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Exército toma poder em Madagascar enquanto parlamento tenta destituir presidente

Andry Rajoelina fugiu em razão da violência dos protestos que tomam o país africano desde o final de setembro

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Exército Madagascar - Reprodução/Reuters
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O Exército de Madagascar assumiu o controle do país nesta terça-feira (14), segundo o coronel Michael Randrianirina. A decisão das Forças Armadas ocorre em meio ao caos social que atinge a nação africana e à recente fuga do presidente Andry Rajoelina.

Rajoelina deixou o país em razão do aumento das manifestações populares lideradas por jovens da geração Z, que protestam contra a falta de assistência básica e denunciam uma suposta interferência política da França em Madagascar.

Por isso, o cenário é de grande instabilidade e tensão. As manifestações, que começaram no fim de setembro, ganharam força com a adesão de setores das Forças Armadas.

Mesmo no exterior, Rajoelina tenta articular a dissolução do Parlamento, que havia votado a favor de seu processo de impeachment, para permanecer no poder.

"Tomamos o poder", declarou o coronel Randrianirina ao confirmar a intervenção militar. A ação foi motivada pela tentativa do presidente de acabar com outras esferas de poder no país.

Nessa segunda (13), Rajoelina publicou um discurso na internet justificando sua ausência e afirmando que deixou o país por questões de segurança. Segundo ele, a violência das manifestações colocava sua vida em risco.

Siteny Randrianasoloniaiko, líder da oposição no Parlamento, disse à agência Reuters que o presidente fugiu de Madagascar depois que unidades do Exército desertaram e se juntaram aos manifestantes.

Uma fonte militar informou à Reuters que Rajoelina saiu do país em um avião militar francês. A rádio RFI afirmou que o presidente teria fechado um acordo com o líder francês Emmanuel Macron. No entanto, não há manifestação oficial do país europeu.

Do Egito, onde participava da cúpula pela paz na Faixa de Gaza nesta segunda-feira (14), Macron pediu respeito à ordem constitucional em Madagascar.

A União Africana também expressou preocupação e apelou por uma solução consensual entre os civis e militares dentro do marco legal, rejeitando o golpe de Estado.

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Os protestos

Os protestos em Madagascar começaram em 25 de setembro, liderados por jovens da geração Z, que exigem uma solução para os frequentes cortes de energia elétrica, sobretudo na capital, Antananarivo.

O país enfrenta uma grave crise energética, com constantes interrupções no fornecimento de eletricidade. Além disso, apenas 36% da população tem acesso à energia, percentual que cai para 15% nas regiões mais remotas, segundo o jornal El País.

O movimento, que começou com reivindicações por serviços básicos, evoluiu para uma onda de insatisfação generalizada contra o governo.

Os manifestantes também criticam a precariedade dos serviços públicos, o aumento da pobreza e do custo de vida, as dificuldades de acesso à educação e as denúncias de corrupção entre funcionários do governo. Além disso, o grupo protesta contra a influência francesa no país.

Ex-colônia da França, Madagascar tem um histórico de instabilidade política e golpes de Estado desde a independência, em 1960.

O atual presidente, Andry Rajoelina, chegou ao poder em 2009 após um golpe militar. De acordo com El País, ele possui dupla cidadania – é madagascarense e francês –, o que reforça, para parte da população, a percepção de que a França ainda exerce influência econômica e política sobre o país.

Segundo dados da ONU, pelo menos 22 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas desde o início dos protestos. Rajoelina contesta os números, alegando que houve 12 óbitos e que os mortos eram "saqueadores e vândalos".

Para tentar conter a crise, Rajoelina demitiu todo o gabinete de governo, mas a nomeação de um general como novo primeiro-ministro aumentou o descontentamento popular. Agora, os manifestantes exigem a renúncia do presidente.

Geração Z

Os manifestantes afirmaram que se inspiraram em outros movimentos liderados por jovens da geração Z, responsáveis por derrubar governos no Nepal e no Sri Lanka.

Com domínio das ferramentas digitais, essa geração, formada por pessoas nascidas entre 1997 e 2012, tem se destacado como uma nova força política, enfrentando o autoritarismo, a corrupção e as desigualdades econômicas por meio de mobilizações nas ruas.

No Nepal, protestos de jovens contra a censura nas redes sociais e casos de corrupção resultaram na queda do governo do primeiro-ministro Khadga Prasad Oli na semana passada. Manifestantes incendiaram prédios públicos e residências de ministros, o Parlamento foi dissolvido e novas eleições foram convocadas.

A Indonésia também registrou manifestações de grande escala, motivadas pela insatisfação popular com os privilégios concedidos a parlamentares, entre outras críticas. O presidente Prabowo Subianto enfrentou forte pressão e precisou ceder às demandas dos jovens, exonerando ministros e revogando benefícios.

Em Bangladesh, protestos massivos liderados por estudantes, entre julho e agosto de 2024, colocaram fim ao governo de 15 anos da primeira-ministra Sheikh Hasina, que acabou fugindo para a Índia.

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