Como lideranças da esquerda e da direita reagiram ao voto de Fux no julgamento de Bolsonaro
Ministro do STF iniciou discurso afirmando que a corte não tem competência para avaliar o caso de tentativa de golpe e votou pela 'nulidade absoluta' da ação

Sofia Pilagallo
O voto do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, dividiu opiniões entre a esquerda e a direita, até mesmo entre lideranças do mesmo espectro político.
Terceiro a votar no julgamento do "núcleo crucial" do processo por tentativa de golpe de Estado, Fux iniciou seu voto afirmando que STF não tem competência para avaliar o caso e votou pela "nulidade absoluta" da ação.
O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) afirmou, em publicação no X (antigo Twitter), que o voto do ministro minimiza a tentativa de golpe e chegou a estabelecer um paralelo entre o magistrado e o nazista Adolf Hitler.
"O voto do ministro Fux minimiza a tentativa de GOLPE. Lembrando que Hitler também foi considerado "só" um bravateiro e olha no que deu...", escreveu. "Mas não adianta, NADA muda o destino de Bolsonaro e seus golpistas. A democracia vai vencer!"
Ainda no espectro da esquerda, lideranças afirmaram acreditar que o voto é, de certa forma, positivo. Isso porque a divergência desbanca a narrativa de que haveria uma suposta "ditadura" do Poder Judiciário e mostra que o processo jurídico do Brasil é democrático.
Ao chegar para a sessão da tarde, no STF, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) disse que o voto de Fux mostra que "os ministros [da corte] pensam com a própria cabeça". Em consonância com essa linha de pensamento, o ex-deputado federal Marcel Freixo declarou que o posicionamento do ministro, contrário ao dos demais, evidencia "que nossa democracia segue em pleno funcionamento".
Outras lideranças da esquerda, como a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), apontaram contradições no discurso de Fux. No X, ela disse que o voto estaria "100% alinhado" com a linha argumentativa da defesa de Bolsonaro.
"O voto de Fux, com dezenas de contradições, vem 100% alinhado com o que pediu a defesa do inelegível", escreveu. "De repente, um ministro que votou em todas as condenações da tentativa de golpe de estado agora alega que o STF e a 1ª turma sequer podem julgar este caso. No mínimo curioso."
Entre as lideranças da direita, o voto de Fux foi amplamente, sob a prerrogativa de que ele está fazendo valer a Constituição. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) endossou um trecho da fala de Fux, em que ele afirmou que Bolsonaro "é ex-presidente, mas está sendo julgado como presidente", portanto, o julgamento deveria ir a Plenário.
"Fux lembrando o ÓBVIO para os lacaios de Lula", acrescentou Nikolas, em publicação no X.
Em consonância com argumentação de Nikolas, o pastor Silas Malafaia afirmou que "o processo deve ser anulado" porque "mudou a jurisprudência" quando já havia sido iniciado. O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) se limitou a dizer que Fux "honra a toga".
O líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS), tuitou que o voto de Fux está “destruindo o teatro criado” por Alexandre de Moraes, e precisará ser protegido por ter coragem.
"A frase do dia é: 'Fux honra a toga’. Anula tudo”, escreveu o deputado.
Próximos passos do Julgamento
A ministra Cármen Lúcia, do STF, será a quarta magistrada a votar no julgamento de Bolsonaro. Espera-se que ela apresente seu voto nesta quinta-feira (11), mas não há confirmação.
Após a ministra, será a vez de Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal). A expectativa é de que o julgamento seja concluído na sexta-feira (12).