Centro do Crime: Como atuam e quem são os traficantes da Cracolândia de SP
Segundo episódio da série mostra como crime organizado atua na Cracolândia e como a tecnologia ajuda a prender traficantes em flagrante mesmo sem eles portarem drogas
O segundo episódio da série do SBT Brasil “Centro do Crime”, nesta quarta-feira (13), detalha como atuam e quem são os novos traficantes da região central de São Paulo.
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Além disso, com exclusividade, os repórteres Fábio Diamante e Robinson Cerantula mostram a nova estratégia da polícia para combater o tráfico de drogas que abastece a Cracolândia.
Pega-pega
Durante uma ação rotineira da Guarda Civil Metropolitana (GMC) no fluxo de drogas, a peruca de uma mulher chama atenção e os agentes decidem abordá-la. Com ela, foi flagrado pedras de crack, lâminas de aço para cortar a droga, além de notas de baixo valor - um flagrante comum de tráfico na região.
No entanto, um dos principais problemas enfrentado pelos policiais, segundo o delegado Jair Barbosa, acontece quando o suspeito é preso em flagrante por tráfico e, na audiência de custódia, no dia seguinte, é liberado após alegar ser dependente químico, em uma disputa de narrativa entre Polícia e Justiça.
“Você prende o cara como traficante. No dia seguinte ele tá na rua de novo rindo de você. ‘Você me prendeu ontem e eu estou aqui de novo porque a Justiça me liberou porque eu sou usuário e acreditou em mim’”, explica o delegado.
Gravidade do crime
Em uma das prisões do dia a dia da GCM, um dos detidos foi flagrado vendendo fuzis em plena cidade de São Paulo.
Flagrante de tráfico e associação criminosa
Diante da situação, a Polícia Civil passou a investir em equipamentos de segurança eletrônica, como câmeras de boa qualidade, drones e outros sistemas de monitoramento.
Agora, os investigadores veem a região da Cracolândia do céu, mapeiam o fluxo drogas, identificam criminosos e, depois de dias de acompanhamento, conseguem prender um criminoso que, mesmo sem uma única droga no bolso, é detido por associação criminosa.
“Quando o juiz vê as imagens do sujeito traficando pequenas quantidades durante diversos dias, ele chega a seguinte conclusão: ‘Ok, esse é traficante mesmo, vou manter preso’. Eu conseguindo provar isso, mostro que ele faz parte de um modelo de engrenagem muito maior, chamada associação criminosa”, afirma o delegado.
Esta tipificação, artigo 35, tem pena prevista de 3 a 10 anos de prisão e é inafiançável.
Para Ivana David, desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo, a nova forma de enquadrar os traficantes na lei faz parte de uma evolução de investigar pela Polícia, mas também de julgar pelo Poder Judiciário.
“A associação tem um lado da inteligência, tem um lado que tem um controle que o autor do crime faz. A associação prende, por exemplo, aqueles que emprestam dinheiro, aqueles que fazem a contabilidade e que, raramente, andam com um pacote de cocaína na mão. O olhar da Justiça mudou e tem que mudar porque isso não tem volta. Hoje a tecnologia atua em favor do sistema de Justiça”, explica a desembargadora.
Organização do crime
A partir das investigações, a Polícia Civil identificou ao menos quatro cargos dentro da Cracolândia estabelecidos para controlar o fluxo de drogas.
São eles:
O montador de barracas
- Responsável pela montagem e desmontagem das barracas utilizadas para venda de drogas no coração do fluxo da Cracolândia.
O segurança do fluxo
- Responsável por permanecer na entrada, saída e esquinas do fluxo de drogas. Ele não só avisa da aproximação dos policiais, mas também monitora o comportamento dos dependentes químicos que, ocasionalmente, tentam passar a perna no crime.
A mula financeira ou de drogas
- Responsável pelo recebimento das quantias originadas do tráfico e envio em locais determinados para os traficantes. A função também é conhecida como aviãozinho, lagarto e, preferencialmente, exercida por mulheres para evitar suspeitas por parte da Polícia.
O auxiliar e o olheiro do traficante
- Responsável pelo marketing. O olheiro atua na busca por novos clientes, como um funcionário do traficante.
Primeiro episódio
Na primeira reportagem da série, o SBT Brasil mostrou como o tráfico na Cracolândia se alimenta do dinheiro dos lixões.
Seis meses de investigações em sigilo levaram o policiais a descobrirem que dependentes químicos procuram pontos de reciclagem para vender materiais como papelão, alumínio e plástico e, em seguida, usam o dinheiro para a compra de crack.