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Guerra na Faixa de Gaza completa um ano em meio a escalada regional

Além do Hamas, Israel aumentou as hostilidades contra o Hezbollah no Líbano; número de mortos, feridos e afetados pelo conflito segue crescendo

Guerra na Faixa de Gaza completa um ano em meio a escalada regional
Guerra em Gaza começou em outubro de 2023 | Reprodução/Twitter
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Há exato um ano, em 7 de outubro de 2023, o grupo Hamas realizava um ataque armado no sul de Israel, provocando a morte de mais de 1,2 mil pessoas e o sequestro de outras 250. A hostilidade resultou em uma nova onda de instabilidade no Oriente Médio, dando início a uma guerra na Faixa de Gaza, enclave palestino administrado pelos militantes desde 2007.

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O conflito, de fato não começou ali, naquela data de 2023. Desde a criação do estado de Israel, em 14 de maio de 1948, ao Nakba — palavra que significa catástrofe em árabe e é usada para falar da expulsão de 700 mil palestinos do que hoje é Israel e territórios palestinos ocupados —, a região é palco de hostilidades. A história passou ainda por diversos outros capítulos violentos que resultaram em expulsão e morte de civis.

O ataque de 7 de outubro, no entanto, gerou a resposta israelense mais letal já vista no último século na região. A sequência de bombardeios aéreos e de artilharia por terra já deixou mais de 40 mil mortos e quase 100 mil feridos, segundo dados do Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, enquanto 90% da população foi deslocada.

Apesar do alto número de vítimas, o exército israelense disse que suspenderá os ataques apenas quando o Hamas for “completamente destruído”. Para demonstrar apoio ao grupo, o Hezbollah — organização política e paramilitar — tem lançado desde o ano passado mísseis contra o norte de Israel, escalando o conflito para o Líbano, onde o grupo está estabelecido.

A troca de agressões tomou outra proporção após um ataque do Hezbollah atingir uma escola em uma cidade ocupada por Israel e matar 12 crianças. Tel Aviv retaliou com bombardeios no sul do Líbano que levaram à morte de comandantes do Hezbollah.

A crise se agravou ainda mais com a morte da liderança do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã, em ataque que o Irã afirma ter sido de autoria da Mossad (agência de inteligência de Israel). O mesmo foi alegado sobre a explosão de pagers, celulares e walkie-talkies de membros do Hezbollah, que feriram milhares e mataram ao menos 39 libaneses.

O ataque foi seguido de uma incursão aérea de Israel que em duas semanas deixou quase 2 mil mortos e gerou o êxodo de 100 mil libaneses da zona de conflito. Entre os mortos está o comandante Hassan Nasrallah, o homem responsável por transformar o Hezbollah em uma força paramilitar que foi capaz de encerrar a ocupação de mais de 22 anos de Israel no sul do Líbano em 2000 e que lutou contra Tel Aviv na guerra de um mês em 2006.

A ação acabou envolvendo o Irã, apoiador dos grupos extremistas do chamado “Eixo da Resistência”, que lançou cerca de 200 mísseis contra Tel Aviv em resposta à morte de Nasrallah e de outros líderes do Hezbollah. A maioria dos projéteis foi interceptada, mas não impediu Israel de prometer uma retaliação contra o país.

O cenário vem causando preocupação na comunidade internacional, que teme uma escalada total do conflito no Oriente Médio. Bruno Huberman, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, aponta, contudo, que o confronto vem se espalhando regionalmente desde o ataque do Hamas em Israel, com a demonstração de apoio de grupos e governos aliados.

“Eu diria que é uma guerra regional desde o dia em que você passou a ter diversos outros grupos guerreiros que compõem o Eixo da Resistência, dando demonstrações militares de apoio à agressão de 7 de outubro, particularmente o Hezbollah e os iemenitas. O que vemos agora é um escalonamento e um aprofundamento disso”, diz Huberman.

Ele reforça que há uma preocupação com uma resposta de Israel contra o Irã, já que envolveria ataques a pontos de petróleo e, possivelmente, a indústrias nucleares e de enriquecimento de urânio. Além do impacto global, como o aumento da inflação devido ao preço do petróleo, a ação poderia resultar em uma guerra entre Israel e Irã, o que arrastaria os Estados Unidos e outros países para uma participação direta no conflito.

“Os americanos, com o auxílio de Israel, com outros aliados no Oriente Médio, como o Iraque num primeiro momento e a Arábia Saudita num segundo momento, vem buscando enfrentar o Irã desde a revolução de 79. Então, o que a gente pode ver é uma pressão maior sobre o governo iraniano”, explica o professor.

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O cenário ainda poderia enfraquecer o Eixo da Resistência, uma vez que o Irã é o aliado com maior poder econômico e capacidade militar. Huberman aponta que o grupo já vem mostrando menos força do que antes, o que diminuiria ainda mais com o isolamento do Irã. Mesmo que a Rússia decidisse auxiliar o país, a guerra contra a Ucrânia e o aumento das sanções por parte do Ocidente impediria uma defesa mais agressiva.

Sofrimento em Gaza sem fim à vista

Cerca de 90% da população foi deslocada | UNRWA
Cerca de 90% da população foi deslocada | UNRWA

O escalonamento da guerra, com Israel bombardeando três países ao mesmo tempo, não significou uma trégua para a Faixa de Gaza. Alvo de ataques israelenses há 12 meses, o enclave palestino, moradia de 2,1 milhões de palestinos, teve mais de 80% do seu território destruído, e dois terços de seus prédios danificados.

O conflito, segundo um levantamento do Centro de Satélites das Nações Unidas (UNOSAT), já produziu um volume de detritos 14 vezes maior do que o total combinado de todas as guerras dos últimos 16 anos. Ainda de acordo com a ONU, pelo menos 1,9 milhão de pessoas — cerca de 90% da população — em toda a Faixa de Gaza estão deslocadas internamente. Muitas foram deslocadas repetidamente, algumas, 10 vezes ou mais.

A guerra e os subsequentes bloqueios israelenses causaram uma catástrofe humanitária sem precedentes no enclave palestino. Com quase 70% dos campos agrícolas destruídos, praticamente o total da população depende exclusivamente de ajuda humanitária.

De acordo com Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês), em setembro de 2024, uma média de apenas 52 caminhões humanitários entravam na Faixa de Gaza por dia. Bem abaixo da média pré-crise de 500 caminhões por dia útil.

96% da população analisada pelo Ocha foi projetada para enfrentar crises ou piores níveis de insegurança alimentar. Estima-se que 50.000 necessitarão de tratamento para desnutrição aguda em 2024. A situação hospitalar no enclave palestino também é critica, com 96.359 feridos, há somente 17 hospitais parcialmente funcionais em Gaza, enquanto 19 dos 36 hospitais estão fora de serviço.

Em 365 dias, o sofrimento humano em Gaza dividiu a opinião pública e o cenário internacional. Mas, principalmente, revelou uma crise de credibilidade das instituições internacionais que já vinha de anos. É o que explica Huberman.

"O que a gente viu em Gaza revelou, de alguma forma, como o direito internacional ou a ONU, as instituições internacionais, elas são resultado da correlação de poder entre os atores na política internacional. Elas não são atores independentes. A ONU tem a sua autonomia, mas não tem a sua independência total", afirma o especialista.

"Quem manda na ONU são as cinco potências com poder de veto no Conselho de Segurança, que são os cinco ganhadores da 2ª Guerra — Estados Unidos, Inglaterra, França, China e Rússia — e quando o Conselho de Segurança não representa os interesses deles, eles vão lá e passam por cima", completa, explicando que, diante desse impasse, cabe os Estados soberanos fazerem com que o direito internacional seja cumprido.

"Não é somente uma falha do direito internacional, uma falha da ONU, é uma falha de todos os Estados do mundo a agirem para impedir, enfrentar Israel de uma forma verdadeira, de fazer o direito internacional ser cumprido. Então é uma falta de vontade política global, não é somente limitação de poder da ONU, porque a ONU sempre teve um poder limitado, só que agora ficou mais escancarado".

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"O mundo deve agir para pressionar todas as partes envolvidas, particularmente a israelense, que parece ser a mais intransigente no que a gente tem notícia, a interromper as hostilidades militares, um cessar-fogo imediato. Acho que isso ainda deve ser a pauta quando a gente está completando um ano da guerra, do genocídio", completa.

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