Crise climática abre portas para violência contra mulheres, diz estudo da ONU
Iniciativa Spotlight revela que cada grau Celsius a mais na temperatura aumenta a violência entre parceiros íntimos em quase 5%

Beto Lima
A crise climática não traz apenas eventos extremos e mudanças no planeta, mas também um impacto crescente na vida de mulheres e meninas em todo o mundo. Um novo relatório da Iniciativa Spotlight das Nações Unidas divulgado nesta quarta-feira (23) acende um alerta preocupante: o aumento da temperatura global e os desastres naturais intensificam a violência de gênero, elevando casos de agressão por parceiros íntimos, feminicídios, casamento infantil, tráfico de pessoas e exploração sexual.
O estudo aponta que a cada grau Celsius a mais na temperatura, a violência entre parceiros íntimos cresce quase 5%, com projeções alarmantes para as próximas décadas caso o aquecimento continue no ritmo atual.
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O relatório da ONU detalha como as mudanças climáticas atuam como um catalisador de fatores sociais e econômicos já existentes, que contribuem para o aumento da violência contra mulheres e meninas.
Eventos climáticos extremos, como inundações e secas, deslocam populações, geram insegurança alimentar e instabilidade econômica, criando um terreno fértil para a violência baseada em gênero, especialmente em comunidades onde as mulheres já se encontram em situação de maior vulnerabilidade.
A Iniciativa Spotlight identificou um padrão claro de aumento da violência após a ocorrência de desastres climáticos. Um estudo citado no relatório revela um aumento de 28% nos casos de feminicídio durante as ondas de calor.
A pesquisa também aponta que mulheres e meninas em situação de pobreza, incluindo agricultoras e moradoras de áreas urbanas precárias, são particularmente afetadas. Mulheres indígenas, com deficiência, idosas e pertencentes à comunidade LGBTQIA+ também enfrentam riscos ainda maiores, com acesso limitado a serviços de apoio e proteção.
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As projeções para a África Subsaariana são especialmente sombrias: caso as temperaturas aumentem 4°C, a violência entre parceiros íntimos pode quase triplicar até 2060. No entanto, o relatório oferece uma esperança, indicando que limitar o aquecimento global a 1,5°C poderia reduzir significativamente a proporção de mulheres afetadas pela violência.