Catorze ministros de Lula tiram férias ou licença na reta final da campanha eleitoral
Titulares de ministérios como Educação, Trabalho, Ciência e Transportes aproveitam período fora das funções para reforçar candidaturas de aliados
Guilherme Resck
Doze ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) filiados a partidos políticos marcaram férias para a reta final da campanha eleitoral, e outros dois tiraram licença temporária do cargo no período. Os titulares dos ministérios de Educação, Trabalho, Ciência, Integração, Desenvolvimento Agrário, Pesca, Esporte, Transportes e Agricultura, entre outras pastas, aproveitaram o tempo fora das funções para fortalecer as candidaturas de aliados diretamente nos municípios.
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A campanha das eleições municipais começou no último dia 16 e vai até 5 de outubro, véspera do primeiro turno. Em agosto, os ministros da Educação, Camilo Santana, e do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, ambos filiados ao PT, já haviam confirmado que tirariam férias para ajudar nas campanhas de Evandro Leitão (PT) à prefeitura de Fortaleza (CE) e do deputado estadual Luiz Fernando (PT) à prefeitura de São Bernardo do Campo (SP) — cidade berço do Partido dos Trabalhadores —, respectivamente.
Marinho está de férias de 16 de setembro a 4 de outubro. Nessa terça-feira (1º), por exemplo, anunciou em seu Instagram que percorreu ruas de diferentes bairros de São Bernardo "levando a mensagem do Luiz Fernando". Nos últimos dias, participou de diferentes atos da campanha.
Santana, que está de férias de 23 de setembro a 4 de outubro, já participou de eventos da campanha de Evandro e de outros candidatos no Ceará, como André Barreto Esmeraldo (PT), que está na disputa pela prefeitura de Crato.
A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos (PCdoB), está de férias de 27 de setembro a 4 de outubro e vem ajudando na campanha do vereador Vinicius Castello (PT) à prefeitura de Olinda (PE).
Já o titular da pasta da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes (PSD), que teve férias nos dias 26 e 27 de setembro e está novamente fora das atividades de 30 de setembro a 4 de outubro, tem apoiado campanhas no Amapá, como a de Bala Rocha (PP) à reeleição em Santana; o nome tem o apoio também dos senadores Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso, e Davi Alcolumbre (União-AP).
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), está de férias de 23 de setembro a 6 de outubro, e participou de atos de diferentes campanhas no estado de São Paulo nos últimos dias, como do próprio Luiz Fernando, em São Bernardo, Bete Siraque (PT), candidata a prefeita de Santo André, e Marcelo Oliveira (PT), prefeito de Mauá candidato à reeleição.
Paulo Teixeira é também deputado federal por São Paulo desde 2007. Já foi vereador da capital paulista e deputado estadual de SP.
O ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, também presidente estadual do PSD em Pernambuco, está de férias de 17 de setembro a 4 de outubro. Na última semana, participou, por exemplo, de um ato com Júnior de Irmã Têca (PSD), candidato a prefeito de Itapissuma (PE). André de Paula foi deputado federal por Pernambuco e deputado estadual.
O ministro do Esporte, André Fufuca (PP), por sua vez, está de férias de 23 de setembro a 4 de outubro e vem ajudando candidaturas no Maranhão, inclusive de Dra. Bárbara, candidata a prefeita de Monção que é filiada ao PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro; no último domingo (29), Fufuca participou de um comício em apoio a Bárbara.
Na cidade, o PT, sigla do presidente Lula, faz parte da coligação de Jesiel Lopes de Araújo (MDB). Entretanto, Lula deu liberdade aos ministros do governo para apoiarem os candidatos que desejarem nas eleições municipais de 2024. Fufuca é deputado federal pelo Maranhão desde 2015 e foi deputado estadual.
Os ministros-chefes da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo (PT), e da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta (PT), estão de férias de 30 de setembro a 4 de outubro. O primeiro petista, que já foi deputado federal por Sergipe, além de secretário estadual do Meio Ambiente e secretário de Participação Popular de Aracaju, vem participando de atos de campanhas no território sergipano.
O segundo, que de maio a setembro atuou como ministro-chefe da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, faz o mesmo no território gaúcho. Pimenta é também deputado federal pelo RS desde 2003, e já foi deputado estadual, além de vice-prefeito de Santa Maria (RS) e vereador da cidade.
Em nota à reportagem, a Secom ressaltou que o ministro "está em férias e irá usar esse período — ao qual tem direito, conforme previsão legal — para estar presente na campanha eleitoral do estado do Rio Grande do Sul e para apoiar candidatos a prefeitos e vereadores aliados do governo federal".
Os ministros dos Transportes, Renan Filho, e das Cidades, Jader Filho, ambos do MDB, estão de férias, respectivamente, de 30 de setembro a 4 de outubro e de 1º a 4 de outubro.
Senador por Alagoas desde 1º de fevereiro de 2023, eleito com 845.988 votos em 2022, Renan tem ajudado na campanha do deputado federal Rafael Brito (MDB-AL) à prefeitura de Aracaju, por exemplo. Pesquisa Quaest divulgada em 20 de setembro mostra Brito com 10% das intenções de voto, atrás do atual prefeito e candidato à reeleição, JHC (PL), que aparece com 74%, ou seja, chance de vencer no primeiro turno.
Jader, por sua vez, ajuda campanhas no Pará. Na segunda-feira (30), por exemplo, participou de um comício de Lauro Hoffmann (MDB), candidato a prefeito de Tailândia. O ministro é irmão do atual governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), e filho do senador Jader Barbalho (MDB-PA).
Os titulares de pastas que tiraram licença são Wellington Dias (PT), do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, e Carlos Fávaro (PSD), da Agricultura e Pecuária. O primeiro se afastou do cargo no dia 30 de setembro e se afastará novamente em 4 de outubro, antevéspera do primeiro turno. O ministério não confirma que a licença é para participar da campanha de algum candidato; disse que é para "tratar de assuntos particulares".
Porém, no último final de semana, o petista participou de ato da campanha de Hailton Alves Filho (Solidariedade), candidato a prefeito de Oeiras (PI). Dias é senador pelo Piauí desde o ano passado e foi governador do estado, além de deputado federal pelo Piauí, deputado estadual e vereador de Teresina.
Fávaro, por sua vez, ficou afastado de 25 a 30 de setembro. No último dia 27, participou de caminhada, no centro de Cuiabá, com Lúdio, candidato a prefeito da cidade pelo PT, e a candidata a vice na chapa, Rafaela Fávaro (PSD), filha do ministro.
Pesquisa AtlasIntel divulgada nesta terça-feira mostra Lúdio com 24,3% das intenções de voto, atrás do deputado federal Abilio Brunini (PL-MT), que tem 32,3%. O cenário aponta para possibilidade de segundo turno entre os dois. Fávaro é também senador por Mato Grosso e foi vice-governador do estado.
Por fim, a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara (Psol), estará de férias de 5 a 11 de outubro. A pasta não informou se há um motivo específico para ela tirar os dias de folga, que abrangem a data da realização do primeiro turno.
Porém, no dia 24 de agosto, a ministra, que é deputada federal por SP — eleita com 156.966 votos em 2022 —, participou de comício de Guilherme Boulos (Psol-SP), candidato à prefeitura de São Paulo, em São Miguel Paulista, na capital. Entre os ministros do governo, estiveram presentes também, por exemplo, Fernando Haddad (PT), da Fazenda, e Paulo Teixeira. O presidente Lula também participou.
Pesquisa AtlasIntel divulgada na segunda-feira (30) traz Boulos na liderança das intenções de voto, com 29,4%, seguido pelo ex-coach Pablo Marçal (PRTB), com 25,4%, e o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), com 22,9%.
"Vamos ter que nacionalizar"
Em 8 de dezembro de 2023, em discurso na Conferência Eleitoral PT 2024 Marco Aurélio Garcia, em Brasília, Lula comentou sobre a participação dele, de governadores, parlamentares e ministros na futura campanha eleitoral.
"O único medo que a gente tem que ter é de trair a esperança e a expectativa que o povo brasileiro tem do PT, tem dos nossos aliados e vai ter em vocês quando vocês forem candidatos. Eu não vou poder ir em toda cidade, mas vou em algumas. Eu vou seguir a orientação do GTE [Grupo de Trabalho Eleitoral do PT]", declarou Lula na ocasião.
Ele prosseguiu dizendo que governadores do PT teriam que "andar" e que os senadores e deputados da sigla precisariam circular pelo Brasil e não ficar apenas em seus estados. Os candidatos de Lula, entretanto, mostram dificuldades nas eleições.
"Ou seja, é uma campanha que nós vamos ter que nacionalizar. Os ministros não podem fazer campanha em horário de trabalho. Mas depois das 18h, a gente pode dar um pitaco, a gente pode dar um pitaco quando tiver acabado a jornada da gente."