde o início do terceiro mandato
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) relembrou a guerra na Ucrânia ou a guerra entre Israel e o grupo extremista Hamas em 82 dos discursos e pronunciamentos que fez desde o início do terceiro mandato. O número corresponde a cerca de 20% do total de falas do petista desde 1º de janeiro de 2023.
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Foram 437 até o discurso lido, nesta segunda-feira (18), na segunda Sessão da Reunião de Líderes do G20: Reforma das Instituições de Governança Global, no Rio de Janeiro. Os números foram levantados pelo SBT News a partir de análise, por meio da ferramenta Pinpoint, do Google. Os discursos foram disponibilizados no portal Gov.br.
A fala na segunda Sessão da Reunião de Líderes do G20 (grupo que reúne as 19 principais economias do mundo, a União Europeia e a União Africana) é a mais recente de Lula e também a última em que ele citou os dois conflitos — que estão entre os principais no planeta na atualidade.
"Do Iraque à Ucrânia, da Bósnia a Gaza, consolida-se a percepção de que nem todo território merece ter sua integridade respeitada e nem toda vida tem o mesmo valor", declarou o presidente brasileiro, após criticar a atuação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
A guerra na Ucrânia está em andamento desde 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu o país vizinho, e não dá sinais de que terminará em breve. No último final de semana, veio à tona a informação de que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou a Ucrânia a usar mísseis de longo alcance fornecidos pelos americanos no conflito.
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O governo Lula é contra a invasão do território ucraniano pela Rússia e defende que as negociações de paz envolvam os dois lados da guerra. Em junho, o Brasil não assinou o manifesto, resultado da Cúpula da Paz para a Ucrânia, que defende que a "integridade territorial" do país presidido por Volodymyr Zelensky precisa ser a base para qualquer negociação de paz no leste europeu.
A Cúpula, realizada na Suíça, teve participação de 101 países. O encontro não teve participação da Rússia. Lula não compareceu, e o país foi representado pela embaixadora na Suíça, Claudia Fonseca Buzzi.
Em setembro, durante discurso na Assembleia Geral da ONU, Zelensky criticou o Brasil e a China por tentarem mediar a guerra. O presidente ucraniano enfatizou que o aumento de poder de qualquer nação não deve ocorrer às custas da Ucrânia, em indireta aos dois países. Zelensky falou duvidar do "real interesse" de Brasil e China ao pressionarem para liderar o diálogo entre os dois países que participam do conflito.
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No que diz respeito à guerra entre Israel e o Hamas, o início foi em 7 de outubro do ano passado, após o grupo extremista, que controla a Faixa de Gaza, promover um ataque terrorista contra o país. A ação resultou na morte de 1.163 pessoas e na tomada de 251 indivíduos como reféns, dos quais se estima que cerca de 100 ainda estão em cativeiro. Desde o início da guerra, mais de 42 mil pessoas foram mortas em Gaza, 70% dos quais mulheres e crianças.
O governo Lula condenou o ataque do Hamas, mas critica também o nível da reação de Israel. Para o Executivo, o país não está se defendendo dentro das normas do direito internacional e reagiu de forma desproporcional.
Os discursos e pronunciamentos de Lula
As menções de Lula às guerras na Ucrânia e em Israel nos discursos e pronunciamentos ocorreram num momento em que o governo federal busca ter uma política externa "ativa e altiva" e retomar o protagonismo internacional do Brasil. Esse tem sido um dos focos do terceiro governo Lula desde o início.
A reportagem chegou à quantidade de 82 discursos e pronunciamentos ao procurar aqueles em que o petista relembrou ao menos uma das guerras de forma direta.
Do total, em 24 o presidente fez menção a ambos os conflitos. Um dos exemplos também foi o discurso na abertura da 79ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em 24 de setembro. "Na Ucrânia, é com pesar que vemos a guerra se estender sem perspectiva de paz. O Brasil condenou de maneira firme a invasão do território ucraniano. Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar", pontuou Lula sobre o mais antigo.
"O recurso a armamentos cada vez mais destrutivos traz à memória os tempos mais sombrios do confronto estéril da Guerra Fria. Criar condições para a retomada do diálogo direto entre as partes é crucial neste momento", prosseguiu.
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Ainda de acordo com Lula, "essa é a mensagem do entendimento de seis pontos que China e Brasil oferecem para que se instale um processo de diálogo e o fim das hostilidades".
Em relação à guerra entre Israel e o Hamas, declarou: "Em Gaza e na Cisjordânia, assistimos a uma das maiores crises humanitárias da história recente, e que agora se expande perigosamente para o Líbano. O que começou como ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes, tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino".
De acordo com o presidente, o direito de defesa de Israel "transformou-se no direito de vingança, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo".
Foram 27 discursos e pronunciamentos desde o início do mandato em que Lula citou a guerra entre Israel e o Hamas, mas não a o conflito entre Rússia e Ucrânia. Dentre as falas, a mais recente é do último domingo (17).
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Em discurso na sessão de abertura do Urban 20 (iniciativa que congrega cidades dos países membros do G20), no Rio de Janeiro, o presidente ressaltou que "a Faixa de Gaza, um dos mais antigos assentamentos urbanos da humanidade (4.000 a.C), teve dois terços de seu território destruídos por bombardeios indiscriminados. 80% de suas instalações de saúde já não existem mais".
Nas palavras do presidente ainda, "sob seus escombros, jazem mais de 40 mil vidas ceifadas". "Não haverá paz nas cidades se não houver paz no mundo", afirmou.
Já em relação aos discursos e pronunciamentos em que o petista citou a guerra entre Rússia e Ucrânia, mas não o conflito entre Israel e o Hamas, foram 31 até o momento. Um exemplo é o discurso feito pelo presidente na abertura da III Cúpula Celac-UE, em Bruxelas, em 17 de junho do ano passado.
"A guerra na Ucrânia é mais uma confirmação de que o Conselho de Segurança das Nações Unidas não atende aos atuais desafios à Paz e à Segurança. Seus próprios membros não respeitam a Carta da ONU", afirmou Lula.
Outras declarações
Nem todas as declarações feitas por Lula durante o mandato sobre as duas guerras aparecem nos registros do portal Gov.br. O presidente já falou mais sobre os temas publicamente.
Uma das ocasiões que não constam na página é a entrevista coletiva em que Lula afirmou que o que está acontecendo em Gaza "não é uma guerra, mas um genocídio" e comparou os ataques israelenses na região às ações de Adolf Hitler contra judeus no Holocausto.
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Israel reagiu às declarações e classificou Lula como "persona non grata", exigindo desculpas. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu alertou que o presidente brasileiro tinha cruzado uma "linha vermelha" ao equiparar o governo israelense a Hitler.
Em mais uma reação, o ministro das Relações Exteriores do país do Oriente Médio, Israel Katz, chamou o embaixador do Brasil no território israelense, Frederico Meyer, para uma visita ao Museu do Holocausto, no que foi visto pelo governo brasileiro como constrangimento público ao diplomata.
Por causa da "humilhação" ao embaixador, ele foi chamado de volta pelo governo brasileiro e o transferiu para Genebra, na Suíça, para ocupar cargo de representante do Brasil na Conferência do Desarmamento. O país permanece sem embaixador em Israel.
Os discursos do presidente Lula, compilados no Pinpoint, podem ser acessados aqui.