Veja quem são os membros do PCC que mataram os responsáveis pelo plano de sequestrar Moro
Criminosos foram assassinados após falha na missão de sequestrar autoridades; crime escancara problemas graves mesmo em penitenciária de segurança máxima
A ordem para matar os dois presidiários acusados de planejar o sequestro de autoridades, entre elas o senador Sérgio Moro, foi dada por chefes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) que estão nas ruas. O SBT Brasil traz, com exclusividade, os detalhes do relatório da polícia e o perfil dos matadores.
A investigação sobre as mortes dentro da penitenciária de segurança máxima de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, está detalhada em um relatório de 54 páginas.
O crime foi gravado pelas câmeras do presídio e as imagens mostradas em primeira mão pelo SBT Brasil. A primeira morte aconteceu na cela usada como barbearia. Reginaldo Oliveira de Souza, o Rê, foi assassinado a facadas.
O segundo detento foi morto no pátio, durante o banho de sol. Janeferson Aparecido Mariano Gomes, o Nefo, ainda tentou reagir.
O relatório do delegado Edmar Rogério Dias Caparroz revela o perfil detalhado de mortos e matadores – todos integrantes do PCC.
A decisão de que os presos tinham que ser mortos foi tomada por chefes da facção nas ruas. O crime aconteceu no dia 17 de junho, uma segunda-feira, e a ordem chegou ao presídio dois dias antes, durante a visita, no fim de semana. Os assassinos receberam uma determinação clara: "se não matar, morre".
Foram usados um canivete e uma faca artesanal. A polícia indiciou quatro criminosos:
- Luiz Fernando Baron Versalli, o Barão, de 53 anos - condenado a 69 anos de prisão por latrocínio e três homicídios dentro de penitenciárias. Como detento, ele tem 17 faltas graves no prontuário;
- Jaime Paulino de Oliveira, o Japonês, de 47 anos - pena de 36 anos por roubo e assassinatos, um deles dentro da penitenciária de Araraquara, também no interior. Japonês tem 9 faltas graves na cadeia;
- Ronaldo Arquimedes Marinho, o Saponga, de 53 anos - condenado a 41 anos de cadeia por roubo e assassinato. Já cometeu 83 faltas graves na prisão;
- Elidan Silva Ceu, de 45 anos, conhecido como Taliban - pena de 35 anos por roubo e dois assassinatos, um deles, dentro da penitenciária de Itirapina, no interior paulista. Constam nove faltas graves.
"São presos que a gente fala que têm uma cadeia grande, têm muita anos de pena ainda para cumprir e não têm expectativas de serem postos em liberdade. E eles aceitam essa missão em troco de alguma garantia, alguma benesse na facção, eles ganham dinheiro, uma espécie de aposentadoria que é paga para a família", afirma o promotor de Justiça Lincoln Gakiya.
Nefo e Rê tinham poder dentro do PCC. Eles foram presos pela Polícia Federal, no ano passado, porque planejavam o sequestro de autoridades, a mando da facção. Entre os alvos, estavam o próprio promotor Lincoln Gakiya e o senador Sergio Moro. A missão, porém, não teve sucesso.
Rê foi assassinado também por ter matado um outro integrante do PCC e ficado com a mulher dele. Falta gravíssima no mundo do crime.
As imagens da matança dentro do presídio de segurança máxima de São Paulo escancaram inúmeros problemas. Alguns são apontados há anos pelos funcionários do sistema prisional: o poder crescente do crime organizado, a superlotação, os baixos salários dos agentes penitenciários e um déficit de 11 mil funcionários.
"Nós cuidamos dos portões do inferno para que a sociedade e o cidadão durmam e amanheçam bem, então precisamos que o governo olhe com outros olhos, coloque total efetivo nas unidade e que dê uma reposição salarial digna ao policial penal", afirma Apolinário Gentil Leite Vieira, diretor de saúde do Sindicato Prisional do Estado de São Paulo (Sifuspesp).
Em nota, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) informou que transferiu os acusados para a Unidade Prisional para a Penitenciária I de Avaré e que a contratação de 1.100 policiais penais está em curso.
Veja abaixo a nota completa:
A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) informa que a Penitenciária II de Presidente Venceslau é uma unidade de segurança máxima, com altas muralhas e vigilância armada, sistema de monitoramento por câmeras de vigilância, com abertura e fechamento automatizado de porta de celas, minimizando o contato entre pessoas presas e Policiais Penais. A penitenciária mantém uma Célula do Grupo de Intervenção Rápida com Policiais Penais treinados para contenção de motins e revistas no interior das celas e pavilhões.
A SAP efetivou a transferência dos acusados dos assassinatos no interior da Unidade Prisional para a Penitenciária I de Avaré e está solicitando ao Poder Judiciário a inclusão desses apenados no Regime Disciplinar Diferenciado. Existe uma Apuração Preliminar em andamento para averiguar as circunstâncias desses crimes.
A Pasta ressalta ainda que estão em curso as medidas necessárias a realização de concurso para a contratação de 1.100 Policiais Penais.
