Braga Netto: entenda o que levou general à prisão e seu papel na trama golpista
Ex-ministro de Bolsonaro arquitetou a tentativa de golpe e ainda tentou obstruir investigações da PF, segundo o STF
Yumi Kuwano
O general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro de Jair Bolsonaro, foi preso pela Polícia Federal no sábado (14), quando estava sua casa, no Rio de Janeiro. Ele é um militares indiciados pela PF por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
O mandado de prisão preventiva foi expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da PF, e a prisão foi mantida pelo Supremo. Braga Netto tentou obter informações sobre a delação premiada do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) Mauro Cid, por meio do pai do delator, Mauro César Lorena Cid. Essas trocas de mensagens teriam começado em meados de 2023.
O ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro falou com o pai de Mauro Cid com o objetivo de alinhar as versões entre os investigados e controlar as informações que eram fornecidas.
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Na decisão que autorizou a prisão, Moraes transcreveu trechos da delação de Mauro Cid, no dia 21 de novembro, que ainda não haviam sido divulgados, que confirmam a tentativa de Braga Netto de obstruir as investigações e coletar informações sobre sua colaboração com a polícia.
As provas obtidas até então mostram que o ex-ministro teve papel fundamental na trama golpista. O documento ainda revela que Braga Netto teria aprovado o plano elaborado pelo general da reserva Mario Fernandes para matar o candidato a presidente eleito em 2022, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o próprio Moraes, relator do inquérito sobre a tentativa de golpe.
Na delação de Mauro Cid, ele afirma que Braga Netto repassou dinheiro para financiar as ações de forças especiais. “O general repassou diretamente ao então Major Rafael de Oliveira dinheiro em uma sacola de vinho, que serviria para o financiamento das despesas necessárias a realização da operação”, aponta um trecho.
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Desdobramentos
Na tarde de sábado, o Supremo manteve a prisão preventiva do general da reserva Braga Netto após a audiência de custódia. O militar ficará na 1ª Divisão do Exército, na Vila Militar, na zona oeste do Rio — área que já foi chefiada por ele — onde terá direito a uma cela especial.
Por meio de nota, a defesa do general afirmou que não houve qualquer obstrução as investigações e que "se manifestará nos autos após ter plena ciência dos fatos que ensejaram a decisão proferida".
Somente à noite, Jair Bolsonaro se pronunciou sobre o assunto por meio de uma publicação nas redes sociais em que questiona a prisão.
“Há mais de 10 dias o "inquérito" foi concluído pela PF, indiciando 37 pessoas e encaminhado ao MP”, escreveu Bolsonaro. Depois, ele continuou: “Como alguém, hoje, pode ser preso por obstruir investigações já concluídas?”, escreveu o ex-presidente.
Em entrevista coletiva neste domingo (15) após deixar o hospital Sírio-Libanês, onde estava internado, o presidente Lula comentou a prisão de Braga Netto.
"Se esses caras fizeram o que tentaram fazer, eles terão que ser punidos severamente. Esse país teve gente que fez 10% do que eles fizeram e foi morto na cadeia."
O chefe do Executivo disse ainda que não é possível o país aceitar o desrespeito à democracia e à Constituição, e admitir que, "num país generoso como o Brasil, a gente tenha gente de alta graduação militar tramando a morte do presidente da República, tramando a morte do seu vice e tramando a morte do juiz que era presidente da Suprema Corte eleitoral".