Classes D e E se preocupam com alimentação saudável, mostra pesquisa
Maioria dos moradores da periferia deixa de lado produtos industrializados em busca de opções mais nutritivas
Simone Queiroz
Victor Ferreira
Trabalho é com a Andreia Nair Leite. Moradora da periferia de Osasco, na Grande São Paulo, ela participa de um projeto social. É vendedora de porta em porta de diferentes produtos fornecidos pela ONG Gerando Falcões a preços mais acessíveis.
Casada e mãe de quatro filhos, também atua como cabeleireira. A prioridade, em casa, é comida farta na panela.
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Nem sempre a geladeira da Andreia tem tudo que ela, o marido e os filhos gostariam, mas isso não significa aceitar qualquer coisa. Para essa família, e tantas outras das classes D e E, comida não é só uma questão de quantidade, mas também de qualidade.
“Hoje vai ter abobrinha, arroz e feijão, e um franguinho desfiado”, conta Andreia sobre o almoço do dia. Mas poderia ser cenoura, alface, acelga, repolho... tudo bem temperadinho e saudável. Tem tudo na geladeira.
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“Não gosto de salsicha, essas coisas de embutido, refrigerante. Prefiro dar coisa saudável, suco natural, suquinho de limão. Eles gostam bastante”, conta.
Andreia está entre os 73% dos brasileiros de menor renda com esse comportamento de consumo. O dado é da pesquisa "Brasil Invisível", que entrevistou quase 2.500 pessoas em todo o país.
O levantamento mostra que o brasileiro de baixa renda segue a mesma tendência de consumo de alimentos com menos açúcar.
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"A gente vê na pesquisa que, cada vez mais, aumenta o acesso à internet. Uma consequência lógica é que vamos ter cada vez mais consumidores bem informados e, felizmente, mais saudáveis também", analisa Fabrício Fudissaku, CEO da Data-Makers, uma das entidades responsáveis pela pesquisa, ao lado da Gerando Falcões e da ESPM.
O grupo social com menor renda apresenta a maior intenção de consumo neste ano. Assim como os mais ricos, esses consumidores também valorizam empresas comprometidas com causas importantes, como os direitos dos idosos, das pessoas com deficiência e o bem-estar dos animais.
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O desafio do país é aproximar cada vez mais essa parcela da população dos meios que transformam a intenção de compra em negócio fechado.
"É caro comprar legume e fruta? É um pouco mais caro", avalia Andréia. "Com menos de 100 reais você não consegue comprar uns legumes, umas frutas. Ou você compra uma coisa, ou compra outra. Compensa? Compensa. A vida saudável é bem melhor".