Aliados de Bolsonaro planejavam destituir e prender Alexandre de Moraes
Investigação da PF mostra que grupo monitorava ministro, a quem apelidou de "Professora"
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, teve os passos monitorados pela Abin paralela do Jair Bolsonaro (PL), segundo as investigações da Polícia Federal que resultaram na operação desta quinta-feira (8).
Moraes era identificado como "professora" nas conversas entre aliados do ex-presidente e passou a ser alvo de ações de arapongagem visando uma futura prisão, segundo os planos de golpe de Estado, delineadas no final de 2022, após a derrotada para o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas.
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É o que revela a investigação da Polícia Federal (PF) que resultou na deflagração da Operação Tempus Veritatis, nesta quinta-feira (8). É a primeira ação dos processos sob relatoria de Moraes no STF - cujos alvos inclui a "milícia digital", o "gabinete do ódio", as "fake news", os "atos golpistas" e a "Abin paralela" - que chega a digitais de Bolsonaro e de comandantes do Exército e outros ministros do governo nos crimes investigados.
Professora
A PF descobriu que nos planos de tentativa de golpe, organizado por aliados e com participação do próprio ex-presidente Jair Bolsonaro, havia a ordem de prisão de Moraes.
O tema foi discutido pelo núcleo duro de Bolsonaro, com militares de alta patente e ministros, dentro do Planalto e do Alvorada. Dentro do plano de anular as eleições de 2022 estava a destituição e a prisão do então presidente do TSE.
A PF descobriu em conversas entre dois assessores diretos de Bolsonaro, ambos militares, que o termo "professora" usado por eles "seria um codinome para a ação que tinha o ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como alvo!.
"A equipe de investigação comparou os voos realizados pelo ministro no período de 14/12/2022 até 31/12/2022, com os dados de acompanhamento realizados pelos investigados. A análise dos dados confirmou que o ministro Alexandre de Moraes foi monitorado pelos investigados, demonstrando que os atos relacionados a tentativa de Golpe de Estado e Abolição do Estado Democrático de Direito, estavam em execução", representação da PF da Operação Tempus Veritatis.
A PF aponta que dois núcleos da "organização criminosa" investigada, teriam atuado diretamente. O núcleo de inteligência paralela e o núcleo de oficiais de alta patente.
Missão Kids Preto
A PF aponta que um núcleo especial do Exército, formado por aliados de confiança de Bolsonaro, seria responsável pela execução da prisão de Alexandre de Moraes, após a publicação do decreto de intervenção no TSE.
A suposta prisão tinha data e o executor, segundo apurou a PF. O general seria o responsável seria Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, alvo das buscas e apreensões nesta quinta.
Moraes também determinou o afastamento das funções do militar. O general é o atual comandante do Comando de Operações Terrestres (COTER) do Exército e responsável pelo emprego do Comando de Operações Especiais (COpESP).
General Theophilo e outros oficiais das Forças Armadas da ativa foram alvos de ordem do STF de afastamento das funções.
"Os elementos probatórios reunidos ao longo da investigação evidenciaram que os investigados se utilizaram diretamente dos cargos públicos que exerciam tanto em ações relacionadas a tentativa de execução do Golpe de Estado, quanto para eximir possível responsabilidade criminal pelos atos até então já realizados. É o caso do general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira", registra o documento da PF.
A PF diz que general Theophilo foi um dos militares que teve reunião com Bolsonaro no Alvorada, no dia 9 de dezembro de 2022. "Teria consentido com a adesão ao Golpe de Estado desde o que presidente assinasse a medida", registram os investigadores, com base nas mensagens encontradas no celular do ex-ajudante de ordem Mauro Cid.
"Nesse sentido, além de ser o responsável operacional pelo emprego da tropa caso a medida de intervenção se concretizasse, os elementos indiciários já reunidos apontam que caberiam as Forças Especiais do Exército (os chamados Kids Pretos) a missão de efetuar a prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes assim que o decreto presidencial fosse assinado", representação da PF da Operação Tempus Veritatis.
O coronel da reserva do Exército Marcelo Costa Câmara é outro nome importante da missão para prender o presidente do TSE, segundo a PF. Um dos assessores mais próximos de Bolsonaro na presidência, que viajou para os Estados Unidos para acompanhar o ex-presidente após a derrota.
Abin paralela
O general seria o "o responsável por um núcleo de inteligência não oficial do Presidente da República, atuando na coleta de informações sensíveis e estratégicas para a tomada de decisão de Jair Bolsonaro".
É Marcelo Costa que foi pego em conversas com Mauro Cid, sobre o plano "Professora" e passando dados do monitoramento de Moraes.
"O acesso privilegiado às informações sensíveis e às circunstâncias identificadas evidenciam ações de vigilância e monitoramento em níveis avançados, o que pode significar que, sobretudo por meio da atuação de Marcelo Costa Câmara, o grupo criminoso utilizou equipamentos tecnológicos fora do alcance legal das autoridades de controle oficiais", registra parecer da Procuradoria Geral da República (PGR).
Outro lado
O ex-presidente Bolsonaro costuma negar que tenha uma Abin paralela, um sistema de monitoramento ilegal de desafetos. Hoje, seu advogado e ex-secretário de comunicação, Fabio Wajngarten, disse que o ex-presidente entregou seu passaporte e que cumprirá a decisão judicial, que determina seu afastamento dos demais investigados. O SBT News não localizou os defensores dos demais citados na reportagem.