Consumidores mudam hábitos e bares reforçam confiança após casos de metanol
Suspensão de destilados em clubes tradicionais e estratégias de transparência em bares revelam impacto da crise de bebidas batizadas com metanol

Juliana Tourinho
O brinde já não é mais o mesmo em bares da capital paulista. Na Vila Madalena, reduto boêmio de São Paulo, consumidores têm deixado de lado os destilados e optado por alternativas como chope, vinho e espumante. A mudança de comportamento acontece em meio ao medo provocado pelos casos de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol, substância altamente tóxica.
A empresária Aline Pressan admite que a preocupação alterou suas escolhas: “É uma questão bem séria, bem preocupante, mas hoje a gente acaba optando pelo chope”.
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O clima de desconfiança atinge tanto frequentadores quanto donos de bares. Para não perder a clientela, estabelecimentos passaram a adotar estratégias de credibilidade. Alessandra, proprietária de um bar na zona oeste, senta-se à mesa com os clientes para mostrar a procedência dos produtos. “A cachaça a gente conhece o produtor, o dono da destilaria. Cada garrafa tem código de barras, sabemos a origem e a segurança daquela bebida”, explica.
A iniciativa tem conquistado consumidores. O economista Henrique Machado afirma que continua frequentando o local por confiar na procedência. “Como aqui é um lugar acolhedor e a gente já conhece, ficamos mais tranquilos”.
Outros estabelecimentos adotaram medidas ainda mais duras. Clubes tradicionais, como o Ipê, anunciaram a suspensão temporária da venda de destilados. Garrafas lacradas permanecem guardadas até que as investigações avancem. “O que está em primeiro lugar é a saúde das pessoas. O preço a pagar é muito menor do que qualquer ocorrência dessa natureza”, defende Dirceu Pereira Júnior, dirigente do clube.
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As autoridades de saúde reforçam a recomendação de atenção redobrada quanto à procedência das bebidas. Distribuidores também relatam dúvidas de clientes, mas garantem que só trabalham com produtos fiscalizados e com nota fiscal.
Já o médico sanitarista Gonzalo Vecina é categórico: enquanto não houver a garantia de que toda a produção clandestina foi retirada do mercado, os consumidores devem interromper o consumo de destilados. “Temos que ter certeza de que a bebida adulterada foi localizada e retirada do comércio. Até lá, o risco permanece”, alerta.