'Ilhas de floresta' podem recuperar a biodiversidade em monoculturas, aponta estudo na Science
Pesquisa mostra que plantar ilhas de árvores nativas é uma estratégia eficaz para conservar a biodiversidade em regiões de monocultura
O que você precisa saber?
- O emprego de ilhas de árvores nativas é uma estratégia eficaz para conservar a biodiversidade em regiões de monocultura, como em plantações de dendê
- Seis anos após o início do experimento, o estudo identificou quase 3 mil novas plantas; algumas árvores, além de frutificarem, superaram 15 metros de altura
- Ilhas maiores que 400m² e com maior diversidade inicial são fundamentais para conservar espécies nativas que não sobrevivem na matriz agrícola
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Ilhas de floresta são uma estratégia eficaz para recuperar parte da biodiversidade em regiões de monocultura. Quanto maiores e mais diversas as ilhas, maior o número de espécies nativas verificadas em meio a plantações de dendê.
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Publicada na revista Science nesta quinta (14), a conclusão parte de experimento em larga escala conduzido por pesquisadores de instituições como a Universidade de Göttingen (Alemanha) e da Universidade de Jambi (Indonésia).
- Para se ter uma ideia, as áreas com mais de 400 metros quadrados hospedaram 94% das espécies nativas identificadas no estudo.
- Quanto maior a diversidade de espécies plantadas no início do experimento, mais diverso se tornou o ecossistema restaurado.
- Em apenas seis anos, muitas dessas árvores já começaram a frutificar, e algumas superaram 15 metros de altura.
As ilhas de árvores com maior diversidade inicial promovem a regeneração de espécies com diferentes estratégias ecológicas para adaptação e sobrevivência às condições ambientais, fortalecendo o ecossistema e criando resiliência às mudanças climáticas.
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Os cientistas plantaram 52 ilhas de árvores em uma plantação industrial de dendê na ilha de Sumatra, na Indonésia, utilizando um design experimental para testar os efeitos do tamanho das ilhas e da diversidade inicial nos resultados da restauração.
As ilhas foram plantadas com diferentes quantidades de espécies nativas de árvores, variando de nenhuma até seis espécies, em áreas de 25 a 1600 metros quadrados. Após seis anos, o estudo identificou 2.788 novas plantas de 58 espécies e 28 famílias diferentes.
Apesar de os níveis de biodiversidade nas áreas restauradas ainda serem inferiores aos das florestas primárias, cujo valor de conservação é insubstituível, as ilhas de árvores podem catalisar a restauração florestal sem a necessidade de plantio extensivo.
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As conclusões, argumentam os cientistas, são relevantes ao contexto brasileiro — tanto em áreas onde o cultivo de dendezeiros tem avançado, como no Pará, quanto em diferentes tipos de plantações e culturas agrícolas.
Segundo o brasileiro Gustavo Paterno, pesquisador na Universidade de Göttingen e autor principal do estudo, o Brasil poderia adaptar esse método, utilizando espécies nativas e diferentes composições de ilhas de acordo com as especificidades dos biomas brasileiros.
“Por exemplo, a abordagem poderia ser aplicada em plantações de eucalipto, que ocupam grandes áreas na Mata Atlântica, assim como em outras monoculturas importantes, como laranja, café, cana-de-açúcar, e soja”, explica.
Para o pesquisador, o principal benefício dessa estratégia é manter parte da biodiversidade nativa que não consegue sobreviver na matriz agrícola, ampliando a capacidade de conservar a biodiversidade nesses ecossistemas.
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O método também poderia ser utilizado para acelerar a restauração ecológica de florestas nativas em áreas agrícolas abandonadas, aumentando a diversidade funcional do ecossistema, avalia Paterno.
“Essas ilhas funcionam como atratores de biodiversidade; após seu crescimento, as árvores atraem aves e animais frugívoros, que trazem mais sementes e enriquecem a regeneração da vegetação. Com o tempo, essas ilhas podem se expandir e formar uma área florestal contígua, sem a necessidade de plantar árvores em toda a área”, conclui o autor.