Governo de SP e PF divergem sobre suspeita de envolvimento do crime organizado nos casos de intoxicação por metanol
Governador de São Paulo afirma que uma morte por intoxicação foi confirmada e outros quatro casos seguem em investigação

SBT News
Murillo Otavio
O governo de São Paulo e a Polícia Federal divergem sobre o suposto envolvimento do crime organizado nos casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas. Até o momento, há confirmação de uma morte, e outros quatro casos envolvendo vítimas fatais estão sob investigação.
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Desde a semana passada, o estado de São Paulo está em alerta após o surgimento de diversos casos de intoxicação por metanol, substância que pode levar à morte.
A suspeita de participação do Primeiro Comando da Capital (PCC) surgiu quando a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) divulgou nota levantando a hipótese de que o metanol usado na adulteração de bebidas alcoólicas seria o mesmo importado ilegalmente pela facção para “batizar” combustíveis.
Apesar da suspeita, não há confirmação oficial. Segundo a ABCF, o fechamento recente de distribuidoras de combustíveis ligadas ao crime organizado pode ter provocado a revenda do metanol para destilarias clandestinas e falsificadores de bebidas.
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Augusto Passos Rodrigues, afirmou nesta terça-feira (30) que o órgão vai investigar uma possível ligação entre o crime organizado e a adulteração de bebidas alcoólicas com metanol.
“Entre as razões para a instauração do inquérito em São Paulo está a possível conexão com investigações recentes que fizemos — especialmente no Paraná, que se conectou com outras duas em São Paulo em razão de toda a cadeia de combustível. Uma parte disso passa pela importação de metanol pelo Porto de Paranaguá. Portanto, a necessidade de entrarmos nesse caso se dá por essas razões. A investigação dirá se há conexão com o crime organizado”, declarou.
Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, durante entrevista coletiva do governo federal, a investigação nacional é necessária porque já foram identificados casos de adulteração de bebidas em outros estados além de São Paulo.
O governo paulista, no entanto, diverge da linha de investigação das autoridades federais. Em coletiva horas após a do governo federal, o governador Tarcísio de Freitas afirmou que, até o momento, não há indícios de envolvimento do crime organizado.
"Agora tem esse negócio em São Paulo, tudo o que acontece é PCC. Tem se especulado a participação do crime organizado na falsificação de bebidas. Para deixar claro: não há evidência nenhuma de que haja crime organizado nisso", afirmou.
Tarcísio destacou que a investigação estadual vai se concentrar em identificar a origem das bebidas adulteradas e os fornecedores ou estabelecimentos envolvidos.
Ainda segundo ele, nas últimas semanas, foram apreendidas 50 mil garrafas de bebidas com suspeita de adulteração e, nas operações mais recentes, 15 milhões de selos falsificados.
Medidas do governo de SP
Tarcísio disse que São Paulo tem uma morte confirmada e quatro sob investigação por intoxicação de metanol, sendo quatro na capital e uma em São Bernardo do Campo.
No total, 22 casos de intoxicação estão no radar do governo. Entre eles, 5 estão confirmados, enquanto 17 seguem suspeitos.
"A gente vai fazer a interdição cautelar de todos os estabelecimentos onde houve o consumo dessas bebidas. E a partir disso vamos aprofundar as investigações", afirmou.
O governador disse que a investigação vai focar em descobrir a origem dessas bebidas adulteradas, quem são os fornecedores ou estabelecimentos envolvidos.
O governo de São Paulo realizou uma coletiva de imprensa para detalhar as ações no combate à intoxicação. As medidas anunciadas incluem:
- Criação de um comitê de crise para monitorar a situação no estado;
- Interdição cautelar dos estabelecimentos envolvidos;
- Estabelecimento de dois mecanismos rápidos de denúncia, sendo eles: disque 181 e um canal específico do Procon;
- Estruturação da rede de saúde, com a Secretaria de Saúde orientando as unidades sobre os protocolos de tratamento e atendimento para as pessoas que apresentarem sintomas de intoxicação;
- Reforço da área de comunicação do governo de SP, que vai orientar sobre sintomas e prevenção;
- Operações combinadas entre Secretaria de Fazenda e Polícia Civil.