Lula: COP30 precisa "convencer chefes de Estado de que questão climática não é invenção de cientistas"
Presidente discursou na abertura da 3ª Conferência da ONU sobre os Oceanos; chefe do Executivo também alertou que mudança do clima "pode dizimar a humanidade"

Felipe Moraes
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta segunda-feira (9), que a COP30 em Belém, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, precisa tomar decisões importantes sobre o tema. A primeira delas, para o chefe o Executivo brasileiro, é "convencer os chefes de Estado desse mundo de que a questão climática não é invenção de cientistas nem é brincadeira de gente da ONU".
Lula fez discurso na abertura da 3ª da Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os Oceanos, realizada em Nice, na França. No recado a chefes de Estado sobre questão climática, o presidente brasileiro não citou diretamente nomes como o do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
No fim de semana, em coletiva de imprensa, disse que vai ligar pessoalmente para o mandatário norte-americano caso ele não confirme presença na COP30.
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Também sem citar Trump ou outros chefes de Estado críticos que costumam relativizar mudanças do clima, Lula comparou efeitos da atual guerra comercial, impulsionada por "tarifaço" dos EUA, aos perigos da falta de cuidado com os oceanos.
"O oceano é o maior regulador climático do planeta, em função de toda a cadeia de vida que ele abriga. Hoje, porém, paira sobre o oceano a ameaça do unilateralismo. Não podemos permitir que ocorra com o mar o que aconteceu no comércio internacional, cujas regras foram erodidas a ponto de deixar a OMC inoperante", disse.
O presidente brasileiro ainda reforçou que líderes mundiais precisam "evitar que os oceanos se tornem palco de disputas geopolíticas". "Canais, golfos e estreitos devem nos aproximar e não ser motivo de discórdia. O Brasil está comprometido a ratificar o Tratado do Alto Mar ainda este ano, para assegurar a gestão transparente e compartilhada da biodiversidade além das fronteiras nacionais", garantiu.
Lula lamentou impactos da mudança do clima Amazônia e alertou que "florestas tropicais estão sendo empurradas para seu ponto de não retorno". "O oceano está febril. Em apenas um ano, a temperatura média do mar elevou-se quase o mesmo que nas quatro décadas anteriores. A ciência comprova que a causa dessa enfermidade é o aquecimento global e o uso de combustíveis fósseis", completou.
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Citando o secretário-geral da ONU, António Guterres, Lula enumerou três "decisões importantes" que precisam ser tomadas na COP30, marcada para novembro, em Belém:
"Primeiro, a decisão de convencer os chefes de Estado desse mundo de que a questão climática não é invenção de cientistas nem é brincadeira de gente da ONU. A questão climática é uma necessidade vital de preservação do nosso ambiente e que a gente vai ter de tomar uma decisão.
Primeiro, se acredita ou não. Se acredita, nós vamos ter de decidir que não existe outro espaço para a gente viver, é no Planeta Terra.
Segundo: que a questão climática pode dizimar a humanidade. É preciso saber se acredita.
Terceiro: nós temos que dizer aos chefes de Estado que precisamos começar a investir na educação no Ensino Fundamental na questão do clima, porque depois dos 18 anos nós temos que fazer placas dizendo que é proibido fazer isso, é proibido fazer aquilo, para jovens rebeldes que não querem obedecer."
Na parte final do discurso, Lula acrescentou que é "mais barato" e "mais fácil" enfrentar mudanças do clima "quando a gente mudar o nosso currículo escolar e colocar a questão climática para que as crianças aprendam da creche até a universidade que elas precisam cuidar do ambiente em que eles vivem".
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O presidente estendeu convite a todos os chefes de Estado para a COP30 e voltou a cobrar, como em outros pronunciamentos, que países ricos paguem "dívida com o contencioso de emissão de gases de efeito estufa".
"Quem quer conhecer a Amazônia, quem defende tanto a Amazônia precisa ir na Amazônia para ver a nossa COP30. Para as pessoas saberem que embaixo de cada copa de árvore que a gente quer preservar tem uma criança, tem um indígena, tem um pescador, tem um seringueiro, tem um extrativista, tem um ser humano."