Cúpula do Congresso entra em pé de guerra com líderes do governo Lula
Crises paralelas na Câmara e no Senado pressionam o Planalto às vésperas das últimas votações do ano


Murilo Fagundes
A relação do governo Lula (PT) com o comando do Congresso vive um dos seus momentos mais tensos desde o início do mandato. A poucas semanas do fim do ano legislativo, o Planalto enfrenta conflitos simultâneos nas duas Casas.
Na Câmara, o impasse envolve o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), e o presidente da Casa, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB). A crise se tornou pública depois que Lindbergh acusou Motta de agir “na surdina” e de forma “errática” na condução de diversas matérias.
Em mensagem divulgada nas redes sociais, Lindbergh afirmou que, se há uma crise de confiança entre o governo e o presidente da Câmara, isso decorre das escolhas do próprio Hugo Motta. Segundo ele, Motta deve “assumir as responsabilidades por suas ações”.
O atrito se agravou na disputa pela relatoria do PL Antifacção, projeto elaborado pelo Ministério da Justiça e tratado como prioritário pelo governo. Apesar disso, Hugo Motta entregou a relatoria ao deputado Guilherme Derrite (PL-SP), que está licenciado do cargo de secretário de Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O movimento foi lido dentro do Planalto como uma tentativa de esvaziar a influência do PT na pauta de segurança pública.
No Senado, o clima também é de desgaste. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), se queixa de não ter sido ouvido pelo Planalto na escolha de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Alcolumbre esperava ter peso na decisão e defendia, nos bastidores, a indicação de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a Corte. A escolha final por Messias foi interpretada como revés e aumentou o incômodo com o governo.
Lula também não ligou para Alcolumbre a fim de comunicar sua decisão final por Messias, o que deixou o senador irritado.
Os dois conflitos surgem em um momento sensível para o Planalto. O governo ainda precisa aprovar o Orçamento e garantir votos suficientes para confirmar Messias no Senado.
Há preocupação real com a margem de votação. Aliados admitem que o placar pode ser apertado e exigirá reforço na articulação política.
Lula retorna a Brasília na terça-feira (25) e deve atuar pessoalmente para tentar recompor apoios e reduzir tensões nas duas Casas.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, responsável pela coordenação política, acompanha de perto o avanço das crises. A avaliação é de que o governo precisará ampliar o diálogo para evitar derrotas simultâneas no Congresso Nacional.









