Mais de 1 bilhão de pessoas vivem com transtornos mentais, alerta OMS
Dados também mostram que maioria não recebe o tratamento adequado; veja quais são os sinais de que algo não vai bem e como se cuidar

Wagner Lauria Jr.
Um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) revela um dado preocupante: mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo vivem atualmente com algum tipo de transtorno mental.
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As condições mais prevalentes são ansiedade e depressão e os dados mostram que o acesso ao tratamento ainda é muito desigual: menos de 10% das pessoas com transtornos mentais em países de baixa renda recebem atendimento adequado, enquanto em nações ricas mais da metade têm cuidados de saúde mental.
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Diferenças de gênero
Segundo Mark Van Ommeren, chefe do Departamento de Doenças Crônicas e Saúde Mental da OMS, os transtornos variam também de acordo com o gênero. Mulheres são desproporcionalmente mais afetadas, principalmente por depressão e ansiedade. Já entre os homens, há maior prevalência de casos de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e de uso de substâncias.
Impactos sociais e econômicos
De acordo com os relatórios Saúde Mental Mundial Hoje e Atlas da Saúde Mental 2024, os transtornos mentais são hoje a segunda maior causa de incapacidade a longo prazo, atrás apenas das doenças na coluna. Além disso, somente a depressão e a ansiedade geram um custo indireto de cerca de US$ 1 trilhão por ano à economia global.
A OMS também aponta que o investimento público ainda é insuficiente. Desde 2017, a média dos governos permanece em apenas 2% do orçamento total da saúde destinado à área de saúde mental, sem crescimento mesmo após a pandemia.
No entanto, novamente há uma desigualdade entre os países: enquanto nações de alta renda gastam cerca de US$ 65 por pessoa, países de baixa renda chegam a investir apenas US$ 0,04 por habitante.
Desafio global
O suicídio, com 727 mil mortes registradas em 2021, continua sendo uma das principais causas de morte entre jovens em diferentes contextos socioeconômicos.
A meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é reduzir em um terço o número de mortes por suicídio até 2030. No entanto, no ritmo atual, a redução estimada deve ser de apenas 12%.
Sinais de alerta e prevenção de suicídios
Especialistas em saúde mental ouvidos pelo SBT News reforçam que reconhecer os sinais de risco do suícidio é essencial para agir a tempo. Alguns comportamentos que merecem atenção estão relacionados ao que eles chamam de distress: quando o nível de estresse está acima da média, segundo a psicóloga da USP Liliana Seger.
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O psiquiatra Bruno Brandão ressalta que isso pode ser notado de acordo com o nível de prejuízo que está causando na vida da pessoa.
- Mudanças bruscas de humor, isolamento social e perda de interesse por atividades antes prazerosas;
- Comentários frequentes sobre desesperança, culpa ou desejo de desaparecer;
- Alterações no sono e no apetite, além de queda no desempenho escolar ou profissional.
"O nível de sofrimento. Sempre que o sujeito tiver um prejuízo. Qual? No trabalho, nos relacionamentos, torna-se impossível gerenciar esse sofrimento, que acaba tomando a vida da pessoa", ressalta o psiquiatra.
De acordo Brandão e Liliana, a prática de atividades físicas, como caminhada ou corrida, pode ser tão eficiente quanto remédios antidepressivos, segundo um recente estudo feito por pesquisadores da Universidade de Vrije, de Amsterdã, na Holanda. No entanto, isso não exclui a necessidade de tratamento medicamentoso em alguns casos.
Liliana diz ainda que o simples ato de sair para caminhar pode ajudar no gerenciamento do estresse. Mas faz uma recomendação especial para essa caminhada.
"É preciso estar presente na situação, sentindo os passos, as cores, o verde das árvores se for em um parque. Só de a pessoa subir as escadas, ou caminhar até a esquina respirando e prestando atenção, já ajuda muito. Ficar ruminando os pensamentos não vai ajudar a relaxar e pode ser, inclusive, uma situação que aumenta a raiva e a ansiedade", explica a psicóloga.
Aliado a isso, fazer psicoterapia é recomendado, junto com a diminuição do uso das inúmeras telas que nos cercam, além de priorizar o sono.
De acordo com os especialistas, a prevenção também passa pela redução do estigma em torno dos transtornos psicológicos e o estímulo a vínculos sociais e familiares, além da promoção de campanhas educativas.