Interesse por Venezuela coloca governo Lula em saia-justa
Presidente tem dificuldades internas e externas para apoiar Maduro; pesquisas por país vizinho é maior do que Paris, sede das Olimpíadas
A dificuldade do governo Luiz Inácio Lula da Silva em se posicionar sobre as eleições da Venezuela e a questionada vitória de Nicolás Maduro tem dois motivos: um internacional e outro interno – tanto um quanto o outro colocam o petista numa saia-justa.
O primeiro é a tentativa do brasileiro em se colocar como um ator regional nos conflitos da América do Sul. Caso se posicione a favor do antigo aliado, Lula sabe que vai atrair a insatisfação de aliados na busca pessoal por protagonismo diplomático.
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Os Estados Unidos e a diplomacia comandada por Joe Biden tiveram uma participação ativa nas eleições brasileiras de 2022 ao chancelar de imediato a vitória do atual presidente do Brasil, incluindo recados diretos a eventuais aventuras de militares brasileiros.
O segundo motivo é interno, está relacionado à polarização política entre petistas e bolsonaristas. O termo “Venezuela” é um dos mais buscados por brasileiros desde a suposta vitória de Maduro, ganhando até mesmo de Paris, sede dos Jogos Olímpicos.
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Pesquisa do SBT News no Google Trends, na semana de 28 de julho a 3 de agosto, mostra que o termo “Venezuela” foi duas vezes mais pesquisado do que a capital francesa (ver gráfico), cidade que está no centro das atenções por causa das Olimpíadas.
Grupos bolsonaristas tendem a associar Lula e esquerda brasileira a Nicolás Maduro, o que desgasta o petista em meio a contestações das eleições venezuelanas. Na última quinta-feira, o Brasil assinou uma carta conjunta com a Colômbia e o México pedindo a apresentação das atas eleitorais. Uma semana depois do pleito na Venezuela, o Brasil ainda não se manifestou se é contra ou a favor da eleição de Maduro.
Viagem ao Chile
Lula embarcou ao Chile, neste domingo (4), onde vai se encontrar com o presidente Gabriel Boric na segunda-feira (5). Eles devem assinar 17 acordos bilaterais em diversos campos, como ciência e tecnologia, direitos humanos, segurança cibernética e educação.
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Além disso, é esperado que os dois presidentes conversem sobre a situação na Venezuela, já que o governo chileno também tem questionado a veracidade do resultado que deu a reeleição a Maduro.
Divulgação das atas
Diversas autoridades internacionais de todo o mundo têm pressionado para que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano divulgue as atas eleitorais, que detalham os votos de cada sessão, para comprovar que a vitória de Maduro não foi fruto de uma fraude.
Na quinta (1º), o Brasil divulgou uma nota conjunta com o México e a Colômbia, pedindo a transparência das eleições na Venezuela a partir da publicação das atas. Países europeus também emitiram um comunicado. Os documentos seguem sem ser apresentados.