Cetamina: o que é a droga que causou a morte de Matthew Perry, ator de Friends
Duas pessoas, incluindo um médico, foram presas durante investigação sobre a morte do artista norte-americano
A investigação sobre a morte de Matthew Perry, ator que interpretou Chandler na série "Friends", acusou cinco pessoas de contribuírem para uma overdose de cetamina do artista, em outubro de 2023. Segundo os promotores, dois médicos e uma traficante, conhecida como "Rainha da Cetamina", forneceram grandes quantidades da droga para Perry, enquanto um amigo e seu assistente pessoal o ajudaram a comprar ou aplicar o anestésico.
+ Duas pessoas são presas por suspeita de envolvimento na morte de Matthew Perry
Matthew Perry fazia um tratamento legal de infusão de cetamina, mas, segundo as investigações, passou a buscá-lo de forma ilegal quando os médicos se recusaram a aumentar a dose do remédio. O assistente do ator, Kenneth Iwamasa, se declarou culpado de uma acusação de conspiração para distribuir cetamina causando morte, e afirmou que injetou cetamina em Matthew – inclusive no dia em que ele foi encontrado morto.
"Não estamos falando sobre tratamento legítimo com cetamina", disse o procurador Martin Estrada. "Estamos falando sobre dois médicos que abusaram da confiança que tinham, abusaram de suas licenças para colocar a vida de outra pessoa em risco".
O que é a cetamina?
A cetamina (escrita também como ketamina ou quetamina) é um fármaco de efeito anestésico, utilizado em humanos durante procedimentos cirúrgicos e como tranquilizante de animais de grande porte, como cavalos. Além disso, é usada como droga recreativa ilícita, por causa dos seus efeitos alucinógenos.
Também conhecida como "Special K", "Key", "Keta" ou "Keyla", a cetamina pode ser inalada, aplicada por meio de injeção ou fumada. Ela é considerada um anestésico dissociativo, ou seja, distorce a percepção da visão e do som, gerando alucinações e tendo potencial sedativo.
A droga "desliga" o usuário e, por isso, é muito utilizada em golpes como o "Boa noite, Cinderela". A cetamina pode dificultar a mobilidade, causar taquicardia e pressão alta, náusea, vômito, depressão, amnésia, alucinações e problemas respiratórios potencialmente fatais.
Em abril de 2022, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) elevou o grau de risco da cetamina, classificando a droga como "psicotrópica" e "sujeita à notificação de receita 'B'". Segundo o órgão, é preciso maior controle e "aperfeiçoamento de medidas de combate ao seu uso irregular/recreativo como droga de abuso".
Segundo laudo toxicológico do The Los Angeles County Medical Examiner's Office, Matthew Perry morreu por causa de "efeitos agudos da cetamina". De acordo com o médico legista, a droga causou em Perry uma superestimulação cardiovascular e depressão respiratória.
A autópsia afirma que o ator estava em terapia de infusão de cetamina, com seu último tratamento ocorrendo apenas uma semana e meia antes de sua morte. O tratamento, porém, não seria capaz de causar a morte do ator.
No Brasil, a morte de Djidja Cardoso, ex-sinhazinha do Boi Garantido, do Festival Folclórico de Parintins, chamou a atenção para a dependência da droga. Ela foi encontrada sem vida na residência onde morava com a família, em Manaus, em 28 de maio. A suspeita era de overdose de cetamina.
A Polícia Civil do Amazonas indiciou 11 pessoas no caso, incluindo a mãe e o irmão de Djidja. Eles vão responder por 14 crimes, dentre eles tortura com resultado de morte e tráfico de drogas.
Uso contra a depressão
A cetamina foi sintetizada há mais de 60 anos, pelo farmacêutico norte-americano Calvin Lee Stevens, para ser usada como anestésico cirúrgico de humanos e também por veterinários. Mas pesquisadores descobriram, nos últimos anos, que o fármaco tem efeito também no combate a sintomas de quadros de saúde mental, como a depressão resistente. Nesses casos, em doses baixas, a droga não produz estado dissociativo.
Segundo a médica psiquiatra Valéria Pereira Silva, cerca de 30% a 40% dos pacientes diagnosticados com depressão podem não responder aos tratamentos convencionais, caracterizando os quadros de Transtorno Depressivo Resistente.
"Porém, os estudos com a cetamina mostram que até 70% dos pacientes resistentes conseguem se beneficiar com esse tratamento, que, além de ser muito mais rápido, também é mais barato que os medicamentos convencionais e apresenta poucas chances de efeitos colaterais", explica a psiquiatra.
Entretanto, a cetamina deve ser usada apenas sob supervisão de um profissional. Isso significa que, após a administração da dose, os profissionais de saúde precisam observar o paciente, verificando os sinais vitais e o estado clínico.
No Brasil, o tratamento de infusão de cetamina é ofertado em grande número de clínicas particulares e em três centros médicos vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS): o Hospital Universitário da Universidade Federal de São Paulo (HU-Unifesp), o Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia (Hupes-UFBA) e o Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago, da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC).