Agiotas ligados ao PCC ofereceram propina para corromper policiais, aponta investigação
Após prisão de conhecido, integrantes do núcleo se mobilizaram para pagar propina. MP investiga quem são policiais envolvidos
Policiais cumpriram nove mandados de prisão e 17 de busca e apreensão contra um grupo criminoso que atuava em cidades da região do Alto Tietê, nos arredores de São Paulo. A “Operação Khalifa” investiga um núcleo de agiotagem liderado por Edson Carlos do Nascimento, o “Kaká”, investigado por integrar o PCC (Primeiro Comando da Capital). Duas pessoas seguem foragidas.
Agentes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) monitoraram as atividades do grupo e descobriram que ele cobrava juros mensais de até 300% para empréstimos, e cobravam de seus devedores com ameaças, violência, sequestro de bens e até recurso ao Tribunal do Crime, como mostrou essa reportagem do SBT News.
Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público de São Paulo e obtida pelo SBT News, a investigação demonstra como a facção tem “diversificado” suas práticas criminosas — indo além de tráfico de drogas e roubos — para lucrar mais e se distanciar da repressão policial. Mas os episódios demonstram que os agiotas também agiram para corromper policiais.
Outubro de 2023. Durante o período em que as atividades foram monitoradas, um conhecido dos integrantes do grupo, identificado como “Juninho”, foi preso por porte ilegal de arma de fogo em Itaquaquecetuba, cidade vizinha de Arujá, que é apontada como residência de Kaká.
Após o ocorrido, “Léo”, interlocutor do líder do núcleo, entra em contato com ele para informar que os policiais responsáveis pela detenção teriam pedido R$ 20 mil para liberar o conhecido. Kaká questiona o prazo para o pagamento e lembra que Léo já está devendo uma quantia para ele. O colega se compromete a devolver a quantia necessária para pagar a propina e soltar Juninho.
Kaká, então, pergunta quem foram os policiais responsáveis pela prisão. Léo não sabe.
Antes de se comprometer com o empréstimo, Kaká pede que ele descubra isso porque, a depender de quem são os agentes, será possível negociar o valor — o que indica uma prática já exercida pelo grupo. Kaká exige de Léo que o valor seja devolvido rapidamente, mas assegura que não cobrará juros do comparsa. Ele consente.
O Ministério Público investiga quem são os policiais envolvidos na trama.
Quem é quem no núcleo
Segundo as investigações, Kaká é o líder do grupo e membro relevante do PCC. Daniel administra os empréstimos e faz a contabilidade dos valores arrecadados e dos juros cobrados. Gordo fazia a cobrança dos devedores. Jonathan era um braço-direito do advogado Marco Antonio Pereira de Souza Bento, o Paçoca, que, de acordo com o MP, é integrante da facção criminosa. Eduardo também faz parte da organização.
Vale lembrar que o Ministério Público apresenta uma denúncia após receber as evidências coletadas pelos policiais. Esse é o segundo passo de uma ação criminal. Agora, a Justiça deve decidir se aceita ou não a denúncia. Em caso positivo, um processo criminal é aberto. Ao final, se chega a uma condenação ou uma absolvição. Até o cumprimento dessas etapas, as prisões dos integrantes do núcleo são temporárias.