Obesidade antes dos 30 aumenta em até 84% risco de morte precoce, alerta estudo
Levantamento analisou informações de 620 mil adultos, com idades entre 17 e 60 anos; veja como prevenir e tratar condição

Wagner Lauria Jr.
Um novo estudo da Universidade de Lund, na Suécia, trouxe um alerta preocupante: desenvolver obesidade antes dos 30 anos pode aumentar o risco de morte precoce em até 84%. Os dados foram apresentados no Congresso Europeu sobre Obesidade, realizado nesta semana em Málaga, na Espanha.
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O levantamento analisou informações de 620 mil adultos, com idades entre 17 e 60 anos. Homens foram acompanhados, em média, por 23 anos, e mulheres, por 12 anos. O resultado? Entre os homens que se tornaram obesos antes dos 30, o risco de morte precoce aumentou 84%. Para as mulheres, o crescimento foi de 79%.
A cada 500 gramas a mais na balança nessa fase da vida, o risco de morte aumentava 24% entre homens e 22% entre mulheres.
Segundo a principal autora do estudo, Huyen Le, o recado é claro:
“Evitar o ganho de peso no fim da adolescência e início da vida adulta pode ter um grande impacto sobre a saúde a longo prazo", ressalta.
Os pesquisadores relacionaram o excesso de peso precoce com doenças cardíacas, vários tipos de câncer e diabetes tipo 2, condições que continuam sendo as principais causas de morte em todo o mundo.
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Mesmo quando a obesidade surge mais tarde — entre os 30 e 45 anos —, o risco de morte precoce ainda aumenta em 52%; e entre 45 e 60 anos, em 25%.
Um problema global (e nacional)
Para especialistas como a professora Tanja Stocks, também da Universidade de Lund, os dados devem servir como um novo chamado à ação:
"Pequenos ganhos de peso nos 20 e poucos anos podem aumentar significativamente o risco de morte se persistirem por anos. Quanto antes se adotar um estilo de vida saudável, maiores as chances de uma vida longa", ressalta,
Já Katharine Jenner, diretora da Aliança de Saúde contra a Obesidade, aponta o dedo para o ambiente alimentar moderno:
"Estamos cercados por promoções de fast food, porções exageradas e produtos ultraprocessados. Décadas de inação governamental contribuíram para esse cenário."
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No Brasil, os dados seguem essa tendência preocupante. Segundo a Pesquisa Vigitel 2023, do Ministério da Saúde, 1 em cada 4 adultos (24,3%) convive com obesidade no país — um crescimento expressivo se comparado aos 13,7% de 2008. Já o sobrepeso atinge 61,4% da população adulta.
A previsão da Federação Mundial da Obesidade é ainda mais alarmante: neste ano, a obesidade pode alcançar 31% da população brasileira adulta, com 68% apresentando sobrepeso — ou seja, quase 120 milhões de pessoas.
Dicas de prevenção e tratamento da obesidade
A obesidade é uma condição multifatorial, que envolve alimentação, genética, fatores hormonais, psicológicos e sociais. Mas há caminhos possíveis para prevenção e controle, como as "canetas" contra a obesidade (veja mais detalhes abaixo).
Veja dicas da nutricionista Bianca Gonçales para uma alimentação equilibrada:
- Priorize alimentos in natura e minimamente processados;
- Evite o consumo excessivo de produtos ultraprocessados, como refrigerantes, biscoitos recheados e embutidos;
- Diminua o consumo de açúcar, gordura saturada e sódio.
"Planejar refeições com antecedência pode reduzir a tentação de recorrer a alimentos menos saudáveis", ressalta Bianca.
Atividade física regular
Mova-se todos os dias: caminhadas, dança, natação, ciclismo, esportes... o importante é manter o corpo ativo.
A recomendação mínima da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 150 minutos de atividade moderada por semana. O cardiologista e membro do Conselho Administrativo da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) Ricardo Pavanello indica a prática de exercícios, sobretudo aeróbicos, para recuperar o condicionamento físico. As atividades devem ser supervisionados por um profissional especializado, que monitore as condições corporais, para que o processo aconteça gradativamente e não ofereça riscos de infarto, por exemplo.
"A falta de exercício leva ao 'descondicionamento físico', ou seja, a incapacidade do coração ou do aparelho circulatório de responder às demandas gradativamente maiores quando se pratica uma atividade física", explica Pavanello.
Ansiedade e depressão podem contribuir para o ganho de peso e estudos mostram que os exercícios podem redução nos sintomas.

"Canetas" contra a obesidade
Para especialistas ouvidos pelo SBT News, as "canetas" contra obesidade representam uma revolução no tratamento da condição.
Mas a nova esperança tem desencadeado uma explosão na busca por esses remédios – muitas vezes sem orientação médica adequada. Mas, assim como outras drogas, eles podem trazer riscos para a saúde quando usados incorretamente, alertam os médicos.
De acordo com o endocrinologista Paulo Rosenbaun, do Hospital Albert Einstein, o uso prolongado das canetas pode trazer efeitos colaterais significativos, daí a necessidade de acompanhamento especializado.
"Os indivíduos mais idosos, por exemplo, podem apresentar osteoporose associada à perda de peso", diz. Na maior parte dos casos, os efeitos colaterais estão ligados ao trato intestinal.
O médico afirma, porém, que o uso não deve ser descontinuado em caso de efeitos colaterais. Cabe ao especialista apresentar soluções e alternativas no decorrer do tratamento.
Segundo Fabio Moura, diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), esses medicamentos foram feitos para terem uma utilização prolongada – mas isso reforça a necessidade de indicação e acompanhamento médicos adequados.