Economia

C&A, Renner e Riachuelo: qual varejista de moda se saiu melhor em 2025?

Apesar da Selic a 15% ao ano, as ações de Guararapes, C&A e Renner avançaram em 2025, desafiando o cenário adverso ao varejo

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Varejo de moda: valorização na bolsa apesar dos juros altos | Leandro Fonseca/Exame

Em um ano marcado por juros no maior patamar desde 2006, com a Selic em 15% ao ano, as ações de varejistas de moda conseguiram desafiar o ambiente adverso e entregar desempenhos bastante distintos na bolsa brasileira. Entre C&A, Renner e Riachuelo, o destaque absoluto de 2025 ficou com o grupo Guararapes (GUAR3), controlador da Riachuelo, enquanto C&A (CEAB3) também apresentou forte valorização e a Renner (LREN3) teve um avanço mais moderado.

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As ações da Guararapes acumulam alta de 91,70% no ano (contando com distribuição e reinvestimento de dividendos), o melhor desempenho entre as três companhias, até o fechamento do último dia 19 de dezembro. Os papéis da C&A anotavam alta de quase 65%, enquanto a Renner registra valorização de 16,80% no mesmo período.

Os ganhos chamam atenção porque, via de regra, juros elevados funcionam como um freio direto ao consumo, encarecendo o crédito e reduzindo o apetite ao risco dos investidores pelo setor.

Segundo André Mazini, head de research do Citi, o varejo foi o grande destaque negativo da mais recente temporada de balanços, referentes ao terceiro trimestre de 2025, com resultados majoritariamente fracos, ao contrário de outros segmentos mais resilientes da economia.

A principal explicação está no efeito prolongado dos juros elevados, que provocaram uma desaceleração importante e generalizada do consumo.

"Não é só o nível do juro, mas há quanto tempo ele está alto", diz o analista, destacando que o impacto da política monetária se acumula ao longo do tempo e passa a pesar cada vez mais sobre o desempenho operacional das empresas.

Esse efeito já aparece com clareza nos shoppings que funcionam como um termômetro do varejo como um todo, observa Mazini. As vendas nas mesmas lojas (same store sales) desaceleraram de patamares próximos a 12% para cerca de 6%, enquanto os aluguéis seguem elevados por estarem atrelados à inflação.

Para o Citi, essa combinação de vendas mais fracas com custos rígidos é insustentável no longo prazo e tende a pressionar margens, elevar a vacância e limitar uma recuperação mais robusta, mesmo em um quarto trimestre sazonalmente mais forte.

Bem vistas apesar dos desafios

Ainda assim, algumas varejistas conseguiram se manter nas carteiras recomendadas dos grandes bancos ao longo do ano, sustentadas por teses específicas.

Para Ricardo Peretti, estrategista da Santander Corretora, C&A e Renner, por exemplo, figuram entre as preferidas da casa justamente por reunirem características que as diferenciam em um setor cíclico e sensível aos juros.

De acordo com o especialista, apesar da preferência histórica do investidor estrangeiro por setores menos voláteis, como bancos e energia, empresas mais líquidas do varejo, como a Renner, também captaram parte desse fluxo em 2025.

Guararapes lidera com eventos corporativos e destrava de valor

O melhor desempenho do ano ficou com a Guararapes, impulsionada por uma combinação de resultados operacionais e eventos corporativos relevantes. A companhia anunciou recentemente a venda integral do Midway Mall a um grupo de investidores liderado pela Capitânia Investimentos por R$ 1,61 bilhão, sendo R$ 805 milhões pagos à vista e o restante em quatro parcelas anuais, o que repercutiu bem no mercado.

Além do desinvestimento, a empresa comunicou uma distribuição de lucros da ordem de R$ 1,5 bilhão, equivalente a R$ 2,98 por ação, o que representa um rendimento aproximado de 28% com base nos preços atuais.

Para a XP Investimentos, o movimento era aguardado há muito tempo e representa um passo importante para simplificar a estrutura corporativa e reforçar o foco nas operações principais, além de fortalecer a eficiência fiscal diante da possibilidade de maior tributação de dividendos no futuro.

Analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) também veem a Guararapes bem posicionada, destacando o valor da marca Riachuelo, a produção verticalizada e uma das maiores plataformas fintech do setor como vetores de crescimento e expansão de margem. A recomendação de compra foi mantida pelo banco, com as ações negociadas a um múltiplo atrativo de cerca de 9 vezes o lucro projetado para 2026.

Na leitura do Santander, a Riachuelo se enquadra entre as varejistas mais cíclicas, que tendem a se beneficiar de forma mais direta de um eventual ciclo de corte de juros, à medida que a renda disponível aumenta e o consumo de vestuário reage.

A partir de 2026, a Guararapes vai mudar de nome na bolsa e passa se chamar Riachuelo, com o código de negociação RIAA3.

C&A avança com execução consistente

Já a C&A aparece como o segundo melhor desempenho entre as três varejistas analisadas, apoiada em uma sequência consistente de resultados operacionais. No terceiro trimestre de 2025, a companhia registrou lucro líquido de R$ 69,5 milhões, alta de 62% na comparação anual, enquanto o Ebitda ajustado avançou 8,7%, para R$ 321 milhões, com margem de 18,1%.

O trimestre também mostrou melhora relevante na estrutura financeira, com a alavancagem caindo de 1 vez para 0,1 vez e a dívida líquida recuando para R$ 91 milhões. Segundo o Itaú BBA, o fluxo de caixa livre atingiu R$ 231 milhões, mais que o dobro da estimativa inicial, impulsionado por um melhor desempenho do capital de giro.

O Santander destacou o crescimento de 8,1% nas vendas nas mesmas lojas, a expansão da margem bruta e a redução do ciclo de conversão de caixa. O banco manteve recomendação outperform, equivalente a compra, para as ações da C&A, com preço-alvo de R$ 23,70.

Na avaliação de Ricardo Peretti, a C&A é um dos casos mais claros de boa execução no varejo de moda.

"A empresa vem implementando o chamado Projeto Energia, focado em melhorar o sortimento, o fluxo de caixa e a velocidade de renovação das peças nas lojas, e isso já tem trazido resultados", afirma o estrategista do Santander.

"Antes, o benchmark do setor era claramente a Renner, com a C&A e a Guararapes mais atrás. A C&A ainda não alcançou a Renner, especialmente quando olhamos a métrica de vendas por metro quadrado, mas conseguiu reduzir essa distância. A expectativa é que 2026 represente a continuidade do desempenho observado nos últimos dois anos, com a empresa mantendo resultados superiores aos dos concorrentes", acrescenta.

Renner: crescimento mais moderado e aposta no longo prazo

A Renner teve valorização mais contida em 2025. Ainda assim, segue como uma das empresas citadas pelo Santander entre as "queridinhas" do setor, especialmente por sua liquidez, escala e balanço robusto, com posição de caixa líquido.

Relatório recente do Itaú BBA destacou que a companhia decidiu inaugurar um novo ciclo de crescimento entre 2026 e 2030, com aceleração da expansão de lojas e aumento do volume de investimentos, mesmo com uma política de distribuição de caixa mais conservadora do que parte do mercado esperava.

A estratégia envolve crescimento mais forte de receita, ganhos de produtividade e expansão do formato de lojas de rua, ainda em fase de consolidação.

Na avaliação de Peretti, parte da valorização recente das ações do varejo já reflete a expectativa de início do ciclo de corte da Selic no próximo ano.

O estrategista ressalta, no entanto, que mais importante do que o momento exato do primeiro corte será o tamanho do ciclo de afrouxamento da política monetária.

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