Iberia investirá 6 bilhões de euros e Brasil está nos planos, diz diretora
Companhia espanhola estreia rotas de Madri a Fortaleza e Recife neste verão


Exame.com
Nos próximos meses, haverá mais voos da companhia aérea espanhola Iberia chegando ao Brasil. A empresa planeja aumentar em 25% sua capacidade de assentos em trajetos para o país e passará a atender quatro destinos. Além de São Paulo e Rio, há voos para Recife, desde dezembro, e para Fortaleza, em janeiro.
O avanço no Brasil é parte de uma estratégia maior de expansão da empresa, que planeja grandes investimentos para os próximos anos.
"Para o período entre 2026 e 2030, temos uma previsão de crescimento muito forte. Estimamos investir cerca de 6 bilhões de euros, sendo a maior parte destinada à compra de frota, especialmente para longa distância, onde estão nossos mercados da América Latina", diz Sonia Sánchez Plaza, diretora de Impacto Social, Relações Institucionais e Comunicação da Iberia, em conversa com a EXAME.
"Nossa previsão é passar de 47 para cerca de 70 aviões de longo alcance, um aumento de quase 50% na frota. Isso trará novos destinos, mais frequências nas rotas existentes", afirma.
Veja a seguir mais trechos da conversa.
Qual a importância do Brasil para a Iberia?
Para a Iberia, o mercado principal é a América Latina. Somos líderes na conexão da Europa com a América Latina, e isso se deve aos fortes e inegáveis laços culturais, sociais e familiares que existem entre a América Latina e a Espanha.
O mercado brasileiro, talvez por uma menor relação linguística, entre outros fatores, é um mercado em que temos muita força, mas no qual acreditamos que ainda precisamos trabalhar mais. Em 2026, prevemos aumentar, apenas no primeiro semestre do ano, cerca de 25% da nossa capacidade de assentos.
Como vocês avaliam o mercado de aviação no Brasil neste momento e as perspectivas para o próximo ano?
As perspectivas para o Brasil são muito boas. Vemos um grande interesse dos espanhóis em viajar para o Brasil e também oportunidades para que os brasileiros viajem para a Espanha.
Além disso, a Iberia oferece conexões a partir de Madri para muitos destinos europeus, asiáticos e africanos, por meio de acordos com companhias como a Qatar Airways, permitindo viajar praticamente para qualquer lugar do mundo.
A Iberia tem algo muito importante: consistência. Estamos voando para o Brasil há 75 anos, justamente neste ano, assim como para outros países da América Latina. Ao longo desse tempo, houve muitas mudanças políticas e econômicas, tanto na Espanha quanto na América Latina, mas a Iberia sempre manteve suas operações.
As mudanças políticas não afetaram nossa decisão de continuar voando para esses países.
Quais são os planos globais da Iberia para os próximos anos?
Para o período entre 2026 e 2030, temos uma previsão de crescimento muito forte. Estimamos investir cerca de 6 bilhões de euros, sendo a maior parte destinada à compra de frota, especialmente para longa distância, onde estão nossos mercados da América Latina.
Nossa previsão é passar de 47 para cerca de 70 aviões de longo alcance, um aumento de quase 50% na frota. Isso trará novos destinos, mais frequências nas rotas existentes, criação de empregos e geração de riqueza tanto na Espanha quanto nos países atendidos.
Quais as principais razões para este investimento?
A boa situação econômica da Espanha ajuda, mas o crescimento da Iberia está muito ligado ao crescimento de Madri como cidade e região. Madri se tornou um grande polo de atração para latino-americanos, tanto turistas quanto empresários, estudantes e famílias com negócios distribuídos entre os dois lados do Atlântico.
Isso tem impulsionado fortemente a demanda, especialmente nas classes executiva e premium economy. Os viajantes recorrentes, que representam um terço do tráfego, são um segmento em que a Iberia é líder, com mais de 63% de participação de mercado. Esses clientes consideram que o preço do bilhete executivo ou premium vale a pena pelo serviço oferecido.
Sobre o impacto em empregos, a Iberia tem como objetivo não apenas ser economicamente sustentável, mas também gerar oportunidades nos destinos atendidos. Atualmente, a atividade da Iberia no Brasil gera cerca de 17.500 empregos diretos, indiretos e induzidos, sendo aproximadamente 14.000 deles no próprio Brasil, além de uma contribuição estimada de 275 milhões de euros para a economia.
Em toda a América Latina, esse impacto chega a cerca de 120 mil empregos e mais de 1,25 bilhão de euros em geração de riqueza.
O setor aéreo ainda enfrenta dificuldades pelos efeitos da pandemia, como a demora na entrega de aeronaves novas. Isso poderá afetar os planos da Iberia?
Após a pandemia, houve dificuldades para contratação em várias companhias aéreas, especialmente de pilotos, devido à necessidade de treinamento contínuo. Na Espanha, houve mecanismos que permitiram manter os funcionários vinculados às empresas, o que facilitou a retomada das operações.
Atualmente, todas as companhias aéreas enfrentam desafios na cadeia de suprimentos, especialmente na disponibilidade de motores. Esse é um problema global, que afeta revisões e entregas de aeronaves, mas não é exclusivo da Iberia.
O acordo entre a União Europeia e o Mercosul pode ajudar a aumentar o fluxo de passageiros?
Sempre que há mais atividade econômica e comercial, o tráfego aéreo, especialmente de negócios, tende a crescer. O viajante espanhol para o Brasil é majoritariamente turista: cerca de dois terços viajam a turismo, enquanto um terço viaja a negócios, para visitar familiares ou de forma recorrente. Ainda há uma ampla margem de crescimento, e qualquer acordo que fortaleça os laços econômicos é bem-vindo.
Voltando a falar sobre o mercado brasileiro, o crescimento das operações se deve mais a atender os espanhóis que vêm ao Brasil ou aos brasileiros que querem ir à Espanha?
Quando se constrói ou se decide apostar em um destino, é porque se percebe que a demanda é sólida nos dois sentidos. Os aviões vão cheios e precisam voltar cheios. Portanto, vemos potencial em ambas as direções.
O Brasil é um destino de referência para férias dos espanhóis. Talvez ainda pouco explorado por eles, já que tendemos a viajar mais para destinos com maior proximidade linguística ou familiar.
Ainda assim, acreditamos que o Brasil tem enormes possibilidades. Já está vindo um grande número de espanhóis em busca de turismo de praia, gastronomia e lazer, e esse movimento ainda tem muito espaço para crescer. Por isso, vamos apostar e, Recife e Fortaleza, que combinam, para o espanhol, belas praias do Brasil com uma oferta cultural muito atrativa.
Para os brasileiros, há mais interesse em Madri. Barcelona ou também em outras cidades da Espanha ou da Europa?
Madri é a capital onde chegam os viajantes brasileiros, e tem despertado muito interesse recentemente, especialmente entre o público latino-americano. Barcelona é uma cidade de referência na Espanha. A partir de Madri, é possível visitar outras cidades da Espanha, como Barcelona, Sevilha, Toledo, entre outras, ou viajar para outros países.
Existe um produto chamado Stopover, que permite voar para Madri, ficar alguns dias e depois retomar a viagem para Paris ou qualquer outro destino, tanto na Espanha quanto, por exemplo, Tóquio. É possível parar em Madri por até nove dias para fazer turismo ou viajar para outras cidades da Espanha. Esse produto é especialmente utilizado por brasileiros. Cerca de 20% dos clientes do Stopover da Iberia são brasileiros.
Os voos ao Nordeste do Brasil usarão novos aviões, mais curtos?
Utilizamos o avião Airbus A321 XLR. Ele não é tão grande quanto o A350. É um avião de porte médio, que tradicionalmente era usado para voos de curto e médio alcance, mas que, nesse modelo, consegue operar voos para cidades como Recife e Fortaleza.
Esse avião permite operar novos destinos que ainda não têm uma demanda muito grande.
Em Madri e na Espanha, Recife e Fortaleza ainda não são destinos turísticos tão consolidados como Rio de Janeiro ou São Paulo. São cidades conhecidas, mas relativamente novas para o público espanhol. Por isso, vamos iniciar essas rotas com aviões de menor capacidade, o que nos permite atender uma demanda que ainda está se formando.
Esse tipo de avião nos permite apostar em novos destinos sem a necessidade de uma demanda muito elevada desde o início. Além disso, os custos são mais baixos do que operar um A350, pois a utilização da aeronave é mais eficiente e é possível atingir taxas de ocupação mais altas com uma demanda menor.
Esses aviões também permitem, em outros destinos, aumentar frequências. Em alguns casos, não seria possível adicionar outra frequência com um A350, mas pode ser viável com um avião um pouco menor. Para nós, é uma aeronave muito interessante, que torna nossa frota mais versátil e nos permite atender demandas menores com eficiência.
Como tem sido o uso deste novo modelo?
A Iberia foi a lançadora mundial desse modelo, a primeira companhia aérea do mundo a operá-lo, e estamos muito satisfeitos com os resultados. Estamos programando esse avião para rotas nos Estados Unidos e outros destinos. Já estamos operando Boston e Washington, por exemplo. No caso de Washington, antes não tínhamos voos diários porque a demanda não era tão grande. Agora, conseguimos oferecer voos diários e até dobrar frequências, se necessário, sem precisar usar um A350.








