Governo do Rio de Janeiro confirma 121 mortos em megaoperação
Durante a manhã, moradores dos complexos do Alemão e da Penha encontraram mais de 70 corpos na área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia

Emanuelle Menezes
O secretário de Polícia Civil do Rio, Felipe Curi, afirmou em entrevista para a imprensa que, até 18h desta quarta-feira (29), 121 mortos deram entrada no Instituto Médico-Legal (IML) Afrânio Peixoto, na região central, no dia seguinte a operação mais letal da história do estado do Rio de Janeiro. Segundo informações da Defensoria Pública do estado, divulgadas às 11h15, são 132 mortos.
Mais cedo, moradores dos complexos do Alemão e da Penha encontraram mais de 70 corpos na área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia. Os corpos, achados ao longo da madrugada desta quarta-feira (29), foram levados para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, no início da manhã.
O ativista Raull Santiago, do Instituto Papo Reto, afirmou nas redes sociais que mais corpos estão sendo encontrados e serão levados para a praça da Penha. "Tem muito corpo e sangue para todo lado. Muito triste", disse em um vídeo nas redes sociais.
Por volta das 8h45, veículos da Defesa Civil Estadual começaram a chegar para realizar a retirada dos corpos do local. Alguns deles estavam decapitados, com tiros na nuca e marcas de facadas nas costas.

O Núcleo de Direitos Humanos da defensoria informou que acompanha os desdobramentos da ação, "com a presença de Defensores Públicos e toda equipe no Complexo da Penha e no IML".
"A Defensoria reforça suas atuações técnicas em diversas frentes, prestando assistência jurídica integral e gratuita tanto aos familiares dos mortos quanto às pessoas presas e atingidas durante a operação. Nossas equipes seguem mobilizadas numa força-tarefa para garantir o respeito às garantias constitucionais, à transparência dos atos estatais e à proteção de populações vulneráveis", disse o órgão em nota.
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) informou que acompanha a situação. Em nota, disse que atua para "assegurar o cumprimento das diretrizes fixadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na ADPF 635, que disciplina operações policiais em comunidades do Estado" e que "técnicos periciais foram enviados ao Instituto Médico-Legal (IML) para a realização de perícia independente, em conformidade com suas atribuições legais."
Operação Contenção
A megaoperação das forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro foi deflagrada na terça-feira (28) nos Complexos da Penha e do Alemão. A ação, parte da chamada Operação Contenção, foi justificada pela necessidade de desarticular lideranças do Comando Vermelho na região. Cerca de 2.500 policiais civis e militares cumpriram mandados de prisão e busca na região. 113 suspeitos foram presos e 118 armas apreendidas.
As equipes encontraram resistência armada intensa: houve relatos de troca de tiros, uso de barricadas incendiadas em vias expressas e ataques com drones por parte de criminosos, com o objetivo de atrasar o avanço policial. Pelo menos quatro moradores ficaram feridos.
O governador Cláudio Castro (PL) classificou a ação como um "sucesso" e disse que as únicas "vítimas" foram os quatro policiais mortos.
A ação é considerada a operação mais letal da história do estado do Rio de Janeiro, ultrapassando a realizada no Jacarezinho, em maio de 2021, que teve 28 mortos, e a operação na Vila Cruzeiro, em maio de 2022, com 24 óbitos. As três aconteceram durante o governo de Cláudio Castro (PL).
O levantamento foi feito pelo Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) da Universidade Federal Fluminense (UFF). Veja o ranking das cinco operações mais letais da história do estado do Rio de Janeiro:
1. Complexo do Alemão e Penha, outubro de 2025: mais de 130 mortos
2. Favela do Jacarezinho, maio de 2021: 28 mortos
3. Vila Cruzeiro, maio de 2022: 23 mortos
4. Vila Operária, Duque de Caxias, janeiro de 1998: 23 mortos
5. Complexo do Alemão, junho de 2007: 19 mortos









