Macron pede "aliança ampla" após extrema direita vencer primeiro turno de eleição legislativa na França
Partido de Le Pen obteve 33,1% dos votos, enquanto bloco centrista do atual presidente francês ficou em terceiro lugar, perto de 21%
O partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), da populista Marine Le Pen, venceu o primeiro turno das eleições legislativas na França, nesse domingo (30). Segundo números do Ministério do Interior francês divulgados nesta segunda (1º), a ultradireita obteve 33,1% dos votos para a Assembleia Nacional. A coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP) ficou com 28%, enquanto o bloco centrista do presidente Emmanuel Fracon chegou em terceiro, perto de 21%.
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Mesmo antes dos resultados, Macron afirmou em comunicado que "diante da Reunião Nacional, chegou a hora de uma frente ampla, claramente democrática e republicana para o segundo turno". Franceses voltam às urnas já no próximo domingo (7).
Essa frente envolveria uma associação do centro com a esquerda contra o RN, legenda conhecida por pautas anti-imigração, entre outras bandeiras.
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O líder de um dos partidos da NFP, França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, disse após fechamento das urnas que poderia abrir mão de candidatos se a coligação cair para terceiro lugar no segundo turno, uma maneira de não dividir votos e evitar mais assentos no parlamento para a RN.
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Cenário de "coabitação" no governo
Mesmo com a vitória na eleição parlamentar, antecipada por Macron por causa da derrota para a extrema direita no pleito do Parlamento Europeu, o RN pode não conseguir maioria absoluta no Legislativo francês.
O instituto de pesquisas Ipsos prevê que o partido de Le Pen e siglas aliadas ocupem de 230 a 280 cadeiras — é necessário ter 289 das 577 vagas para assegurar maioria.
A previsão para o bloco de Macron é alcançar de 70 a 100 cadeiras, enquanto a NFP abocanharia de 125 a 165, também segundo o Ipsos.
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Caso a RN assuma maioria no parlamento francês, a França entra num governo de "coabitação", quando presidente e primeiro-ministro são de polos políticos opostos — o atual premiê é Gabriel Attal, aliado do chefe do Executivo.
Em caso de vitória da extrema direita no segundo turno, Macron teria de nomear Jordan Bardella, presidente do RN, como primeiro-ministro, dando ao premiê poder na política interna e espaço para indicar ministros. O presidente continuaria como chefe de Estado.
A última vez que esse cenário se formou foi entre 1997 e 2002, quando a França teve o presidente conservador Jacques Chirac e o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin.
Bardella já declarou que seria "primeiro-ministro de uma coabitação com respeito à Constituição e ao papel do presidente da República, mas inflexível quanto às políticas que vamos implementar".
O RN, por sinal, tem ligações com a Rússia, e isso pode impactar o alinhamento da França com a Ucrânia na guerra em curso no leste europeu. Bardella já defendeu interrupção no envio de armas que possam atingir o país do presidente Vladimir Putin e também se opôs a ajudar ucranianos com tropas militares.
*Com informações da Associated Press